quarta-feira, 30 de outubro de 2013

#22 Reflexo

A semana da Sara havia sido acometida de ansiedade esperando que chegasse depressa a sessão seguinte com o Ricardo, a chama da liberdade incendiava as suas entranhas, ela não queria esperar mais, queria ser livre. As amarras da servidão humana já não lhe serviam mais, o mero existir ficava muito aquém daquilo que era a sua vontade, daquilo que era o seu desejo. Agora que sabia que havia algo mais, que a vida que julgava existir era uma mera ilusão, aquilo que mais queria era largar as vestes de limitação e abrir as asas da liberdade do Ser e voar, voar para muito longe, sem parar, vagueando indefinidamente, saboreando a perfeição da vida, a simplicidade de uma vida plena e com significado. Ela continha em si a noção que tudo o que acontecera na sua vida tinha sido uma preparação para este momento, para este processo de se encontrar consigo mesma, de se conhecer de verdade, sem filtros, sem véus que iludissem a sua realidade. Sim, era isso que ela queria, dizer sim, sim, sim, sim, à vida que pulsava em si e que tocava ao seu coração, desde de dentro, para que se abrisse e permitisse a toda essa luz amorosa que a preenche, se expanda sem limites e ilumine o mundo, ilumine cada momento da sua vida e de todos aqueles que a rodeiam. Ela sentia que estava perto de se libertar, de deixar para trás de vez todas as amarguras, todos os sofrimentos, todas as desilusões. Tendo a certeza de que tudo teria valido a pena, se a permitisse se encontrar de verdade consigo mesma, se reencontrar com a sua essência. E por isso a espera era ansiosa, o tempo como que se arrastava tornando o desejo de liberdade maior, tendo já extravasado os limites do seu corpo e atingido um limite de não retorno, ela sabia que agora não havia volta a dar, que a direção era em frente, significasse isso o que significasse, ela estava preparada para abraçar as mudanças que fossem necessárias para conseguir ser livre de vez. Estava preparada para se livrar de todas as ideias, de todos os conceitos e se entregar ao que a vida tinha reservado para ela, ela não concebia a sua vida de outro modo, não podia retornar ao que era antes, não podia aceitar uma vida adormecida, resignada a ser mais uma que se limitava a fazer as coisas como sempre foram feitas, porque assim sempre tinha sido. Porque o preço que tinha pago era elevado e se tudo falhasse neste momento sabia que não poderia suportar tal dor, que se se enganasse de novo, se tudo aquilo que estava a passar fosse mais uma ilusão e não algo de genuíno, que ela não suportaria e teria de desaparecer, que tudo terminaria de uma forma ou de outra. Mas a sua intuição dizia-lhe que nada havia a recear, que estava no caminho certo, ainda que não soubesse que caminho era esse, qual o destino desse caminho, mas sentia que era por ai e que nenhuma duvida a iria desviar de o seguir. Essa certeza que por vezes vinha à superfície da sua atenção, era sustentada por uma sensação de paz, de harmonia, de algo que as palavras não conseguiam expressar na totalidade e por isso ela sabia que não podia estar enganada, que não podia ser uma mera ilusão.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

#21 Reflexo

À medida que esta sensação me envolve, que esta sensação toma conta de mim, ocupando todo o espaço que julgava ser o meu e no entanto ela continua e esse espaço é quebrado, os limites tornam-se difusos, nada permanece no mesmo lugar. Todos os lugares estão presentes, como que aglutinados ao corrente da minha pele, que se estende indefinidamente. E no entanto o medo bate com força, estrebucha, querendo-me rasgar, quebrar em pedaços e por momentos parece que é verdade, que me desfaço em milhentos pedaços. Estanco o existir, quero sair daqui, quero que termine, tenho medo de desaparecer, de cessar de viver. Este medo acelera o seu movimento, procurando refrear o inevitável, pois não posso deixar de ser o que sou e então simplesmente o medo se dissipa, ele vai-se embora, pois nada pode fazer. Observo apenas, presencio a pureza do momento, todas as coisas se envolvem em mim. Sou tudo isso, sou o espaço que liga tudo isso. Solto uma gargalhada, solto várias gargalhadas,  surgem em catadupa, qual cascata de riso e som. Alegria incontida, bailando em redor de si mesma. Perder as ideias que havia acreditado serem quem era e no entanto em vez de ver chegar o fim, ver como não podia acabar aquilo que nunca começou, porque sempre esteve aqui. Sendo este aqui o ali e o acolá, tudo é como é, eu sou isso. 

