sexta-feira, 6 de novembro de 2015

#50 Insanidade

Insanidade é pensar-se que se é são quando ignoramos quem somos de verdade e acreditamos ser um mero humano calcorreando os caminhos já por outros percorridos, sem nos questionarmos porque o fazemos. É mergulhar nas rotinas e fazer sempre o que já foi feito milhares de vezes e alimentando a insatisfação por não conseguirmos aquilo que tanto desejávamos. Insano é procurar o amor em todos os lados menos no único lugar onde ele se encontra de verdade porque para ir a esse lugar teríamos que mergulhar na essência do que somos, atravessando para lá chegar a escuridão da personalidade ignorada.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

#49 Desconforto

Normalmente ela fugiria de qualquer estranho que se dirigisse a ela e muito mais que lhe dissesse algo parecido com um sermão como aquele que ouvira. No entanto neste caso não havia sentido como uma intromissão, como se fosse uma invasão de alguém estranho tentando falar do que desconhecia. Não sabia como explicar tal sensação, mas para ela as palavras daquele homem, que nunca havia visto antes, faziam pleno sentido. De facto evitava ficar só com os seus pensamentos, evitava mergulhar fundo em si, pois o desconforto que aflorava era de tal intensidade que temia perder-se e não mais regressar.

#48 Sinal

Toda essa profundidade negra que evita lidar dentro de si, é um tumulto à espera de acontecer. Mais cedo ou mais tarde terá de o enfrentar, pois não pode adiar a sua vida colocando-a em suspensão. Por muito que tente encontrar distrações que a levem para longe dessa realidade interna, ela estará sempre ai. E tudo começa por uma simples escolha de se amar, escolha o amor e saberá como lidar com o que quer que esteja ai dentro e que procura evitar. Digo-lhe isto não porque saiba o que é o melhor para si, mas apenas como um sinal. 

#47 Ame-se

Dirigir a palavra a outra pessoa estranha ainda era algo desconfortável para ele, mas neste caso a sua intuição empurrava-o para falar com aquela mulher. Não sabia porquê, mas tinha que o fazer. Ao chegar junto a ela colocou de lado os seus pensamentos de timidez e entregou-se ao momento, permitindo que as palavras encontrassem o seu caminho e fluíssem da sua boca, vindas sabe lá de onde. Começou por pedir desculpa pela abordagem, continuou dizendo “sei que não me conhece de lado algum mas a minha intuição induz-me a partilhar consigo que este é o momento de se amar".

terça-feira, 27 de outubro de 2015

#46 Encontro

O encontro era inevitável, acredite-se ou não no destino, ele tinha de ocorrer. O sofrimento dela era visível à distância, era impossível que não o visse. Agora que estava mais familiarizado com o seu dom de ver os sentimentos, mais em paz consigo mesmo. Escapar à visão de tal negrume, tal volteio de tonalidades de negro, era algo que não era opção. Tinha de lhe dirigir a palavra, sem querer parecer metediço, sentia que era o seu dever falar com aquela mulher que caminhava na sua direção. Algo o puxava para ela, não conseguia desviar a sua atenção desse Ser.

#45 Mundo interior

Era chegada a hora de colocar um fim a essa fuga de si mesma e enfrentar a realidade do seu sofrimento. Ela não acreditava ser merecedora de felicidade. Achava que estava destinada a sofrer, não se achava digna de viver o amor. Tinha que se resignar às vontades dos outros em busca da sua atenção, ainda que essa atenção fosse desprezo e violência. No entanto achava isso melhor que nada, melhor que lidar com esse sofrimento que a consumia por dentro e que não queria enfrentar. Qualquer desconsideração externa era um bálsamo que a afastava do seu sofrido mundo interior. 

#44 Fim inevitável

A sensação de incompletude era constante, ela sentia que lhe faltava algo que a completasse. Até então tinha procurado nos seus relacionamentos encontrar esse algo que acreditava faltar-lhe, no entanto sem sucesso. Os seus relacionamentos terminavam sem que essa sensação fosse preenchida. Sim durante algum tempo a ilusão de plenitude fazia-se sentir, inebriada pela ideia de um amor verdadeiro, que agora sabia que era uma projeção, do seu desejo, na outra pessoa. E quando a ilusão dissipava o vazio batia com força e ai tomava lugar as diferenças, onde os defeitos cresciam a olhos vistos até ao fim inevitável.

#43 Aproveitar ao máximo

Os primeiros tempos foram de difícil adaptação. Estar junto de alguém e conseguir ver aquilo que sentiam, era inicialmente confuso e causador de distração. Assim como ter de lidar com esse tagarelar interno que o julgava constantemente, dizendo que não era normal, que algo de errado se passava e que isso só poderia ser sinal de que estaria para acontecer algum mal. Mas ele foi enfrentando a situação recetivo ao que cada momento lhe trazia, procurava não se perder nos julgamentos e focava-se naquilo que estava a viver. Procurava aproveitar ao máximo, pois não sabia quanto tempo mais iria durar. 

terça-feira, 20 de outubro de 2015

#42 Bailado de cores

A alegria dos outros era muito colorida, um festival de cores inundava o seu campo visual. A pessoa à sua frente ficava toda iluminada, irradiava essa alegria em cores vibrantes que se misturavam e entrelaçavam com quem quer que estivesse perto. Não haviam palavras que pudessem descrever tal sensação de poder ver como o estado de espírito de alguém pode influenciar quem está por perto. O modo como todos se conectam de formas invisíveis ao olho humano comum, mas que agora ele podia testemunhar, em razão do seu dom, desta sua capacidade de ver as emoções. Um bailado de cores.

