segunda-feira, 30 de setembro de 2013

#8 Reflexo

A Sara queria mais, muito mais, aquilo que ela tinha como a sua realidade, aquilo que era a sua vida, já não lhe servia mais; ela sentia que já sofrera de mais, estava cansada de nada dar certo, ela considerava que não havia sentido na sua vida, que era um desperdício cada golfada de ar que lhe cabia, pois achava que em nada estava a contribuir para a humanidade. Ela pensava que se desaparecesse ninguém daria pela sua falta, porquê, era a palavra que lhe inundava os pensamentos, porquê...porquê. Encolhida no seu canto entregue aos seus pensamentos, tomara uma decisão de saber mais, iria estudar, ler, procurar pelas respostas que lhe aliviasse as duvidas, as dores que lhe feriam a alma; ela queria encontrar o seu lugar, será que havia um lugar para ela, questionava-se. Começou assim a ler todos os livros que podia sobre desenvolvimento pessoal, de espiritualidade, de bem estar, de filosofia, religiosos; começou a frequentar workshops dentro dessas temáticas. Foi desse modo alterando o seu estilo de vida de acordo com os conhecimentos que ia adquirindo e no entanto a cada novo livro, a cada workshop, das respostas que ia obtendo várias duvidas novas surgiam, o que a levava ao livro seguinte, à formação seguinte. Num ciclo interminável e numa insatisfação que era apenas temporariamente apaziguada, durando apenas enquanto duravam os efeitos imediatos dessas ações que frequentava, e no entanto os efeitos esfumavam-se e as duvidas profundas do porquê, afloravam à superfície. Será que havia uma resposta? Será que ela poderia entender ou teria que se resignar a sofrer, a apenas existir reclusa das suas duvidas.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

#7 Reflexo

A Sara encetaria a sua jornada em busca das respostas às suas duvidas, procurava uma apaziguamento com a sua identidade, com a sua realidade, ela não se conformava mais com aquilo que a vida lhe havia dado até então, julgava-se merecedora de saber mais, pelo menos de conhecer os porquês de todas as dificuldades, porque tudo lhe parecia demasiado difícil de alcançar, porque teria o sofrimento de a acompanhar no seu quotidiano. Nada na sua vida parecia resultar,a nível profissional não encontrará ainda o seu rumo, não se revia na normalidade aceite como factual, de ter de trabalhar apenas para pagar as contas; interrogava-se qual o sentido de desperdiçar uma vida humana fazendo uma tarefa por obrigação com vista a prover as despesas que haviam sido incutidas pelo desenrolar autómato de uma sociedade desprovida de sentido.As pessoas sacrificam a sua saúde em prole de um suposto futuro melhor, em prole de uma velhice a salvo de qualquer sobressalto, esperando que ai chegados pudessem gozar um pouco a vida, e no entanto desgastavam-se irremediavelmente e quando chegam a essa idade dourada, as condições para usufruírem desse bem estar retemperador, raramente ocorrem.. Ela lembra-se dos diálogos tidos vezes sem conta com a sua mãe, chamando-a à atenção de que teria de fazer algo na vida, teria de ter um emprego, como todos os demais.Dizia-lhe a mãe, filha o que será de ti, assim sozinha e sem emprego, sabes bem que eu e o teu pai já não vamos para novos, não te poderemos ajudar para sempre, não temos heranças para te deixar, como será a tua vida; Se ao menos te casasses, sempre terias quem te pudesse ajudar, poder-se-iam confortar um ao outro e cuidarem da vossa vida; Assim fico preocupada por ti filha, vê bem que todas as tuas amigas já são casadas e tem filhos, umas tem os seus empregos ou então os seus maridos tem cargos importantes que as permitem dedicarem-se às suas crianças; É o que desejo para ti,filha, que resolvas a tua vida. A Sara já conhecia todos esses argumentos, eram-lhe relembrados vezes sem conta e no entanto ela pensava para si, não foi por falta de tentativas, pois os três relacionamentos sérios que teve até à data terminaram todos de modo semelhante, com ela sendo vítima da subjugação do outro, ela considerava que não estava a viver por si, mas apenas em função do outro, achava que perdia a sua personalidade no meio da relação; no início tudo corria às mil maravilhas, tudo era cor-de-rosa, o companheiro era a sua cara metade, a pessoa que a fazia sentir-se completa, sentir-se plena e no entanto passado algum tempo como que um véu caía e a realidade se modificava, onde antes tudo era perfeito agora surgiam os defeitos, desde pequenas coisas como simples gestos, ou expressões ganhavam um peso que impediam de ver o outro como a sua cara metade e tornavam o relacionamentos cada vez mais penoso, entrava-se na fase do "tu mudaste, no início não eras assim" e as desavenças vão-se avolumando, as brechas aumentando até se tornarem intransponíveis. E ai os relacionamentos terminavam, os dois primeiros por iniciativa deles,neste último por sua iniciativa.Isso acontecia como que a dar razão ao que a mãe lhe dizia desde nova, que os homens não são de confiar, que eles são uns egoístas, que o que eles querem é uma mulher para ser empregada deles, que só fazem o que querem. 