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

A linguagem da essência

Sendo ele mais um humano procurando o seu espaço nesta existência, ele revia-se plenamente no amor, mas a vida tinha-lhe ensinado a viver o amor romântico de uma forma diferente daquela que lhe havia sido ensinada pela sociedade até então, onde é esperado que o amor romântico seja uma coisa exclusiva entre duas pessoas, como se o amor se esgotasse nos limites de dois corpos e a estes estivesse condenado a esmorecer. Aquilo que ele aprendeu é que o amor seja ele visto de que forma seja, em todas as suas múltiplas manifestações, o amor é ilimitado, nada o pode confinar, nada o pode agrilhoar.
Esta noção aliviara o seu desalento pois o amor que sentia existir em si não podia ser aprisionado à ideia de o reservar apenas a uma pessoa, isto porque ele estando ligado pela sagrada instituição do casamento a outra pessoa e que tradicionalmente lhe incutia a obrigação, até que a morte os separasse de amar aquela pessoa e mais nenhuma, sob o jugo de pecar se optasse por outra forma de se relacionar com o amor; ele sabia que tinha de libertar o seu amor, pois este era imenso, era ilimitado. O amor não se expressa apenas fisicamente, ele é antes de mais uma expressão espiritual, é a linguagem da essência e que se torna mais evidente há medida que é partilhado. O amor não se procura, pois quanto mais se procura o amor mais a ideia da sua falta se faz notar. O amor encontra-nos sempre quando nos abrimos ao seu aconchego, deixando de o procurar, ele vem e leva-nos consigo ao âmago da nossa essência. Ele tinha a noção disso e uma prova era o amor que sentia por ela, mesmo não a podendo amar como gostaria, quando acreditava que se tinha de limitar ao encontro físico dos seus corpos para poder expressar o seu amor. Apenas gostaria de selar esse amor com um beijo apaixonado, que permitisse mergulhar dentro dela e assim eternizar uma memória que lhe afagasse a alma. Um encontro de duas almas que se conheciam desde tempos imemoriais e que nas roupagens de dois seres humanos se voltavam a encontrar só que desta vez o destino quis que se encontrassem perto um do outro mas sem puderem se entregar completamente, pois partilhavam a sua existência com outras pessoas. E assim aprenderiam que o amor é muito mais basto que o encontro físico  e que este era uma pequena expressão, ainda que por vezes sublime, do que é a essência do amor. Ele estava consciente da verdadeira essência do amor, ela ainda se encontrava adormecida pelas regras tradicionais do amor idílico e exclusivo sob a proteção do casamento. E no entanto a vida flui como deve, sendo infinitas as possibilidades e algures numa dessas possibilidades eles estavam juntos, expressando o seu amor de todas as formas. Na realidade tudo é amor, apenas este é real a ilusão de falta existe para que o sabor da ideia de o encontrar seja intensa quando ele nos desperta.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Na verdade eu e tu somos um só

Aquilo que nos separa é uma mera ilusão 
na verdade eu e tu somos um só 
mergulho em ti, acaricio o teu ser,
largo-me num beijo sentido,
enlaço-me nos teus braços,
levas-me para longe e eu quero ir.
Procuro por ti em todas as coisas,
um reflexo da tua alegria,
para iluminar o meu dia.
Cada momento é igual,
quando embalado num amor incondicional.
Todas as barreiras são quebradas,
todas as diferenças resolvidas,
não importa tudo o mais,
desde que te tenha a ti,
não pode ser de outra forma,
na verdade eu e tu somos um só.
Deixo-me fluir ao sabor do amor,
navegando pela paz imensa que me preenche.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

#20 Reflexo

Ricardo ouvira com atenção ao que Sara dissera e tendo dito de seguida, " ouvi o que me disse com atenção e tudo o que referiu está voltado para a sua realidade externa, tem procurado fora de si encontrar-se e no entanto verdadeiramente só se poderá encontrar quando se permitir a oportunidade de se conhecer realmente como é, quando se permitir olhar para si com olhos de amor, sem julgar apenas observando o que existe dentro de si. Quando escolher conhecer-se perceberá que tudo o que tem procurado, tudo o que merece já existe em si, é quem você é. A realidade em que vive é um reflexo da sua desconexão à sua essência, e no entanto nada disso é mau, ou bom, por si só. Quando estiver preparada para conhecer a verdade sobre si, é isso que irá ocorrer e essa prontidão começa por deixar de se ver como uma vítima da sua realidade, do seu mundo e aproveitar os sinais que este lhe dá para que se reconecte com a sua essência, porque de facto nunca esteve desligada, apenas criou uma ilusão de desconexão que aceitou como sendo a sua realidade. Fique descansada que isso não é uma situação exclusiva da Sara, isso é algo que está inerente à condição humana e que cada vez mais se aproxima de uma mudança irreversível, aquilo que você está a passar é um reflexo de que começa a estar preparada para se conhecer de verdade, para que se dê uma mudança de paradigma e se liberte dessa ideia de limitação condicionada por um corpo e a mente que o controla." 
"É por isso que estou aqui, para que me ajude a libertar-me desta prisão que condiciona a minha felicidade, que condiciona que eu possa desfrutar da vida em pleno, como acho que mereço", assim falou a Sara, "desde que comecei a ler o que escreve e que confirmei no seu workshop, que sinto que me poderá ajudar na minha caminhada ao encontro de mim mesma. Gostaria que fosse o meu mestre, é o meu guru e estou disposta a seguir as suas indicações para que esse despertar que falou, aconteça de verdade."
Ao que Ricardo respondeu " Sara o seu verdadeiro mestre reside em si, nenhuma pessoa no mundo sabe mais sobre si do que você mesma e como lhe disse antes, a realidade é um espelho do nosso interior, com isto quero dizer que o facto de estar aqui a falar comigo, a ouvir o que lhe digo neste momento, bem como tudo o que fez antes até este momento, resulta de uma expressão do seu interior, do seu Ser, como forma de a ajudar a reencontrar-se, nada acontece por acaso nas nossas vidas, enquanto humanos, a forma como experienciamos o nossa realidade depende daquilo que pensamos, que cremos que somos, mudando as nossas crenças mudamos a nossa realidade experienciada. Eu posso apontar-lhe o caminho, ajudá-la nessa caminhada, mas é a Sara que tem de fazer esse caminho, aquilo que eu serei é uma expressão da sua essência a falar consigo, mas não serei a única, tudo o que ocorre fala connosco, se ouvirmos com atenção, se estivermos presentes para a realidade como ela se nos apresenta. Só ocorre aquilo que estamos preparados para lidar, pareça-nos isso muito fácil ou difícil, como diz um ditado oriental que gosto muito, quando o aluno está pronto o mestre aparece.E este mestre não se limita a um ser em carne e osso, ele pode-se revestir de muitas formas, seja um livro, uma noticia, uma música, no fundo toda e qualquer coisa pode ser um click que nos desperta para a nossa essência.Pois a nossa essência é imutável, ela é perfeita assim como é, nós somos isso." Terminando a sessão combinaram encontrar-se uma vez por semana para dar continuidade ao processo de despertar da Sara. 