#41 Aceitar com amor

Após o choque da descoberta da capacidade de ver as emoções dos outros e de como isso lhe surgia nitidamente, sem qualquer esforço da sua parte, sem poder controlar se via ou não. Após toda a resistência inicial e o achar que estaria a enlouquecer, que só poderia ser o sinal de um fim próximo. Veio a entrega, o aceitar daquilo que estava a ocorrer consigo. De nada valia lutar contra as evidências e então decidiu abraçar tal dom, tal capacidade e desfrutar ao máximo aquilo que lhe trazia e o quanto lhe poderia ensinar sobre quem era com amor.

#40 Receios

Estar com uma pessoa e ter a capacidade de ver aquilo que ela está a sentir, e ver aqui é no sentido literal, pode complicar e muito essa relação. Foi isso que aconteceu com ele, desde que descobriu esta sua capacidade visual, não conseguia manter por muito tempo os seus relacionamentos mais íntimos. Primeiro porque não conseguia explicar essa sua capacidade, não tentava sequer contar à sua companheira, tal capacidade. Talvez por medo da sua reação, talvez por medo da exigência que isso traria ao relacionamento. O medo da outra pessoa se achar invadida, analisada, na sua mais intima privacidade.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

#39 Ver as emoções

É estranho olhar a pessoa à sua frente e ver aquilo que ela está a sentir. Literalmente ver, aquilo que ela está a sentir. Ver as emoções da outra pessoa, ver como as sensações se expressam, é algo que altera significativamente a forma como olhamos para essa pessoa, nada fica igual a partir do momento que se pode ver aquilo que o outro está a sentir. 
Ele gostaria que isso nunca tivesse acontecido com ele, preferiria não ter essa capacidade. Estava confuso, havia lutado demasiado contra tais evidências, mas não era possível mais fazer de conta que nada se passava.

#38 Olhar de frente

Quando escolhemos ignorar os sinais que a vida nos dá, para calmamente proceder às mudanças que devemos experimentar, a vida não tem alternativa a não ser ampliar a potência desses sinais. 
E será assim até que não seja mais possível fugir, até que não seja mais possível olhar para o lado e fingir que nada se passa, que não é connosco. 
Ele não foi exceção, por muito que tentasse fazer de conta que nada se passava, as evidências eram cada vez maiores. Qual elefante no meio de uma loja de porcelanas. Era este o momento de a olhar de frente.


#37 Aceitar as mudanças

Pequenos sinais assomavam na sua vida, mas ele preferia ignorar, não valorizar demasiado, porque na realidade ele temia imenso o que isso poderia significar. 
Não tinha coragem de partilhar com mais ninguém aquilo que se passava consigo, aquilo que esses pequenos episódios poderiam significar sobre ele próprio. 
Temia que o considerassem louco, como alguém alienado e ele não conseguia suportar a ideia de ser colocado de lado, de ser catalogado como louco, como demente. 
No entanto a vida não faz julgamentos, ela vai-nos dando pequenos sinais para que possamos em pequenos passos aceitar as mudanças que devemos experimentar e acolher.      

#36 Render-se às evidências

Ele decidiu render-se às evidências, já havia lutado muitas vezes na sua vida contra esta, tentando evitar o inevitável e em cada uma dessas situações acabou por perder, mas só depois de muito sofrimento sentido na sua pele e infligido nos envolvidos. Nada fica incólume quando se luta contra a vontade da vida, pois na verdade esta só quer o melhor para nós, ela sabe o que é o melhor para nós. Mas nem sempre vemos isso, pois não conhecemos o todo que é a nossa vida e quando nos agarramos a pequenas partes da mesma estamos a criar barreiras. 

#35 Tu decides

Mais um dia como outro qualquer, nada de especial era suposto acontecer, no entanto, nada mais ficaria igual. Era um daqueles momentos definidores da tua vida, que mudam tudo, aquilo que tinhas como certo, como garantido deixa de o ser. E só te restam duas alternativas, ou lutas para tentar que tudo permaneça igual, ou então cedes às evidências e permitas que o novo se instale e te leve onde tens de ir. É uma escolha que mais ninguém pode fazer por ti, os outros podem ter muitas opiniões sobre o que é o melhor para ti, mas tu decides.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

#34 Aquele que observava não era ele

Olhando para o ecrã vendo um reflexo das ideias que pululam na mente, sem saber distinguir entre aquilo que é reflexo e o que é projetado. 
Onde começa o real? Interrogava-se. Existiria de verdade o real, ou era tudo ilusão? Resolveu investigar, permaneceu estático, observando os pensamentos que surgiam em catadupa. Mas desta vez não os seguia, apenas reparava como surgiam, acabavam por partir. 
Enquanto observava reparou que havia algo anterior ao que observava. Aquele que observava também não era ele, pelo menos não era apenas isso. Os pensamentos haviam já perdido a sua atenção, estava presente mergulhado no silêncio.

