quinta-feira, 24 de setembro de 2015

#30 Mão controladora

Tentar forçar a realidade para que seja distorcida a nosso favor, resulta na criação de problemas que aprisionam o sentir. As barreiras castradoras da tua vida, são criadas por ti, ainda que não tenhas consciência disso. De igual modo podes quebrar essas barreiras, fazendo-as desmoronar e levantando do pó dos seus despojos, descobrir o prazer de ser como és. Baixar a mão controladora e abri-la ao que cada momento te presenteia. Sentindo a paz que lateja no teu íntimo e que pacientemente espera por ti, até que estejas preparada para dar asas ao amor perene que és. Tudo passa agora.

#29 Tal como é

Confundir a realidade com a experiência de viver, origina uma ilusão que é verdadeira para quem nela está mergulhado. No entanto nada modifica o essencial. Podemos errar centenas de vezes no desempenho do nosso papel de humanos, que a essência tudo aceita e abraça no silêncio do seu existir. O erro é relevante no despertar desse torpor limitador que embrulha a personalidade que acreditamos ser. Quando o despertar se dá, o que surge não é uma transformação radical, mas apenas uma paz do reconhecimento de que tudo é perfeito tal como é e que não poderia ser de outro modo. 

#28 Limitado nas suas escolhas

Olhar ao espelho e estranhar aquele rosto, mirar sem ver os contornos de uma face que personaliza uma história criada ao longo dos anos e que agora perdeu todo o sentido que antes possuía. O olhar era o mesmo, por trás dos olhos que tudo absorviam e no entanto esse olhar era testemunhado por essa presença constante e silenciosa. No silêncio do existir está a essência que contempla sem manietar a realidade dessa expressão limitada que é o ser humano. Nada é excluído ou sequer preferido, tudo ocorre na essência. Aquele que excluí vive limitado nas suas escolhas. Sendo aceite.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

#27 Base das relações

Não és tu sou eu. Esta é a típica frase daquele que se desconhece e procura no amor romântico quem o complete, e faça feliz. Mas gosta de ir saltando de relação em relação em busca desse amor idílico que tudo possa resolver. A boa notícia, e que é a má também, é que esse amor ideal não existe. Podes estabelecer o maior número de relações, mas enquanto não te comprometeres com a mais relevante relação de todas, aquela que é a base e o cimento de todas as outras relações, nada mudará. E essa relação é a de amor-próprio.

#26 Mirada

Os olhos dele pararam nos dela e não queriam partir, nada mais interessava. Gostaria de poder mergulhar naquele azul céu, ou seria paraíso. Terá cor o paraíso? Questionava-se, se tiver cor, então é aquela a sua cor, de certeza. Ele tinha a certeza que tinha nascido para chegar àquele momento, nada mais faria sentido para lá disso. O tempo continuava em seu redor, menos no caminho daqueles olhares. Não queria sair dali, temia que se desviasse a sua atenção, iria despertar, de um qualquer sonho, mas ele não queria despertar. Apenas desejava congelar aquele momento, aquela ligação para todo sempre.

#25 A vida chamou

Olhava ao seu redor e parecia-lhe que todas as pessoas haviam encontrado o seu lugar, o seu caminho e no entanto ele, continuava sem saber o que fazer. Tinha a sensação de que era um falhado por comparação com aqueles de sua geração. Seria impossível para ele encontrar o seu lugar, interrogava-se e ainda, será que não há propósito algum para a sua existência. Dúvidas essas que o sobressaltavam e preenchiam a sua atenção constantemente. Então levantou-se e continuou caminhando, havia estado demasiado tempo caído nas bermas do mundo. A vida chamava por ele, ainda não acabou o seu tempo.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

#24 Sei isso agora

A vida ao teu lado era perfeita. Sei isso agora, naquele tempo não o sabia. Devia ter-te dado mais valor. Tu fizeste de mim uma melhor pessoa. Sei isso agora, sim tivemos momentos difíceis. Mas mesmo nesses momentos tu soubeste sempre tirar o melhor de mim. Fazias-me ver a realidade das coisas, puxavas-me para a terra e com simplicidade tudo acabava por se resolver, mesmo que os resultados não fossem os desejados eram os necessários, dizias tu. Sei isso agora, mas então não quis saber, não o consegui perceber do mesmo modo que tu. A minha arrogância levou a melhor.

#23 Cuida-te agora

Ela preferia uma mentira em surdina que enfrentar a verdade dos factos. Não sabia porque o fazia. Seria por amor ou por medo? De qualquer forma não estava disposta a arriscar para conhecer a resposta. E então continuava fingindo que não sabia que ele tinha umas “amigas” e procurava ocupar a sua mente apenas na educação e cuidado dos filhos. Até quando seria isso possível? O tempo que fosse necessário. Mal sabia ela que apenas se enganava a si própria. A falta de amor-próprio que cultivava via-se refletido nas suas relações. Sempre foi assim desde os primeiros namoricos. Cuida-te agora.

#22 Rotina

Era mais um dia como outro qualquer que se iniciava. As mesmas rotinas vezes sem conta. A única diferença era que eles mesmos já eram parte dessa rotina, a sua relação era uma mera rotina. O espaço de partilha, o espaço de intimidade e cumplicidade há muito havia dado lugar a outra coisa qualquer que não sabiam explicar. E no entanto continuavam a fazer as mesmas tarefas como se isso os impedisse de ver a realidade que era por demais evidente para cada um deles. Não havia mal nenhum nisso, as relações evoluem e no entanto o amor continuava lá.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

#21 Desistir de ser III

Alívio era o que sentia, uma sensação de leveza. Mais do que leveza a melhor descrição era ausência de peso. Era possível observar aquilo que antes considerava ser quem era, essa personalidade com toda a sua história de vida. Tudo agora fazia sentido, tudo encaixava perfeitamente, tal qual um puzzle bem calibrado. Nada aconteceu fora do seu tempo, cada ação deu origem à ação seguinte e não poderia ter sido diferente e como isso fazia sentido agora. Todas as frustrações, todo o sofrimento sentido, não ocorreram em vão. Mas a sua vida enquanto ser humano ainda não havia terminado. Presente.

#20 Desistir de ser II

Aquilo que partiu foi a ideia de personalidade que ela cria ser e aquilo que ela temia ser o fim, na verdade não era o fim de nada real. Apenas a ilusão de que algo terminava se fez cessar. O Ser que ela era continuava a existir, mudando apenas a amplitude da consciência que tinha de si. Deixando cair as barreiras erguidas pelo medo, ela começava a olhar para si de verdade. O silêncio fazia-se ouvir claramente, ele ocupava todo o espaço, até porque o espaço era apenas um conceito de limite que não existia para lá da crença limitadora.

#19 Desistir de ser

A vida até àquele momento tinha sido muito difícil para ela, tinha sido colocada à prova inúmeras vezes e não aguentava mais, não podia continuar do mesmo modo. Ela desistiu, prostrou-se em silêncio no centro do seu quarto e assim permaneceu por tempo indeterminado. Simplesmente não queria mais saber, a agonia tinha assomado nela e tudo era insuportável. Os meros pensamentos esventravam o seu ser e assim não valia a pena continuar vivendo. Desistiu de qualquer vontade, de qualquer desejo, não sabia mais o que fazer, o que dizer, para onde ir, simplesmente não sabia. Sem noção do tempo, partiu.