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

#19 Reflexo

Era chegado o dia da primeira sessão da Sara com o Ricardo, este dia era embebido de ansiedade por parte dela, um desejo de que finalmente teria as respostas que procurava, um desejo de terminar essa longa luta contra aquilo que tinha sido a sua realidade até então. Ainda que olhando para trás já tenha vindo de muito longe, poderia dizer que era outra pessoa aquela que se encaminhava para o encontro com a verdade, como ela gostava de apelar a esta sessão com o Ricardo;e no entanto sendo, na sua ótica uma melhor pessoa, muito ainda havia a responder, muita insatisfação ainda grassava dentro de si e na sua realidade. Chegando ao local agendado encontrou uma pequena casa, muito bem conservada, com um pequeno jardim na sua frente esmerado na sua apresentação, aquele lugar por si só dava uma sensação de calma, ou seria apenas a ideia de reencontro com Ricardo que lhe trazia esse efeito, ela não sabia bem distinguir uma da outra. Tocando à campainha, foi de seguida recebida à porta pelo próprio Ricardo, que a convidou a entrar em sua casa, o local onde recebia as pessoas que o procuravam e seguiram para a sua sala de atendimento, a decoração da casa era muito simples, despojada de ornamentos e no entanto a sensação que ela recebia era de uma casa cheia, uma casa plena, era a atmosfera que se respirava que lhe dava essa sensação, uma harmonia que se fazia ouvir na pele, que cariciava a alma. Entrando na sua sala de atendimento foi convidada a sentar-se, ficando frente a frente com ele. Começando por fazer uma longa inspiração, seguido de igual expiração, olhando-a nos olhos, perguntou "em que a posso ajudar?" ao que ela respondeu " quero que me ajude a conhecer a verdade, a conhecer quem sou, tenho muitas duvidas que precisam de resposta por forma a encontrar a paz que tenho perseguido ao longo dos últimos anos, quero encontrar o amor que tem fugido de mim, que me tem desprezado, no fundo só quero o que todos querem, e que é ser feliz." Ricardo começou por perguntar o nome dela e de seguida respondeu, " sabe Sara, vou desapontá-la, pois de facto eu não tenho respostas para lhe dar, o que quer que eu possa responder fica muito aquém daquilo que já sabe, pois de facto já possui todas as respostas que procura e se lhe parece que não as tem isso resulta de as procurar nos lugares desadequados, tem procurado fora de si, e no entanto descuidou do único lugar onde as pode encontrar e esse lugar é dentro de si. Aquilo que eu posso fazer por si é apontar-lhe o caminho, posso até caminhar a seu lado, mas não posso de todo fazer o caminho por si. Isto é assim para a Sara e para qualquer outra pessoa, ninguém pode viver a sua vida por si, apenas a Sara a pode viver. Irá, como de certo já aconteceu na sua vida, encontrar pessoas que lhe dizem aquilo que é o melhor para si, que lhe dizem o que fazer e que tem muitas opiniões sobre o que fez e faz, mas no entanto ninguém vive por si. A vida que julgamos ser a nossa resulta num reflexo de tudo aquilo que borbulha dentro de nós, e essa confusão, essas duvidas resultam desse desacerto entre aquilo que é a realidade e aquilo que julga ser. Diga-me Sara o que não quer na sua vida neste momento?" Após um breve momento de silêncio ela respondeu, "não quero ser uma inútil, não quero viver sozinha sem o amor de outra pessoa ao meu lado, não quero viver na ignorância. Eu tenho lutado muito para ser alguém, só que não sou como as outras pessoas, já tentei ser como os outros, já tive relacionamentos que não deram em nada, por muito que me tornasse pequena para fazer sobressair o meu companheiro, vivendo em função das suas vontades, eles acabavam por partir, por me deixar, assim aconteceu com os meus dois primeiros, só no terceiro e meu último fui eu que me enchi, que decidi ser livre, que aquilo já não era mais para mim, que eu merecia mais e então parti em busca desse algo mais e no decurso dessa caminhada aqui estou, ainda procurando encontrar aquilo que julgo merecer. Será isso pedir muito?"