#33 Amigos da Alma

O mundo acabou neste momento. 
Acabou para mim que deixei o mundo dos vivos. Na verdade estou mais vivo agora do que alguma vez estive. Deixei as roupas físicas, livre do peso das memórias limitadas que carregava. 
Entendo agora que todo o sofrimento resultou desse apego às ideias feitas, dessa necessidade de controlo sobre tudo o que era a minha vida e quem dela fazia parte. Na verdade nunca sofri apenas cria na estória desse sofrimento. 
Estou grato a todos quantos me fizeram sofrer, aprendi muito sobre quem sou através deles. Era esse o acordo com esses amigos da alma.

#32 Opiniões

Não sou bom o suficiente para ti, disse-lhe ele. É hora de te libertar das minhas limitações e permitir que encontres a felicidade nos braços de alguém que te faça feliz como mereces. 
Ela respondeu, isso cabe a mim decidir se sou feliz contigo ou não. Se há coisa que aprendi após estes anos todos ao teu lado é que a felicidade nada tem a ver com as pessoas que nos rodeiam e que o maior obstáculo a descobrir a felicidade são as opiniões que criamos sobre as outras pessoas e o que achamos que é o melhor para elas.

#31 O brilho nos seus olhos

Ele via nela a sua fragilidade aparente que os outros tomavam como fraqueza, mas ele sabia que ela era a pessoa mais forte de toda a comunidade. 
Saber ser vulnerável está ao alcance apenas dos fortes. 
Ter a capacidade de ver que o mundo é imenso e sendo nós uma pequena gota desse imenso oceano da vida, de nada serve remar contra a maré, tentando que os outros se comportem como achamos que se devem comportar. 
Ela sabia isso, por isso nunca lhe havia ouvido critica alguma sobre quem quer que fosse. O brilho nos seus olhos eram uma constante.

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

#30 Mão controladora

Tentar forçar a realidade para que seja distorcida a nosso favor, resulta na criação de problemas que aprisionam o sentir. As barreiras castradoras da tua vida, são criadas por ti, ainda que não tenhas consciência disso. De igual modo podes quebrar essas barreiras, fazendo-as desmoronar e levantando do pó dos seus despojos, descobrir o prazer de ser como és. Baixar a mão controladora e abri-la ao que cada momento te presenteia. Sentindo a paz que lateja no teu íntimo e que pacientemente espera por ti, até que estejas preparada para dar asas ao amor perene que és. Tudo passa agora.

#29 Tal como é

Confundir a realidade com a experiência de viver, origina uma ilusão que é verdadeira para quem nela está mergulhado. No entanto nada modifica o essencial. Podemos errar centenas de vezes no desempenho do nosso papel de humanos, que a essência tudo aceita e abraça no silêncio do seu existir. O erro é relevante no despertar desse torpor limitador que embrulha a personalidade que acreditamos ser. Quando o despertar se dá, o que surge não é uma transformação radical, mas apenas uma paz do reconhecimento de que tudo é perfeito tal como é e que não poderia ser de outro modo. 

#28 Limitado nas suas escolhas

Olhar ao espelho e estranhar aquele rosto, mirar sem ver os contornos de uma face que personaliza uma história criada ao longo dos anos e que agora perdeu todo o sentido que antes possuía. O olhar era o mesmo, por trás dos olhos que tudo absorviam e no entanto esse olhar era testemunhado por essa presença constante e silenciosa. No silêncio do existir está a essência que contempla sem manietar a realidade dessa expressão limitada que é o ser humano. Nada é excluído ou sequer preferido, tudo ocorre na essência. Aquele que excluí vive limitado nas suas escolhas. Sendo aceite.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

#27 Base das relações

Não és tu sou eu. Esta é a típica frase daquele que se desconhece e procura no amor romântico quem o complete, e faça feliz. Mas gosta de ir saltando de relação em relação em busca desse amor idílico que tudo possa resolver. A boa notícia, e que é a má também, é que esse amor ideal não existe. Podes estabelecer o maior número de relações, mas enquanto não te comprometeres com a mais relevante relação de todas, aquela que é a base e o cimento de todas as outras relações, nada mudará. E essa relação é a de amor-próprio.

#26 Mirada

Os olhos dele pararam nos dela e não queriam partir, nada mais interessava. Gostaria de poder mergulhar naquele azul céu, ou seria paraíso. Terá cor o paraíso? Questionava-se, se tiver cor, então é aquela a sua cor, de certeza. Ele tinha a certeza que tinha nascido para chegar àquele momento, nada mais faria sentido para lá disso. O tempo continuava em seu redor, menos no caminho daqueles olhares. Não queria sair dali, temia que se desviasse a sua atenção, iria despertar, de um qualquer sonho, mas ele não queria despertar. Apenas desejava congelar aquele momento, aquela ligação para todo sempre.