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

#6 Reflexo

As duvidas só são duvidas porque mergulhamos nelas, acreditamos nelas e por si só não teria mal nenhum, se ficássemos por ai, mas a verdade é que não ficámos. Quando surgem as duvidas partimos de imediato em busca das soluções, queremos entender, perceber, saber os porquês. E queremos sempre encaixar tudo isso nos padrões de normalidade que reconhecemos, abominamos o desconhecido, temos pavor ao anormal. Anormal é tudo aquilo que seja diferente daquilo que nos habituamos a conceber como real, como sendo aquilo que deve de ser e no entanto quantos de nós já parou para se interrogar, quem decidiu primeiro o que é normal; por exemplo quem decidiu que as cores tem os nomes que tem, o azul é azul, o verde é verde e todas as outras cores e tonalidades, porque alguém se lembrou de lhes dar esses nomes, se por exemplo em vez de azul, esse alguém se lembrasse de chamar essa cor de "num" então a cor seria "num". E isto aplica-se a todas as outras coisas daquilo que nos habituamos a chamar de vida, nós vivemos estes conceitos que criamos sobre aquilo que a vida é, mas não vivemos a vida como ela é de verdade. E dentro desses conceitos surge cada um de nós, uma mera personagem, uma mera caixinha que aparece na realidade, nessa tela que é a vida. Sendo isso verdade, pois quem poderá saber o que é a verdade, quando se vive nos limites de um conceito, dentro de uma caixa não se vislumbra o horizonte na tua totalidade. Não só não vemos a totalidade como achamos que podemos controlar a nossa realidade, numa espécie de ditadura do "achismo" achamos que sabemos o que é o melhor para nós, fazemos planos para tudo e mais alguma coisa, planos esses que vamos abandonando com grande velocidade, na medida que fazemos novos planos. E assim vamos vivendo a nossa vidinha, num bailado de caixas, num emaranhado de conceitos tentando convencer-se uns aos outros que o seu é melhor do que o do outro. Tudo isso faz-nos meros sonâmbulos caminhando numa passada larga rumo a um fim anunciado, ainda que sem data final. Haverá algum sentido nisto tudo? Ou o sentido é que cria a duvida para que a duvida se desfaça?

terça-feira, 24 de setembro de 2013

#5 Reflexo

Sara refletindo.Olho à minha volta e aquilo que vejo, aquilo que nos acostumamos a chamar de vida, acontece; as pessoas andam de um lado para o outro, perdidas nos seus pensamentos, representando o seu papel de marionetas numa sociedade desigual, numa sociedade separada de si mesma. Aqui é cada um por si, apenas os mais fortes sobrevivem, se evidenciam e subjugam os outros à sua vontade, cremos na escassez, a partilha só faz sentido se implicar um ganho superior de volta.Fomos ensinados a acreditar que ninguém dá nada a ninguém, que não há almoços grátis.Mas terá de ser assim? Resume-se a isto a nossa vida como seres humanos?Procurei sempre agradar aos outros e no entanto o resultado tem sido ficar sozinha.A culpa só pode estar em mim, que fiz de errado para que isso aconteça, quando olho à minha volta só encontro provas do meu fracasso.Não tenho uma família minha, aos 32 anos, começo a achar que vai ficando tarde para que isso venha a ocorrer. A nível profissional estou desenquadrada da normalidade, não tenho um emprego, nem sequer aquilo que chamam de trabalho; a maior parte das pessoas da minha idade ganham o seu dinheiro nos seus empregos e trabalhos, ainda que precários alguns deles, aquilo que recebem vai para pagarem casa, carro e alimentação,tentando juntar algum para a semana de férias;mas eu estou fora desse circuito, não sei qual o meu papel nesta sociedade. Estarei ficando louca?Sinto-me perdida, nada faz sentido, tudo me parece pequeno, tudo me parece limitado.Como se tivesse asas, mas estas tivessem presas, sem espaço para as abrir e voar.Será isto viver? A angustia que me envolve, que mergulha nas minhas entranhas, em cada pedaço de mim.Será isto vida?Tem de haver algo mais, recuso-me a aceitar que seja apenas isto, que todo este processo, desde o nascer ao morrer, se limite apenas a isto. Que sentido faz viver numa espécie de piloto automático, em que é esperado que tenhamos todos o mesmo tipo de percurso.A cada duvida assomavam mais duvidas, mais perguntas e as respostas não surgiam. Sara queria viver, queria saber mais.