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

#18 Reflexo

Havia passado um mês desde que se tinham conhecido no workshop do Ricardo, quando a Sara e a Daniela se voltaram a encontrar e partilharam os progressos que tiverem após o mesmo. Sara disse que o workshop correspondera às suas expectativas e até suplantado nalguns aspectos, referindo ela o seguinte: O que mais me marcou foi as sensações que me envolveram, tido o seu final naquele momento sublime, apoderou-se de mim um sentido de união, de unicidade com todos os que estávamos presentes na sala, sabes, uma sensação que tudo é perfeito assim como é, que nada há a temer. Contudo essa sensação nos dias seguintes desvaneceu, quando regressei aos meus "dramas" do dia a dia e isso fez com que tomasse uma decisão, este é um processo que quero aprofundar e dai que tenha marcado uma sessão individual com o Ricardo. E tu Daniela, como foi para ti?
Como te disse eu sou bastante cética, mas no entanto não posso negar aquilo que senti no workshop, tal como descreveste eu também senti essa energia de unicidade, essa sensação de ser parte de um todo maior do que eu posso descrever, mas a sensação foi muito real, muito verdadeira, logo não poderia ser fruto da minha imaginação, sentia-se isso também nas expressões das outras pessoas que estavam presentes. Para mim o momento de mudança mais evidente foi após ouvir aquela senhora que tinha perdido o seu filho expressar como sentia que não o tinha perdido, que ele vivia dentro dela. A energia que senti nesse momento foi indescritível, por muito cética que seja, ai era impossível negar o que estava a sentir, o grau de emoções que extravasam os meus limites. Vê isto, só de falar nisso fico toda arrepiada.
Sim vejo, que sim, afinal essa muralha de ceticismo pelo menos já abriu umas brechas.
Se queres que te diga,foi mais que umas brechas, fiquei mais curiosa ainda e a vontade de saber mais, instalou-se em mim. Esta sensação de que há algo mais, de que somos mais do que julgamos ser, ficou colada a mim e leva-me a seguir por um caminho de busca, quero encontrar respostas a todas estas duvidas que me assaltam. Escolhi deixar de ser apenas mais uma ovelha guiada pelo rebanho, decidi que é hora de despertar.
Muito bem, Daniela, vejo que estás mesmo decidida. Eu própria já tinha tomado essa decisão ainda antes deste workshop, aliás foi uma das razões que me levou ao workshop, foi essa busca por algo mais, essa busca pela validação da minha existência. Recuso-me a aceitar que a minha vida seja apenas sofrer às mãos dos meus relacionamentos, ou melhor à falta deles, e ainda aos comentários desgostosos da minha mãe. Eu sei que tenho uma missão a cumprir, ainda não sei qual, mas vou descobrir. E tenho a intuição que o Ricardo tem um papel importante nessa descoberta.
Estou a ver que sim Sara, tenho a sensação que ainda vamos ser muito amigas, quem sabe se não me ajudas a mim também a derrubar de vez esta muralha do ceticismo. Uma coisa já aprendi, e é que nada acontece por acaso, o facto de ter ido ao workshop, de te ter conhecido. Não sei onde tudo isto me irá levar, mas estou disponível para descobrir até onde posso ir.
Terminaram assim o seu encontro tendo sido o primeiro de muitos que se seguiriam nesta aventura pela descoberta da verdade, pelo quebrar das ilusões, pelo despertar desse imenso sonho irreal. 

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

#17 Reflexo

Tudo aquilo que diz faz sentido, mas eu não estou preparada para mudar tudo, nem sei se quer, se desejo mudar tudo.Disse a Daniela, continuando de seguida, na verdade eu gosto de ser quem sou, apesar de todos os defeitos, gosto de ser quem sou, prefiro lidar com os defeitos que me reconheço do que me arriscar, procurando ser alguém melhor e nesse processo me perder, deixar de existir como me conheço. Não sei se aguentaria mergulhar assim dentro de mim, como diz, receio que o mais certo seria perder a senilidade, tornar-me numa indigente, insensível ao mundo ao meu redor. E isso eu não quero para mim.
Aquilo que sinto em relação ao que me diz, não só com as suas palavras, mas também com a sua linguagem corporal e energética, mostra-me um imenso medo.Observou Ricardo. E é esse medo que a condiciona a ser, ou a julgar ser, menos do que é de verdade, pois aquilo que poderia perder é apenas essa ideia de limitação que possui sobre si, é essa ideia de personalidade que aceitou e se habituou a crer como sendo quem é. E isso não ocorre apenas com a Daniela, isso ocorre, ainda que em diferente graus, com todos os humanos. A maior parte vive em piloto automático e nem se coloca essas questões que se está a colocar, eles sentem o medo, vivem condicionados por esse medo, mas não sabem nomear esse medo. Existem uma luta constante e desgastante para tentar ser algo que não são, para manter a aparência de separação, de individuação, como se aquilo que cada um é nada tocasse no que os outros são, como se aquilo que julgam ser, como se os seus pensamentos pudessem ser privados e mais ninguém os conhecesse. É essa ideia de limitação, o ego, que se faz perpetuar através medo, delimitando a vivência experienciada ao que é habitual, ao que podemos chamar de zona de conforto. É mais confortável acreditarmos que somos este corpo e a personalidade que habitualmente, desde que temos noção de nós, fomos educados a ser. Aceitamos ser esse personagem com um nome que nos foi dado e nunca questionamos, porque sempre foi assim, já os nossos pais passaram por isso e os pais deles e os pais destes. Os poucos que ousaram questionar foram ostracizados pelas sociedade, vistos como parias, como alienados, porque a imensa maioria não estava preparada, para ver de verdade, para conhecer a verdade que está para lá do ilusório aparente imediato; é mais confortável fazer o que sempre foi feito, sem questionar do que arriscar no desconhecido. Contudo este workshop visa a simplificação, esta explicação que dei levaria um rumo mais além do que é pretendido aqui e no entanto foi dito aquilo que tinha de ser dito neste momento, servindo como um despertar para ir mais além, é algo que cada um de vós aqui presente irás escolher fazer, ou não, quando estiver preparado para tal. Porque como vos disse a vida é simples e assim sendo perfeita, só nos presenteia com aquilo que podemos suportar em cada momento e para o qual temos todos os recursos para lidar, por muito difícil que nos pareça a situação. Não esperem levar daqui todas as respostas às vossas duvidas, elas surgirão quando for o momento ideal para cada um de vós, porque na verdade já possuem essas respostas, ou dito de uma outra forma, a duvida nunca existiu, apenas uma ilusão de duvida aparentou existir. Após uma meditação e mais alguns esclarecimentos Ricardo deu por terminado o workshop, sendo visível que aquelas pessoas que haviam iniciado o workshop não eram as mesmas que agora emergiam dele.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