#25 A vida chamou

Olhava ao seu redor e parecia-lhe que todas as pessoas haviam encontrado o seu lugar, o seu caminho e no entanto ele, continuava sem saber o que fazer. Tinha a sensação de que era um falhado por comparação com aqueles de sua geração. Seria impossível para ele encontrar o seu lugar, interrogava-se e ainda, será que não há propósito algum para a sua existência. Dúvidas essas que o sobressaltavam e preenchiam a sua atenção constantemente. Então levantou-se e continuou caminhando, havia estado demasiado tempo caído nas bermas do mundo. A vida chamava por ele, ainda não acabou o seu tempo.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

#24 Sei isso agora

A vida ao teu lado era perfeita. Sei isso agora, naquele tempo não o sabia. Devia ter-te dado mais valor. Tu fizeste de mim uma melhor pessoa. Sei isso agora, sim tivemos momentos difíceis. Mas mesmo nesses momentos tu soubeste sempre tirar o melhor de mim. Fazias-me ver a realidade das coisas, puxavas-me para a terra e com simplicidade tudo acabava por se resolver, mesmo que os resultados não fossem os desejados eram os necessários, dizias tu. Sei isso agora, mas então não quis saber, não o consegui perceber do mesmo modo que tu. A minha arrogância levou a melhor.

#23 Cuida-te agora

Ela preferia uma mentira em surdina que enfrentar a verdade dos factos. Não sabia porque o fazia. Seria por amor ou por medo? De qualquer forma não estava disposta a arriscar para conhecer a resposta. E então continuava fingindo que não sabia que ele tinha umas “amigas” e procurava ocupar a sua mente apenas na educação e cuidado dos filhos. Até quando seria isso possível? O tempo que fosse necessário. Mal sabia ela que apenas se enganava a si própria. A falta de amor-próprio que cultivava via-se refletido nas suas relações. Sempre foi assim desde os primeiros namoricos. Cuida-te agora.

#22 Rotina

Era mais um dia como outro qualquer que se iniciava. As mesmas rotinas vezes sem conta. A única diferença era que eles mesmos já eram parte dessa rotina, a sua relação era uma mera rotina. O espaço de partilha, o espaço de intimidade e cumplicidade há muito havia dado lugar a outra coisa qualquer que não sabiam explicar. E no entanto continuavam a fazer as mesmas tarefas como se isso os impedisse de ver a realidade que era por demais evidente para cada um deles. Não havia mal nenhum nisso, as relações evoluem e no entanto o amor continuava lá.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

#21 Desistir de ser III

Alívio era o que sentia, uma sensação de leveza. Mais do que leveza a melhor descrição era ausência de peso. Era possível observar aquilo que antes considerava ser quem era, essa personalidade com toda a sua história de vida. Tudo agora fazia sentido, tudo encaixava perfeitamente, tal qual um puzzle bem calibrado. Nada aconteceu fora do seu tempo, cada ação deu origem à ação seguinte e não poderia ter sido diferente e como isso fazia sentido agora. Todas as frustrações, todo o sofrimento sentido, não ocorreram em vão. Mas a sua vida enquanto ser humano ainda não havia terminado. Presente.

#20 Desistir de ser II

Aquilo que partiu foi a ideia de personalidade que ela cria ser e aquilo que ela temia ser o fim, na verdade não era o fim de nada real. Apenas a ilusão de que algo terminava se fez cessar. O Ser que ela era continuava a existir, mudando apenas a amplitude da consciência que tinha de si. Deixando cair as barreiras erguidas pelo medo, ela começava a olhar para si de verdade. O silêncio fazia-se ouvir claramente, ele ocupava todo o espaço, até porque o espaço era apenas um conceito de limite que não existia para lá da crença limitadora.

#19 Desistir de ser

A vida até àquele momento tinha sido muito difícil para ela, tinha sido colocada à prova inúmeras vezes e não aguentava mais, não podia continuar do mesmo modo. Ela desistiu, prostrou-se em silêncio no centro do seu quarto e assim permaneceu por tempo indeterminado. Simplesmente não queria mais saber, a agonia tinha assomado nela e tudo era insuportável. Os meros pensamentos esventravam o seu ser e assim não valia a pena continuar vivendo. Desistiu de qualquer vontade, de qualquer desejo, não sabia mais o que fazer, o que dizer, para onde ir, simplesmente não sabia. Sem noção do tempo, partiu.

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

#18 Só os fortes choram

“Choro para libertar as minhas emoções, não podem ser contidas dentro de mim. O choro lava os sentidos e torna-os livres para o mundo. Sei que dizem que um homem não chora. Se isso é verdade, então não sou um homem. Nem quero ser. Pois Ser algum pode ser impedido de sentir, de expressar as suas emoções. Percebes o que te digo.” “ Sim percebo-te e amo-te mais por isso. És muito homem e fazes de mim uma mulher feliz por estar ao teu lado. Por ver que não tens medo de te mostrares sem defesas. Só os fortes o fazem.”

#17 Fica comigo

“O tempo foi criado para que eu possa cuidar de ti como mereces. Para que eu possa amar cada pedaço teu, visível e invisível. Tu és o sentido da minha vida, foi para isto que nasci, para te conhecer e poder amar. Acordar ao teu lado só é igualado pelo adormecer ao teu lado. Sinto cada palavra que te digo e se achas que exagero, digo-te que são pequenas para descreverem de verdade o que sinto. A eternidade é insuficiente para te amar plenamente, tu és o universo no qual gravito. Quero-me perder nos confins do teu existir. Fica comigo”

#16 Olho para ti

“Quando olho para ti o tempo para. Mergulho nos teus olhos e deixo-me ir, leve e feliz. Sou grato à vida por me ter dado o privilégio de te conhecer e ser correspondido por ti. Posso morrer a qualquer momento, pois nada me pode tirar o que me deste. As memórias foram criadas para celebrar o amor que sinto por ti. Todos os momentos são pequenos para conter o que sinto por ti. Todos os poetas do mundo seriam insuficientes para descrever a tua beleza, que é muito mais que apenas física, ela é química, e todos os outros elementos. ”