Rastejando


Rastejando pela vida aceitando ser menos do que somos, procurando um lugar ao sol para aquecer o coração, senti-lo vivo, sentir cada batida como sendo verdadeira, por forma a viver de verdade; estaremos vivos ou é tudo uma ilusão? Ao encontro do real nas curvas do existir, tanto faz ser uma lagarta ou apenas um desenho ainda por concluir. O amanhã não vem porque eu existo apenas aqui, porquê esperar se a vida me diz olá sorrindo. 

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

#4 Reflexo

Verdadeiramente pedimos muito à vida, exigimos que ela seja aquilo que achamos que ela deveria de ser, só que aquilo que achamos que ela deveria de ser nunca é o suficiente, não é satisfatório, pois de cada vez que alcançamos algo que julgávamos ser o ideal para nós, um novo ideal nasce; num processo sem fim, sem descanso, vamos passando pela vida, sem a viver de verdade. Mas a vida não desiste de nós, ela cuida sempre de nós e dá-nos em cada momento aquilo que é necessário para despertarmos desse sonho ilusório, para quebrar esse piloto automático que nos acostumamos a chamar de vida, mas que no entanto é uma mera representação de um conjunto de ideia limitadas sobre o que somos realmente. Aquilo que nos leva a despertar da ilusão são os abanões que a vida nos dá, ela chama por nós e diz-nos acorda, abre os olhos e vê, realmente vê, sente aqui e agora a tua essência. E a Sara é um exemplo disso, é chegada a hora de ela fazer uma pausa do turbilhão da vida que ela tinha como sendo a sua e se voltar para si por forma a se encontrar. Ela tem andando perdida nas suas ideias, perdida nos seus relacionamentos sem se dar a oportunidade de se conhecer de verdade. Ela entregava-se totalmente ao outro, desaparecia na relação procurando agradar, procurando sempre ajudar o outro, só assim fazia sentido para ela e no entanto tudo acabava era relegada a si mesma, deixada para trás, como que num ciclo incessante do mesmo episódio sendo revivido vezes sem conta. Desta vez tinha sido diferente, era ela que escolhia partir, que escolhia se antecipar ao seu destino, ainda que cheia de duvidas, cheia de incertezas, mas disposta a saber mais, disposta a conhecer quem era de verdade, e qual o seu papel neste mundo. A vida tem de ter um sentido, pensava a Sara e ela partiria à sua descoberta, já tivera a sua dose de sofrimento, mas agora queria se colocar em primeiro lugar.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

#3 Reflexo

Todos os seus relacionamentos viam um fim, não era este o seu primeiro e ela saia de cada um dos seus relacionamentos com a mesma sensação que não era valorizada, que era colocada em segundo plano, sentia-se como sendo uma atriz secundária da estória do outro. Ela é a Sara assim conhecida há 32 anos sempre pronta a conhecer mais, sempre em busca de respostas para todas as perguntas que brotavam dentro dela em cada momento, todas essas duvidas faziam com que se sentisse insatisfeita, quando as respostas que procurava fossem surgindo mais questões eram levantadas, e a procura era incessante. Estava sempre em movimento, parar na sua ideia era morrer, a vida para ela é ação, é movimento, só assim se sente a viver. Ela não se permitia um momento só, não queria estar na sua companhia, considerava-se desinteressante, para ela os outros eram sempre mais interessantes, ela gostava de viver em função dos outros, achava que tinha que ajudar os outros, que tinha de agradar aos outros.Mesmo que isso significasse ir contra a sua vontade, muitas vezes dizia que sim, quando lhe apetecia dizer que não, mas não o fazia, pois não queria desiludir ninguém. No fundo ela gostava de se sentir como útil aos outros, ainda que por vezes era apenas usada, tida como aquela que está sempre disponível para fazer o que mais ninguém queria fazer e assim corriam os seus dias, era esta a sua realidade. Mas as questões continuavam a se avolumar, as duvidas eram constantes, um manancial de duvidas geradas umas a trás das outras e as respostas iam sendo cada vez menos. Ela perguntava-se será isto a vida, será para isto que eu nasci, que significado tem a vida sendo vivida desta maneira.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