#16 Reflexo

Mudar é um desejo latente na maior parte dos seres humanos, há como que uma insatisfação permanente com aquilo que são, com aquela que é a sua situação e como tal, desejam mudar. O grande paradoxo é que é precisamente este desejo de mudança que nos impede de mudar, porque verdadeiramente nada há a mudar, tudo é perfeito assim como é. Só que a maior parte de nós, para não dizer a totalidade, não se conhece de verdade e isso ocorre porque não estamos presentes para a vida que acontece agora, vivemos focados ora no passado, ora no futuro, sendo este uma mera projeção do passado; o presente é meramente um período de transição entre os dois, servindo para recordar ou ansiar, mas raramente para estar. Só ilusoriamente julgamos viver no presente, aquilo que está presente é o corpo, mas este é apenas um instrumento de aprendizagem e comunicação da mente. Se aquilo que vos trouxe aqui é a vontade de simplificar a vossa vida isso ocorre automaticamente quando estiverem presentes por inteiro no agora, aceitando aquilo que é, pelo que é, sem se deixarem limitar pelos julgamentos e apreciações do que acham que deveria de ser. Foi desta forma que o Ricardo se expressou perante aquele grupo, sabendo ele que na verdade nada há a ensinar, que nunca ensinamos nada aos outros, apenas o fazemos a nós mesmos, aquilo que dizemos e pensamos sobre as outras pessoas dizem apenas sobre aquilo que somos, sobre as ideias que temos sobre quem somos, o modo como nos vemos, ainda que alguns aspetos sejam inconscientes para nós. É por isso que a vida que somos, escolhe manifestar na nossa realidade esses conceitos, essas ideias inconscientes sobre o que somos, através de tudo aquilo que não gostamos, através das pessoas que não gostamos. São essas coisas que mexem connosco que servem de bússola ás profundezas do inconsciente e fazem com que surja à superfície, aquilo que atiramos para a sombra, para os confins do nosso existir. Mas é só lidando como a escuridão, levando lá a nossa luz, que se iluminará em pleno a nossa essência. O Ricardo sabe que só quando aceitou lidar de frente com aquilo que lhe desagradava, com aquilo que o corroía, correndo o risco de entrar no desconhecido e fazendo despertar coisas em si que desconhecia que existiam; só entrando nesse processo a fundo vivendo em pleno a dor que tinha de viver, abraçando essa dor, só assim a conseguiu suplantar.Tendo no entanto a plena consciência que ainda havia trabalho a fazer para que se desvanecessem todas as ilusões e apenas a verdade da sua essência se manifestasse.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

#15 Reflexo

O ambiente na sala era de uma paz e harmonia que a todos envolvia. Daniela sentia dentro de si que algo mudara, ainda que fosse cética relativamente ao que poderia esperar deste workshop, aquilo que sentia nesse momento era inegável, não o sabia descrever, mas a sensação era de uma leveza, de uma certeza que não podia descrer da sua veracidade, pois se tudo aquilo era um embuste, então ela escolhia ser enganada, escolhia permitir-se viver aquelas sensações, aqueles sentimentos que a perpassavam. As barreiras que havia erguido em si como forma de proteção face à vida, proteções essas que pudessem impedir que o sofrimento ocupa-se o seu centro, essas proteções caíram naquele momento, sentia que estava ali despida, sentia que a sua disponibilidade para se entregar era total e essa sensação era por seu lado desconcertante para ela. Como é que num workshop isso poderia ocorrer, como é que no meio de um pequeno grupo de pessoas que se havia junto de uma forma, para ela, casual poderia permitir que tal efeito em si fosse possível. Contudo ela ainda se interrogava da sua veracidade, da sua permanência, as duvidas assolavam a sua mente, pensamentos contraditórios emergiam para lhe levar a atenção, até que foi desperta desses pensamentos pelo som da voz de Ricardo. Que começou por dizer, a vida é simples, tudo é de uma simplicidade perfeita, aquilo que acreditamos que somos enquanto humanos é que complica aquilo que é simples. De uma forma geral tudo se resume, nesta ilusão, a uma escolha entre o medo e o amor, e a verdadeira ilusão é mesmo esta, a de que existe uma possível escolha entre algo que é uma ilusão, o medo e algo que é real, o amor. Quero ressalvar que este amor que falo não é o amor romântico, que normalmente associamos aos relacionamentos, mas sim a um amor fundamental, que é a nossa essência, um amor que é a origem e o término em si mesmo daquilo que é. Este amor não pode ser definido, as palavras que conhecemos não conseguem expressar a plenitude daquilo que é. O medo representa o esquecimento daquela que é a nossa essência de amor, o medo resulta de uma ideia de limitação que nos faz crer como sendo separados de tudo o resto, somos nós e os outros e este mundo em que vivemos é uma selva onde cada um de nós tem de lutar pela sua sobrevivência, onde tudo é escasso e apenas os mais fortes sobrevivem e todos os outros se submetem ao seu jugo.Viver condicionados pelo medo cansa muito, é desgastante, lutar contra a ilusão num lugar onde ela não pode ser combatida e que é fora de ti. Todas as mudanças que procuram para as vossas vidas, a simplificação que aqui vieram procurar, só poderá ser alcançada dentro de vós. Ricardo fez uma pequena pausa, respirando fundo, sentindo a atenção daquelas pessoas e continuou de seguida dizendo, a verdade última que irão recordar, quando para isso estiverem preparados, é que nada há a mudar, que são perfeitos assim como são, quando se lembram de quem são de verdade. De seguinte é colocada uma questão, se tudo é perfeito, então o que vimos cá fazer, qual é a utilidade da vida humana? Ao que Ricardo respondeu, a vida humana é em si mesma uma manifestação da vida a ser vivida por si mesma, é vida a experienciar-se a si mesma, nada do que acontece é desperdício, tudo é aprendizagem, tudo é experiência. Daniela de seguida comenta, e todas aquelas situações más que acontecem, todas as catástrofes, a violência que grassa um pouco por todo o mundo, será isso perfeição também, questionou. A resposta mais simples, é sim também isso é perfeito, respondeu Ricardo, e porquê que é perfeito, porque é o que acontece, a realidade tem sempre razão, é a nossa relação com a realidade que a torna como boa ou má. Significa isto que quando vemos algo acontecer que julgamos como errado e que podendo fazer alguma coisa, não o façamos, que cruzemos os braços e sejamos indiferentes? Não, porque se acontece na nossa realidade e somos impelidos a agir, podendo  fazê-lo, então devemos fazê-lo. Mas a linha está aqui mesmo, há assuntos que são da nossa responsabilidade lidar com eles e devemos fazê-lo, e existem outros assuntos que são responsabilidade de Deus se quiserem, ou então outro nome qualquer, que seja confortável para vocês usarem como vida, universo, energia, ou outro qualquer. Estando presente para aquilo que somos teremos o discernimento de distinguir as situações que somos responsáveis por lidar e as que não são da nossa responsabilidade e estas devemos aceitar que serão cuidadas por quem de direito e o que ocorrer será perfeito que ocorra.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