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

#15 Umbigo

“Tu mudaste, não eras assim. Eras mais carinhoso, preocupavas-te comigo, agora nem sequer olhas para mim.” Ele respondeu-lhe “fui eu que mudei ou foste tu que mudaste? Se saíres do teu umbigo poderás ver de verdade as coisas como são. Deixa de viver no teu mundo de fantasia e desce à Terra. A vida não é como tu desejas que ela seja.” O silêncio tomou de assalto a sala. Mas os pensamentos fervilhavam na cabeça dela, ‘como ele é capaz de me culpar, eu que tudo fiz por ele. É um ingrato, eu fiz dele o homem que é hoje.’

#14 Sem perdão

Começar de novo é sempre difícil, mas é ainda mais difícil quando se vive agarrado ao passado. Quando os rancores são muitos e constituem uma bagagem pesada que se carrega onde quer que se vá. O peso desse passado esmaga o presente, pois a atenção está sempre centrada no que fizeram, no que poderia ter sido diferente, mas não foi. Ela vivia os dias culpando-o por lhe ter roubado o amor, por lhe ter roubado a vida. Ele era tudo para ela e no entanto escolheu outra, depois de lhe ter levado os seus melhores anos. Ela não lhe perdoava.

#13 Amor doloroso

Ele dizia “perdoa-me, não estava em mim. Sabes como te amo, prometo que isso não se vai repetir”. Ela acabava por perdoar, por querer acreditar que tal não voltaria a acontecer, até porque ele só fazia isso porque a amava, se ela lhe fosse indiferente ele não lhe batia. Foi criada a acreditar que o amor é doloroso, que por vezes trata-nos mal porque nos quer bem. E no entanto voltava a acontecer e ela ia ficando, não sabia o que fazer, não conhecia mais nada, ele era a sua vida, já fazia parte da sua identidade. Descansa em paz.

#12 Diz basta

Chega um momento em que é tarde de mais, sabes que tens de agir, que tens de fazer algo, pois não suportas mais, não podes tolerar mais ser espezinhada, ser destratada, como se de um farrapo se tratasse. Tão ou mais que a violência física, é a violência psicológica continuada, que mais te desgasta. Quanto mais o permites, mais longe de ti estás, deixas de ser uma pessoa, passas a ser um mero adereço que serve para ser jogado ao seu bel-prazer e tu começas a acreditar que mereces isso, que fizeste algo de errado. É hora de dizer basta.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

#11 Folha em branco

Se a vida fossem só palavras ele seria o maior dos poetas, mas quando tocava a lidar com as pessoas, aí as coisas tendiam a complicar-se para ele. Como que perdia o jeito, não sabia como se comportar, onde colocar os braços, que postura ter, o que dizer. Seria tão mais fácil se tudo fosse uma folha em branco onde pudesse bailar a caneta distribuindo a tinta por forma a comunicar os desejos, as emoções, os pensamentos secretos. Esse era o seu espaço natural para se expressar. Mas a vida tinha outros planos, ele é a sua folha em branco.

#10 Escolho acreditar

“Prometo honrar o nosso amor” disse-lhe ele, “cuidando de ti e da nossa relação. Não me deixes cair no esquecimento e abandonado à tentação alheia.” “Quero muito acreditar nas tuas palavras, elas são música para os meus ouvidos, mas já sofri tanto por amor. Não sei se aguentaria mais uma desilusão.” Respondeu-lhe ela. “ Ao teu lado sinto-me completo, sei que sou melhor pessoa. Aconteça o que acontecer, nada poderá mudar isso. Quero cavar as rugas da memória de uma vida cheia ao teu lado.” Retribuiu ele. “Sei que és sincero quando dizes isso, sinto que sim. Escolho acreditar” disse ela.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

#9 Caminhos

O céu está azul, uma imensidão de azul e nada mais. Um vento suave faz-se audível e sentir na pele. Pessoas caminhando, cada uma na sua direção, evitando chocar umas com as outras, num bailado consentido e não ensaiado. Um movimento incessante, uma pressa de chegar a qualquer lado, menos este aqui. E no entanto é aqui que tudo se encontra, mas como estamos a pensar noutro lugar qualquer, deixamos de reparar no aqui. Neste lugar o observador tudo vê, tudo sabe. O silêncio aqui tudo permite, tudo abraça. Não importa por onde vás, todos os caminhos levam até ele.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

#8 Amo isso

“Quero que a vida congele neste momento, estando ao teu lado, tudo é perfeito, nada mais necessito”. Assim pensava ele naquele momento e no entanto acabou, a relação que tinham terminou. O amor é eterno enquanto dura. O segredo está em desfrutar ao máximo de cada momento com desapego. Sabendo que o verdadeiro amor não acaba nunca, ela reside em nós. Cada ser humano é puro amor, ainda que a maior parte não saiba isso, e como tal procura fora de si uma ideia de amor que virá sob a forma de outro ser humano. Que assim seja, amo isso.