#2 Reflexo

Chega, por mim chega, não permito que leves mais pedaços de mim. Ergo o que resta em mim e vou-me embora, parto ao encontro da felicidade, ao encontro daquilo que mereço. Mereço mais do que me tens dado, mereço mais do que apenas estar aqui para ti, sem nada receber em troca. Por mim é definitivo, quero ser livre, quero viver a vida e respirar ar puro, até aqui apenas respiro o teu ar, apenas vivo a tua vida; não quero mais isso, vou à procura da minha vida, vou procurar completar os pedaços que arrancaste de mim, o tempo suspenso de mim vivido em função de ti. Por isso adeus. E saiu batendo a porta esperando que esta fechasse um capitulo da sua vida que não queria que se repetisse mais, esperando que a dor que pesava no seu peito não a impedisse de caminhar para longe, para bem longe desta vida que não  via mais como sendo a sua, carregava ainda o peso de todas as memórias construídas a dois, mas que para ela agora pareciam apenas memórias de uma vida construída desempenhando um papel secundário, sempre vivida em função do outro que julgava ser o seu amor eterno, daquele que um dia jurou amá-la para sempre e que ela escolheu acreditar com toda a vontade e desejo ardente. Decidida a cuidar da sua dor, sem deixar que esta a arrastasse para o fundo da existência, sofria muito, sim, a dor não dava descanso a nenhum recanto do seu ser e no entanto, ela escolhia seguir em frente, fosse isso o que fosse. Poderia até não encontrar a vida que merecia, mas pelo menos seria vivida na primeira pessoa, seria a sua vida e não a sombra da vida de outro alguém.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

#1 Reflexo

Todos os momentos são iguais excepto quando não o são, aquilo que os diferencia é a perceção que tenho deles, os momentos continuam a ser iguais, eu é que os vejo de forma diferente, é que os sinto de forma diferente. A vida que julgo ser a minha é uma mera coleção de julgamentos, julgamentos sobre o que acontece ao meu redor e que eu achava nada ter a ver comigo e digo achava porque já não penso assim, sei agora que tudo é uma mera projeção do meu interior, um espelho do turbilhão de pensamentos que pululam na minha mente; ao despertar comecei a relembrar quem sou de verdade e essa verdade diz--me que este sou é em si mesmo uma ilusão; é mais um pensamento, é parte de uma família de pensamentos que se tornaram hábitos, que se foram repetindo e que criaram esta ilusão de personalidade, que se limita, que se aconchega num corpo sob o comando de uma mente. A lembrança começou através da observação, uma observação em silêncio, um silêncio interior, pois o ruído mais pernicioso para o ser humano é aquele que se ouve apenas dentro da sua mente, é esse ruído que o ilude, que o afasta de quem é de verdade, que o mantém distraído; um ruído que o aprisiona a limites de pequenez que o fazem crer como incompleto e quando essa crença de incompletude se estabelece, o faz entrar num ciclo de procura incessante pela parte que lhe falta. Essas faltas nunca são verdadeiramente preenchidas, pois há sempre algo de novo que surge na sua atenção para o desviar da sua essência e num ciclo incessante tudo começa de novo, uma busca por mais e mais, até que o fim chega, até que o corpo, já desgastado, desiste de procurar mais, desiste de viver, mas não o diz a ninguém, apenas se apaga, apenas diz basta, quero descansar. E aquilo que nunca começou termina, num enrugado de ilusões vibrando ao sabor da vida.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Tudo é parte do todo

Parando por um momento deste viver automático,
qual boneco articulado, marioneta do ego.
Puxando os cordelinhos e reparar que o ego não tem sustentação,
que está suportado por uma ilusão,
e que existe apenas por medo de descobrir,
a verdade que nenhuma ilusão pode esconder.
O despertar começa com a questão,
quem sou eu?
quem sou eu?
E quando a vontade de responder vem,
escolher observar a resposta que surge, e esperar,
esperar que a resposta passe,
e quando ela passa liberta-se espaço para que a verdade se manifeste.
Ela está sempre presente, são apenas os véus ilusórios que desviam a atenção,
da essência, sem contudo a poder tocar.
Nada toca a essência,
ela não existe para a ilusão,
esgotando-se a ilusão, aquilo que é, continua sendo.
A verdade do ser, desfruta da sua existência,
em cada manifestação, sempre se expandindo,
sem julgar, ou excluir.
Tudo é parte do todo.