#14 Reflexo

Joana tomou a palavra para dizer que sentia emoções diversas, se por um lado estava relutante em aceitar a situação, disse que o desconforto era evidente em si, que não tinha essa capacidade de ver uma imagem alargada da situação que tinha vivido, nem conseguia encontrar uma justificação para que a vida lhe tivesse dado um filho para o retirar dez anos depois, que desse modo em vez de despertar a vontade maior é de adormecer e nunca mais acordar, porque ser dilacerada como sentia que tinha sido, era forte de mais para que nela sobrasse espaço para outro assunto qualquer na sua realidade. E sim aceitava que pensar na perda do filho seria "vê-lo" morrer de cada vez que o pensava, mas era isso que lhe ia na alma, que definhava por cada momento de separação. Por outro lado as palavras do Ricardo e mais do que as palavras a energia que sentia, naquela sala, ela preferia apelida-la de amor, como que despertavam nela uma paz de espírito que não havia sentido até então, ainda que não percebesse muito bem porquê, sentia que efetivamente tudo é perfeito assim como é e que o seu filho estava bem e sentia dentro de si a sua existência, como que essa paz que lhe inundava o ser, lhe trouxesse de volta o seu filho, indo mais longe, a sensação que tinha era a de que ele nunca chegou a partir, apenas não reconhecia a sua presença dentro dela porque a dor falava mais alto e o seu ruído a impedia de o reconhecer. As palavras da Joana e a energia que emanava dela quando as proferia emocionaram todos os presentes. A Sara naquele momento teve a certeza que não poderia estar em nenhum outro lugar, senão aquele e que a emoção que a perpassava era o indicador mais fiel dessa certeza. Ela sentia uma conexão profunda com aquele ser que se abria perante aquele grupo de pessoas que não se conheciam, como se todos fossem um só organismo, que não houvesse separação entre eles, que os seus corpos fossem diferente partes de um mesmo todo.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

#13 Reflexo

Depois de um momento de introspeção Ricardo retomou a palavra dizendo, em relação ao relatado pela Joana e da sua experiência de perda, tendo passado já este tempo desde que isso ocorreu na sua vida, aquilo que mais releva para o seu presente é aquilo que decide fazer dessa experiência de dor pela qual passou, pode sucumbir à dor e deixar que esta a torne amarga perante a vida e deixar que esta se torne um castigo permanente para si, revivendo incessantemente a perda do seu filho amado e desse modo, ainda que figuradamente, ele estará morrendo vezes e vezes sem conta, tendo sempre presente em si essa memória de perda e dor. Ou então pode escolher, depois deste processo de luto, honrar a memória do seu filho, recordando todos os momentos felizes que tiveram juntos, todas as alegrias partilhadas, todas as aprendizagens. Ficando grata pela oportunidade de ter tido o privilégio de ter convivido com ele dez anos e o melhor agradecimento que pode dar é escolher viver, viver em pleno o momento presente. Como disse, a vida nada nos traz que não tenhamos os recursos para lidar, tudo o que acontece, acontece com um propósito maior, com vista a que despertemos para a nossa essência. Aquilo que ocorre frequentemente é que vamos ignorando os sinais que a vida nos dá, mas a vida não desiste de nós, ela continua a enviar-nos sinais, contudo estes vão aumentando de intensidade e dai surgem as doenças, os acidentes, que nos fazem parar e focar a atenção. No entanto existem pessoas que mesmo após este sinais continuam adormecidas e se isso acontecer, tudo bem, a vida continua apoiando essas pessoas nas suas opções até que um dia possam estar preparadas para elevar o seu nível de consciência. Podendo viver vidas que de uma visão limitada julgamos como sofridas, como muito difíceis. Se refletirem nos momentos que consideraram difíceis nas vossas vidas verão que eles deram origem a mudanças que de outra forma não teriam ocorrido, nada acontece por acaso, a vida é perfeita assim como é, cada um de nós é perfeito sendo como é, pois nós somos vida, esta não é algo que nos acontece, é algo que nós somos. Essa perfeição existe aqui e agora, não é necessário esperar que algo aconteça para que tomemos consciência disso, basta a nossa disponibilidade, abertura de mente, para que aquilo que é a realidade seja percecionada como é, por cada um de nós. Sendo tudo isto uma ilusão, um sonho, temos como opção, enquanto não estamos preparados para em consciência despertar para a verdade, escolher um sonho melhor para continuar a evoluir, um sonho feliz que nos aproxime mais da nossa essência. Sei que esta informação é muita para digerirem, e por isso proponho-vos um momento de reflexão, observem apenas os pensamentos que borbulham na vossa mente, deixem que eles se manifestem, vejam as reações que surgem no vosso corpo, apenas presenciem, apenas reparem, sem julgar, apenas observando.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