#7 Serena

Percorrendo o seu rosto com o olhar, as linhas da vida marcando o seu lugar, completando uma serena beleza de quem está bem consigo mesma. Ela gosta de si como é. Aprendeu a amar aquilo que antes considerava como defeito, aquilo que antes lhe a impedia de viver plenamente, sempre pensando no que os outros diriam dela, do modo como a veriam. Até que descobriu que nunca teve a ver com os outros, mas apenas consigo mesma. Eram os seus julgamentos que a atormentavam, era a sua insatisfação consigo que via projetado nas outras pessoas. No silêncio do Ser reencontrou-se.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

#6 Sozinha

Cansada de procurar, cansada de viver como alguém insignificante, alguém invisível que ninguém parecia reparar. Não fazia falta nenhuma. Que razão tinha para viver. A sua falta não seria notada. Só queria um laivo de atenção, um gesto de amor. Desistiu de tentar. Os dias sucediam-se uns aos outros, sempre iguais. Esqueceu do que procurava. Entregou-se ao silêncio, deixou que este a preenche-se. E o vazio acabou, afinal nunca este vazio. O silêncio sempre esteve lá, segurando a sua mão, apenas o ruído interior a impedia de o sentir. Aquilo que procurava, afinal era ela própria. Nunca mais esteve sozinha.

#5 Busca

Ela só queria alguém que a ama-se, alguém que olha-se para ela com atenção e no entanto esse alguém parecia não existir. Olhava para as outras mulheres ao seu redor e via todas com os seus respetivos companheiros e uma tristeza inundava-a. Dúvidas e mais dúvidas emergiam na sua mente. O que teria de errado? Seria assim tão feia que ninguém a quisesse? Seria assim tão má pessoa que não merecia ter alguém a seu lado? Apenas amor, era o que ela queria, nada mais. Seria pedir muito? Onde quer que fosse estava sempre atenta a ver se o encontrava.

#4 O silêncio sabe

O silêncio revela a verdade e todas as máscaras se desvanecem perante ele. O silêncio é puro e está para lá de qualquer limitação, de qualquer ilusão. O silêncio é anterior àquilo que chamas de vida e continua a existir para lá do fim dessa mesma vida. Nele todas as estórias tem cabimento, nada é excluído, mesmo isso que chamas de vida. Essa ideia de algo que tem início e que vai em crescendo de rotina em rotina, até que termina. Onde cabes tu nessa estória. Será só isso a razão do teu existir? Quem és tu? O silêncio sabe.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

#3 Algo mais



Sentar, fechar os olhos e meditar. Era o que ela queria fazer, era o que lhe diziam ser o melhor para si, uma forma de resolver os seus problemas e andar mais calma. Mas ela não queria andar mais calma, ela queria resolver a sua situação. Queria dar um rumo à sua vida. Queria que esta tivesse significado. Estava farta de ser apenas mais uma peça da engrenagem, fazendo o que era suposto fazer, o que os outros diziam que era suposto fazer. No entanto onde cabia ela, onde estava a razão do seu existir. Teria de haver algo mais.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

#2 Vozes

“Não vales nada, não mereces o ar que respiras. Sem ti o mundo seria melhor.” Impropérios ecoando na sua mente, sem fim, um incessante massacre. Ela queria parar as vozes, elas não lhe pertenciam. Mas tudo era difícil, não sabia como lidar com tais vozes. Seriam elas reais ou apenas fruto da sua imaginação? Estaria ela a ficar louca? Queria refugiar-se, queria encontrar um pouco de paz, mas não tinha como escapar de si própria. Por onde fosse teria de carregar o peso dessas vozes. Sem saber o que fazer desistiu. Deixou de lhes resistir, observava apenas e depois o silêncio.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

#1 Cem estórias,cem palavras

#1
Sem palavras, sem estórias, apenas a vida é real e não aquilo que pensas que é a tua vida. Livrando-te das estórias que crês sobre ti e que alimentas através da tua atenção, descobres o quão perfeita é a vida que acontece momento a momento. Tu és essa vida, em plenitude, tudo existe em ti, nesse imenso espaço, berço das manifestações da essência. Calcorreando as palavras que brotam na tua atenção, observando como surgem e de igual modo, partem. Indo mais além, nada mais existe, senão o silêncio. Silêncio perene envolvido em paz. Residência da essência que és, sem mais.

* primeira de cem estórias com cem palavras

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Caminho

Uma porta que bate, fechando uma realidade até aí conhecida. 
Eras a minha vida. 
Tudo girava em teu torno, o meu mundo pulsava em ti. 
E no entanto partiste. 
Um clarão inundou a minha existência. 
Amorfo, caminho em busca de um rumo. 
Nada faz mais sentido.
As forças abandonam-me aos cuidados da vida. 
Haverá mais vida em mim que mereça ser vivida? 
Não sei, deixei de me interessar. 
Desisto de perceber, entregue à ilusão de te encontrar.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Laughter

