quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

começar

a luz emanava com uma intensidade que embalava todo o espaço. a paz que se fazia sentir trespassava toda a energia presente. eu estava posicionado no centro da sala, em redor todos os cadeirões de luz dourada estavam já ocupados pelos mestres guardiões da alma. estávamos ali para decidir as experiências que iria passar na minha próxima vida no sonho real, com vista ao meu progresso na ascensão.
primeiro foi analisado o meu percurso na vida anterior e as evoluções que tive. nessa vida passei por bastante sofrimento porque precisava de experienciar a humildade e o saber amar na escassez.
então escolhi uma familia pobre indiana que tinha parcos recursos para a sua sobrevivência, onde desde muito cedo, com três anos, começei a trabalhar para ajudar a sustentar a minha familia, aos dez anos os meus pais morreram num acidente de comboio e eu os meus dois irmãos ficamos orfãos. faziamos o que podiamos para sobreviver. mais tarde já adulto tinha conseguido constituir familia e tinha um trabalho numa fábrica com um salário pequeno que ia dando para alimentar a minha familia.
quando os meus três filhos tinham dois, quatro e seis anos respectivamente a minha mulher morreu de doença súbita e tive de criar sozinho as crianças. mais tarde quando já eram adultos e tinham constituido familia um acidente atirou-me para uma cadeira de rodas, bastante debilitado só vivi mais dois anos nessa vida. em que apesar de todas as desgraças amei e fui amado.
foram atingidas as experiencias que deveria passar permitindo ascender mais um grau na minha evolução.
nesta próxima vida o que me foi proposto seria experienciar a capacidade de ajudar os seres humanos a expandir as suas consciências e a regressarem á sua essência, tendo contudo de saber suportar e superar as resistências que iria encontrar. teria de ser transparente e inspirador na mensagem que iria levar ás pessoas, para que estas vissem quem verdadeiramente eram.
foram ainda apresentadas as almas irmãs que iriam relacionar-se comigo ao longo da próxima vida e como desenrolaria essas relações, algumas tinham como tarefas colocar-me em situações bastante complicadas. fazia parte das suas experiências de vida para puderem evoluir.
foi assim que escolhi uma familia de um país chamado portugal.
com tudo acertado com os mestres guardiões da alma fui dispensado para me preparar para reincarnar novamente. esse processo passava por ser colocado numa cápsula de luz que ocultava da consciência humana todas as memórias da alma para que não viesse a interferir nesta vida que estava prestes a começar.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

acordar

tenho a sensação de ter estado a dormir durante muito tempo, na realidade julgo que ainda não despertei.
viver neste mundo, neste planeta que chamamos de terra.
assistir ao modo como os humanos se relacionam entre si e com a natureza, só me leva a pensar que vivemos num sonho real.
sim, porque os sonhos são reais enquanto estamos a vivenciá-los e não nos dá-mos conta que são irreais. esses sonhos resultam da nossa criação, existem na nossa mente e são projectados na envolvente.
por isso, vendo como as pessoas se tratam umas com as outras, só pode ser irreál.
porque se a natureza nos ensina que estamos todos ligados, estamos conectados. como é possivel maltratarmo-nos tanto assim, esquartejarmos pedaços de nós. destruirmos a nossa casa, o nosso abrigo, a nossa fonte de alimento.
sermos mesquinhos com coisas tão banais. lutarmos pela posse de bens materiais, numa escalada sem fim ou melhor nesta realidade tem um fim que é a morte. se isso é assim qual é o objectivo?
qual é o propósito?
por isso tenho a certeza que isto é um sonho real, mas felizmente estou a começar a acordar.
os meus olhos estão a abrir-se e começo a ver, a realmente ver.
e como é bela a visão
e como é boa a sensação
e como sou feliz
sim, despertei
só posso ter despertado, esta sensação que me preenche está para lá de qualquer limite.
não tem limites físicos, nem temporais.
este vibrar não pode ser sonhado, logo só pode ser real.
é a minha essência.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

ouvem-se passos apressados, depois o estrondo de uma porta a bater.
faz-se silêncio durante uns segundos e então eleva-se no ar um soluçar sôfrego e um choro compulsivo, intercalado por objectos a cair. isto dura alguns minutos, não sei dizer quantos ao certo, talvez 5. depois a quietude expande-se tomando conta de todo o espaço.
estava eu a descansar e novamente sou interrompido, desta vez é um cão a ladrar.
e como ladra este cão, mas não se limita a ladrar parece que está a saltar e a arranhar uma porta de forma furiosa, porque é bastante audível. de repente uma pancada é percéptivel seguida de um ganido e por fim volta o silêncio.
mas é por pouco tempo, desta vez são gemidos que penetram, e aqui a expressão até é feliz, o éter. estes gemidos tem algo de sinfónico, parece que seguem uma cadência tipo cavalo a trote. bom o cavalo terá soltado as rédeas e a cama estará a pagar as culpas, pois bate furiosamente contra a parede. por fim um grito intenso terá sido a meta desta cavalgadura desenfreada.
volta o sossêgo.
é sol de pouca dura, não sei o que se passa hoje para estes lados. será da lua cheia? ou também é da crise. o certo é que algum iluminado ligou a sua aparelhagem de música e está a debitar décibeis para toda a visinhança ouvir. e não discuto gostos musicais, mas o género popular a esta hora não é muito agradável.
o melhor é sair daqui, vou dar uma volta pelo bairro. este condominio hoje não está pelos ajustes.
fazer a minha meditação caminhada, embrenhar-me nos meus pensamentos e viajar pelos sentidos da minha alma.