#12 Reflexo

Joana usou da palavra para dizer que não estava preparada para aceitar como verdadeiro para ela que tudo isto seja uma ilusão, "como pode tudo isto ser uma ilusão, quando se vê um filho de 10 anos ser-nos sonegado pela vida", proferiu ela com os olhos mareados em lágrimas, que acariciavam o seu rosto à medida que deslizavam na sua pele. "Pois se tudo isto é uma ilusão, ela dói bastante, ela consome-me por dentro um pouco a cada dia, ainda que já se tenham passado três anos, a sua intensidade raramente diminui.Tenho procurado entender, encontrar uma justificação para que isto tenha ocorrido, mas nada tem apaziguado a minha dor, pode ficar adormecida por breves momentos, mas volta sempre intensa, rasgando--me o ser, por vezes vazia, noutras plena de raiva, tudo isso de forma nenhuma me dá paz, me permite concluir este capitulo da minha vida. O que me tem a dizer dessa ilusão?".
Ricardo aguardou um momento antes de responder, dizendo de seguida, eu e cada um de vocês temos uma de duas escolhas a fazer, que é, perante uma tal situação como a descrita pela Joana, que é pungente, podemos nos identificar totalmente com ela e dessa forma reforçar a sua dor e toma-la como nossa. Fazendo isso estaremos a validar essa ideia de limitação que cremos sobre quem somos, limitados a este corpo e essa personalidade que o controla. Uma outra opção é ver a ilusão dessa ideia de separação, de limitação e observar a imagem total da nossa realidade, deixando de nos identificarmos com a dor desta e outras histórias que conhecemos, para dessa forma nos desapegarmos da limitação e despertar para a essência perfeita do Ser. É natural para vocês e todos os que ainda estão adormecidos, ficarem admirados e até chocados com estas palavras, pensando como pode ele ser tão insensível perante tal sofrimento de um ser humano. Sim o sofrimento é real, é sentido, a ilusão sendo uma ilusão, é verdadeira para quem nela está imerso; tal como um sonho que temos durante o sono é real para nós até que acordamos e tomamos consciência que era apenas um sonho. Contudo este workshop é para simplificar, logo fiquem descansados pois só acontece na nossa realidade aquilo que estamos preparados para lidar, por muito difícil que nos pareça determinada situação, se ela ocorre é porque estamos preparados com os recursos para superar tal desafio que a vida nos presenteia. Não é suposto terem que aceitar de imediato que tudo isto é uma ilusão, isso acontecerá quando estiverem plenamente preparados para que assim seja, até isso ocorrer serão dados pequenos passos que os prepararão para isso, como é exemplo este workshop e as palavras que acabam de ouvir da minha boca.O discurso proferido pelo Ricardo foi acolhido de forma diferente por cada um dos participantes, a forma como ele ia percecionando o desconforto que as suas palavras causavam, lendo a linguagem corporal das pessoas prostradas perante si, porque lidar com a verdade. lidar com tudo aquilo que vai para lá da nossa zona de conforto gera resistência, gera afastamento, preferimos ignorar do que olhar de frente as sombras que pululam no nosso interior.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

#11 Reflexo

Se estão aqui para obter respostas e soluções mágicas para a vossa vida, desde já vos digo que não as vão obter, esta é então uma boa altura para saírem se é isso que pretendem, e porquê que não há soluções mágicas, nem respostas para as vossas duvidas, perguntam vocês, ainda que não o façam em voz alta, porque tudo isto é uma ilusão.Calou-se de seguida e um silêncio inundou a sala, que era percorrida com os olhos pelo Ricardo, deixando cair a sua visão sobre cada um daqueles dez seres que ali se prostravam perante ele; reconhecia alguns olhares incrédulos com aquilo que acabara de dizer.
O silêncio foi quebrado pela Daniela afirmando " se isto tudo é uma ilusão, o que fazemos aqui? só pretende nos fazer perder o nosso tempo?". Tendo obtido como resposta,"nada acontece por acaso, não fui eu que vos trouxe até aqui, foram vocês mesmos e tudo o que aconteceu nas vossas vidas que vos trouxe até aqui agora, tudo serviu para vos preparar para este momento e não digo isto para que pensem que sou especial, pois isto só ocorre em todas as ocasiões, ou seja, aquilo que vos quero dizer é que apenas existe este momento. Apenas vivem no agora. Nada mais há para além do agora. Tudo isto é uma ilusão porque acreditamos ser alguém que possuiu um passado e que através dele alcançará um futuro,sendo o presente um mero corredor de passagem rápida entre os dois. Este é o processo de alienação da verdade sobre quem somos de verdade cada um de nós, pois se não estamos presentes aqui e agora, quem é que está a viver a nossa vida, já se questionaram sobre isso. Deixem estas palavras repousar dentro de vós, deixem que elas falem mais alto no vosso interior e apenas observem o que acontece, observem as reações que se manifestam no vosso corpo, simplesmente deixem-se entregues a este momento. Mais uma vez o silêncio se fez notar na sala, apenas os ruídos da vida mundana, que continuava incessante no exterior da sala, fazia companhia a tal silêncio.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