   Moment after moment life was passing by her and it was as nothing could be good enough, nothing could be pleasant enough. A sense of disquiet was ever present, but she had no conscious of it. She felted as something was missing and she turned toward relationships in order to fill that lacking. But sooner all ended the same way with her departing. No one understood her, she felted, even life was unfair with her. She only wanted to be happy, was that asking too much?   
- Life is always unfair to the ones that are absent of them selves, this absence is reflected in their daily experience. The sense of lacking is a call for you to wake up, for you to remember who you really are.
This she heard from this guy she encountered at a workshop of personal development that a friend dragged her at. Those words stayed inside her head, She had to know more, she had to find answers to what she was feeling. How could she been absent of her life. Was this really possible? 
She started to read as many books as she could, about spirituality, personal development. She surfed the net, watching videos of this, so called, gurus. Something was different in her, but this sensation of lack was still very present in her. 
She was pilling hours of reading, workshops and practices, but the results were not satisfying. Something was missing still. Was she doing things wrong? Was she condemned to live a unfulfilled life? Those questions keep popping up.
Suddenly all stopped. Because she realized that what she thought she was, was just a story. A non stop story running in the screen of her life. She felted it clearly. And a laughter burst. After all nothing was wrong with her. This "her" wasn't real the way she thought it was before. More laughter.
Then silence took place. This quiet peace filled her and all around her. So simple life is without someone to complicate it. Even that is okay.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Ideas floating in this realm of love

Passing by my life without knowing it, thinking about what I wished it to be and meanwhile it doesn't stop. Life is a continuum, it has no beginning and no end. Only ideas have beginning and end. I realize that when suddenly I was shaken by reality. What I had as granted ended. A job for life, was no more. My second half parted away. Immersed in thoughts, looking  for answers. Trying to understand, trying to make sense out of my situation. It was overwhelming, no way out seemed possible. Then I gave up. Living, like that, was no more an option. But I hadn't the courage to put an end to life. Instead life ended me. The idea of me, anyway. I felted it clearly. It was all an illusion. Reality is as it is, but I wasn't living it. I was living the story of me, this character, a thinking being, believing that was a victim. That no one understood. It became clear then and all faded away.Only silence was there. Unlimited silence. Observing. Being present. It is okay. Life continued, including this character, this body, but without all the whining. Life presented itself as it is, simple, flowing. I was it. I am it. No worries now. I have all the time of the world. Challenges keep coming. Sadness arise sometimes, love it. Happy moments arise sometimes, love it. People liking me, love it. People criticizing me, love it. What is in there not to love. Still much brutality in the world, it is not part of my daily experience, but love is always the answer. Expanding love, elevating the frequency of love, is a great contribute to help others do the same. All just ideas floating in this realm of love, of pure love. 

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Vou por onde a vida me levar

Caminhar pelas calçadas da vida ao teu lado tornou tudo mais simples. Ensinaste-me a conhecer quem sou. 
Levaste-me aos limites. 
Por vezes não te entendi, por vezes discordei de ti e não te vi como tu eras de verdade. 
Estava fixado na ideia que tinha criado de ti. 
Dei-te por adquirida. 
Não te disse vezes, o suficiente, o quanto sentia por ti. 
Sei que agora é tarde. Não me ouves mais. 
Terás sempre mais valor do que eu. 
Eras a melhor parte do meu mundo. Como eu sei isso agora. Mas, sabes quero te dizer que mudei. 
Em vez de me amargurar com a tua ausência, prefiro celebrar o privilégio de ter vivido contigo. 
Recordar os bons momentos e como isso me fez mais humano, mais homem para desfrutar da vida. 
Estou em paz comigo mesmo, posso partir a qualquer momento. 
Vou por onde a vida me levar.

terça-feira, 7 de julho de 2015

Semeando pedaços de ti

O passado é apenas uma história contada no presente. 
Entregues ao passado significa uma presença ausente da vida que és e que é vivida sempre no momento presente, no agora.
Cada vez que pensas sobre o passado, na verdade é apenas uma história criada no presente 
sobre esse passado, 
história essa que é sempre diferente cada vez que a crias.
Serve o passado como uma história de aprendizagem 
para melhor desfrutar do presente
Se te apegas demasiado a essa história,
se deixas que ela limite a tua visão
perdes a beleza imensa do existir
a contemplação da barreira invisível
que te aparenta separar de tudo o resto.
O murmúrio do passado deixa apenas saudade,
saudade essa, mas da vida que deixas de viver
no presente,
mergulhado numa história de um momento
que não pode ser vivido  
deixando de viver o pleno disponível
para amar quem és
amar a vida
olhar o possível
celebrar os sorrisos
embalar as lágrimas
partilhar o que és, semeando pedaços de ti,
nas vidas daqueles que te rodeiam.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

O que sinto por ti

O que sinto por ti não pode ser definido pelo amor. 
Esse conceito está limitado pela dor, está limitado pelo corpo. 
O que sinto por ti transborda a ideia de mim e a ideia de ti. 
O que sinto por ti não pode ser contido no tempo.
A ideia de amor exige do outro aquilo que ele não pode dar e eu de ti nada quero,
o simples facto de existires, completa a minha ideia de felicidade.
Estou realizado, foi para isso que nasci, para experienciar do lado de fora tal sensação.
Este fora que é dentro do existir, pois este é o somatório de pequenos nadas, de pequenos existires convivendo uns com os outros.
Essa ideia de amor romântico é mera distração, uma ilusão do tempo,
para que o tempo te possa contemplar.
O verdadeiro amor permite que fiquemos nus da personalidade,
livres de máscaras, e sermos apenas quem somos.
Sem exigências, sem cedências,
perdidos nos braços do existir,
baloiçando levemente na eternidade.
O que sinto por ti
é vida sendo vivida intensamente
contida toda neste instante perene.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Descanso no puro amor

Nada sou
imerso numa infinidade de possibilidades
diluído num fluído de amor.
essência perfeita
contendo todas as manifestações.
todas as ideias, todas as histórias
caminhando lado a lado com a plenitude
Só descolando das histórias 
posso relembrar quem sou
para lá da ideia de quem sou
Descanso em paz
descanso no puro amor
sou o que sou
livre de questões
encontro-me
encontro-te
nada nos separa
Silêncio
observo
A observação acontece
sem observador
está muito além
Tudo incluído
nesse imenso nada
pois não tem definição
o que se define fica limitado
a essência não tem limites
Palavras
apenas, palavras 

terça-feira, 2 de junho de 2015

Ninguém

Grão na engrenagem de existir
essa história inacabada de alguém que pensa estar vivo
uma ideia imperfeita ocorrendo na perfeição da essência
dia-a-dia caminhando nos limites dessa ilusão,
de um ser pensante que passa pela vida
como sendo algo exterior
como sendo algo que vive apartado
perene procura de si próprio
sempre indo mais longe,
sempre se afastando mais
de onde nunca partiu
O ponto de partida
é o ponto de chegada
Ser perfeito, feito de simplicidade
neste momento único de existir
que é agora
Nada mais há
nem precisa de haver
aqui cabe tudo, cabe o todo
A vida sendo vivida sem ninguém para a viver

terça-feira, 19 de maio de 2015

Vagueando

Este momento é vazio de ideias
apenas o observar está presente
conceitos surgem e partem
personalidade inventada
de uma estória de vida.
Palavras vagueando na mente
vagueando no ar
o vazio de existir
quando cremos nos limites do visível
erro de pensar que erra
no presente o erro não existe
o erro é apenas uma interpretação do passado.
Dançando a vida nos caminhos
tidos, como perdidos
e no entanto, vive
A vida é tudo o que somos
nada mais existe,
por muitas ilusões que se criem,
ilusão continua sendo ilusão
aos olhos da essência.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Pleno de amor caminho

Em cada momento estás sempre presente
perdido por ai, caminhava, procurando
não sei bem o quê 
pensando que quando te encontrasse saberia
No entanto foste tu que me encontraste, 
pois eu já havia desistido de procurar
Queria muito ser como tu
e o mais engraçado
é que não existe um tu ou um eu
Apenas vida, apenas amor
e isso é tudo
nada mais há para lá disso.
Amo-te assim como és
na verdade, és tu que me amas como sou.
O amor mostra quem somos de verdade,
ele é quem somos de verdade,
nada fica de fora
cuido de ti para que me leves contigo
viajando por ai ao sabor do momento.
Obrigado vida por me mostrares quem sou
caminhando lado a lado, relembrando que nunca estive ausente
apenas uma ideia de ausência
iludia a minha mente
olhando para ela descobri a ilusão
e ela cessou.
Pleno de amor caminho,
sendo os passos
sendo o caminho
sendo aquilo que observa.
Puro silêncio vagueando pelo vento.

sábado, 11 de abril de 2015

Não importa como a vida me trata

Não importa como a vida me trata
não quero saber dela, 
deixo-a caminhar só,
neste pedaço de mim.
Observando aquilo que se manifesta
descubro que não tenho limites,
eu sou cada pedaço dessa vida,
nada nela, está longe de mim,
nada nela, me define ou limita.
Não importa como a vida me trata,
porque ela sou eu, também.
Essa vida que me trata mal, afinal
não é a vida, é apenas uma estória,
por vezes mal contada,
por vezes bem encaminhada,
ao sabor do momento
até que fazemos pausa
e a olhamos de frente
olhos nos olhos
Não importa como a vida me trata
tudo está bem, assim como é
A Vida verdadeira cuida de mim
e essa não pode ser definida
nem sequer se chama Vida
ela não tem nome
ela não tem lugar para acontecer
ou tempo de validade,
ela não conhece ponto final
apenas uma virgula
pois tem sempre mais 
,

domingo, 22 de março de 2015

Nutrido em amor

Folha levada pelo vento
Um corpo frágil mergulhado na noite sem fim
A vida flui,
no espaço das ideas, ela continua presente
Tudo envolto em amor, puro amor.
Amor esse, que é muito mais do que se acredita que o amor é.
As regras não limitam o amor,
Este não é exigente, ele não necessita de nada mais,
Só se nota a presença do amor, quando deixamos de o procurar
No silêncio da quietude
Relembras quem és
Tu és amor
Como é bom descobrir o quão livre
Te encontras quando deixas de complicar
Primavera da vida, sucedendo ao inverno da solidão.
Caloroso encontro com a plenitude do Ser.
Amoroso agora
Nutrido em amor.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

O corpo que carregas está quente

O corpo que carregas está quente
é a vida que pulsa em ti
não a desperdices 
procurando esfriar as sensações
as emoções.
O leve bater do coração
acaricia o teu peito
O corpo que carregas está quente
ele embala as tuas ideias
os teus sonhos
Mas tu és maior que os teus sonhos
nenhum sonho é grande o suficiente para te limitar
O corpo que carregas está quente
és tu que o aquece
é o teu amor que lhe dá ninho
Nutres um amor incondicional 
que cuida de cada pedaço teu
Tu és o mundo
Tu és a vida
O corpo que carregas está quente
deixa-o estar
ele é belo como é
e essa beleza não se vê
ela sente-se por dentro.