#10 Reflexo

Ricardo estava prestes a dar inicio a mais um workshop, esta era uma forma de lidar diretamente com as pessoas, de as ajudar a encontrarem-se, no fundo ele apenas lhes apontava o caminho de regresso à essência, pois todas as pessoas sabem o que é o melhor para elas apenas se esqueceram disso.Mas ele tinha a noção que verdadeiramente apenas podia ajudar-se a si mesmo, que todas as pessoas que surgiam na sua vida representavam aspetos seus que tinha de lidar por forma a elevar o seu nível de consciência, tudo aquilo que tinha como a sua realidade espelha a sua realidade interna, e ele já tinha perfeita consciência disso mesmo e apontando esse caminho aos outros estaria a cimentar em si essa convicção, estaria a alargar os seus limites. Tudo aquilo que o Ricardo ambicionava era ser um exemplo que os outros poderiam seguir se assim o entendessem, ele sabia que ninguém sabe o que é o melhor para os outros a não ser os próprios, mas que estando todos ligados, aquilo que fazemos em nós influencia todos aqueles que fazem parte nossa realidade, sejam eles nosso conhecidos ou não. Tendo feito as introduções iniciais, começou por pedir que cada um se apresentasse e falasse das suas expectativas.A primeira a falar foi a Daniela, dizendo que não tinha grandes expectativas, que era cética, mas que ainda assim gostaria de ser surpreendida e esperava para ver. De seguida a Sara disse que era uma leitora assídua do blog e que se revia bastante nos seus textos e que procurava respostas às duvidas que a consumiam, pois de cada vez que achava ter uma resposta, mais duvidas surgiam, num ciclo incessante e que se estava a tornar muito esgotante para ela, que ela queria paz, queria sossego e disse ´eu sei que estou a pedir demasiado de um só workshop, mas acredito que algo poderá mudar verdadeiramente.Tenho essa sensação.Não sei dizer porquê, mas sinto-o`. 

terça-feira, 1 de outubro de 2013

#9 Reflexo

Estava prestes a iniciar um novo workshop, este dedicado a simplificar a vida, segundo era publicitado, no entanto a Sara já havia desenvolvido em si o discernimento de filtrar aquilo que ouvia, via e lia, nesta sua busca por respostas, nesta sua ânsia de paz e serenidade para a sua existência, de algum sentido verdadeiro para o seu existir. O seu barómetro eram as sensações, as vibrações que obtinha de tudo aquilo com que tinha contato, quando o que lhe chegava tinha a ver com ela, uma sensação de leveza, de harmonia inundava-a, mesmo naquelas situações que mexiam com ela, que tocavam em pontos sensíveis, mas neste ponto da sua caminhada pela verdade, pela descoberta de si, ela já entendia que aquilo que mais mexia com ela era aquilo que mais a permitia se conhecer de verdade. Pois ninguém se conhece totalmente se ignorar ou rejeitar partes de si mesmo, o sombreado da personalidade só é resolvido pela luz dos olhos que o mira de frente.
Neste workshop havia um grupo pequeno de dez pessoas, uns poderiam ser considerados verdadeiros profissionais da frequência de workshops e outros estavam ali pela primeira vez, como era o caso da Daniela, que ali se encontrava por indicação de uma amiga, que lhe disse que era algo que lhe poderia mudar a vida, desde que estivesse presente de mente aberta e recetiva ao que iria ouvir e experienciar. Mas sendo uma cética, ela não estava certa de que algo assim pudesse mudar o que quer que fosse na sua vida, contudo sendo curiosa e perante a insistência da sua amiga, ali estava ela, sem grandes expectativas. Ela ficara sentada ao lado da Sara e enquanto esperavam pelo início encetaram uma conversa:
- Olá eu sou a Sara, como estás?
- Eu sou a Daniela, estou bem e tu?
- Já conhecias esta pessoa que vai dar o workshop?
- Eu não, é a primeira vez que me vejo nesta andanças, nunca tinha feito nada do género.
- Ah, sim, eu já fiz alguns, mas com o Ricardo é o meu primeiro, gosto de ler o blog dele e por isso resolvi vir a este workshop, para ver se simplifico a minha vida, pois ela é um verdadeiro caudal de duvidas. E tu o que te traz aqui?
- Se queres que te diga não sei, vim mais por insistência de uma amiga minha, a dizer que isto poderia mudar a minha vida, pois ela já o tinha feito e gostou muito, disse que nada lhe havia tocado tanto como as palavras deste Ricardo, e como sou curiosa, vim verificar se é mesmo assim, Sabes eu sou muito cética em relação a estas coisas, para mim isto tudo parece-me mais vender banha da cobra, do que outra coisa, mas para criticar primeiro temos que experimentar e por isso aqui estou.
- Eu já fui assim cética como tu, mas agora sei que tem de haver algo mais, que dê algum sentido a tudo isto, a estas vidas que vimos cá viver, senão qual a razão para existirmos, nada acontece por acaso, eu acredito nisso; tenho lido bastante ao longo deste último ano, já frequentei uns cinco ou seis workshops e formações, em busca de respostas, mas sempre que encontro algumas respostas, muitas mais duvidas se levantam. Mas tenho um feeling positivo em relação a este workshop, vamos ver como corre.

Uma canção chamada amor.

Aquilo que faz da música mais que mero ruído, não são os sons que dela fazem parte, mas sim os momentos de silêncio. São esses momentos que permitem que a harmonia de uma canção se entranhe no nosso ser e nos eleve para lá da mera ideia do que somos. Caminhos novos se abrem para nós, vagueando ao sabor das melodias que nos transportam para novas sensações. Podemos viver várias vidas enquanto dura uma canção, chamada amor.