quinta-feira, 28 de julho de 2016

#100 Outras vidas

As palavras surgem na mente, mostram-se tal como querem ser conhecidas e o escritor plasma-as no papel. A inspiração não tem dono, ela paira no ar e vai sendo captada pelas mentes que sintonizam nas diferentes vibrações de tais ideias. O autor é aquele que se disponibiliza para aceitar tais vibrações e dar-lhes uma nova forma que ganhará vida própria a partir do momento em que começa a ser lida por outras pessoas. Essas pessoas ao lerem tais palavras, tais ideias podem ao sintonizar nessas vibrações sentir de verdade sensações que as podem transportar para outras realidades, para outras vidas.

#99 Culpa

Os pensamentos surgem incessantemente e no entanto agora era capaz de os observar, tornar ciente em si a ocorrência desses pensamentos e de como ela era o espaço onde eles se manifestavam. Ela sabia que não se limitava nesses pensamentos e que podia, através da sua atenção decidir quais eram mais importantes para ela e desse modo para aquilo que tinha de experienciar na sua realidade. Estava ciente de que era criadora da sua realidade, que tudo acontecia primeiro dentro dela e depois se manifestava na realidade externa. Isso levou-a a deixar de culpar os outros pela sua vida. 

#98 Algo superior

O desconforto era cada vez maior, a ideia de que a vida se resumia a casa trabalho, trabalho casa, num emprego das 9h às 18h, essa ideia era cada vez mais insatisfatória. Teria de haver algo mais interrogava-se ela, e essa ideia de que deveria de haver algo mais ocupava cada vez mais tempo da sua atenção. Ela era uma pessoa de fé, ainda que não tivesse nenhuma religião, ela cria que algo de superior existia, não sabia como o definir, mas nenhuma das descrições da religiões existentes na terra se aproximavam ao que ela sentia ser esse algo superior.

#97 Tal como é

De que serve estar ciente do que se é e deixar que tudo permaneça num estado de dormência. Deixar-se entregue à inação, entregue à procrastinação. Uma sensação de que se é uma fraude, que falta genuinidade. Desabafava ele junto do seu mestre. Mais do que ação nota essa sensação em ti, como ela se manifesta, tudo isso são estórias e mais estórias. Respondeu-lhe o mestre, continuando dizendo: e no entanto se está a ocorrer é perfeito que ocorra, quanto mais isso estiver presente mais simples se torna lidar com isso e aceitar que tudo é perfeito tal como é agora.

#96 Algo mais

Queria mais da vida, estava farta da rotina, sempre as mesmas tarefas, sempre as mesmas pessoas. Seria apenas isto que a vida queria dela? Sentia-se frustrada, desanimada. Acreditava que tinha muito para dar ao mundo, não sabia como, mas sentia que podia contribuir mais. A vida não podia ser só isto, era demasiado fútil o foco apenas no material, onde o último gadget era o selo que garantia um lugar especial na cadeia humana de valor. Nada disto a preenchia, tudo lhe parecia ilusório, não sabia porquê, mas a inquietude interna que sentia cada vez era mais intensa. Estava atenta.

quinta-feira, 7 de julho de 2016

#95 Entender

Tudo passa, nada é permanente, tudo é movimento, tudo se transforma nesse bailando incessante que é a vida. As emoções surgem e partem, os pensamentos surgem e partem. As pessoas surgem e partem. Aquele que está consciente delas permanece igual, é o palco ilimitado onde todas as movimentações acontecem. Estas palavras que lês escrevem-se a si mesmas, debaixo dos dedos que pressionam as teclas do computador. O pensamento sobre o que é escrito, é posterior ao que é escrito, dando a falsa ilusão que é anterior e que controla o que é escrito. Confuso? Aquele que procura entender não consegue.

#94 Entrega

“Não vales nada”, “És um falhado”, “ O mundo não precisa de ti para nada, podes desaparecer que ninguém nota”. Estes pensamentos seguiam-se em catadupa na mente dele e ocupava toda a sua atenção, fazendo-o sentir-se cada vez mais pequeno, mais insignificante, a pressão no seu peito aumentava, como que o asfixiando, a visão estava turba, tudo parecia rodar. Uma sensação de medo tomava conta dele, seria isto a morte, interrogava-se. Seria este o seu fim? Deixou-se cair no pavimento que sustinha o seu corpo, ainda estava consciente daquilo que passava, das sensações que afloravam em si. Queria desistir. Entregou-se.

terça-feira, 5 de julho de 2016

#93 Perder o chão

Aquela que está a ouvir estas palavras não existe, procura por ela e verás que não existe. Estas foram as palavras dele que a fizeram perder o chão interno, literalmente. Tudo aquilo que ela acreditava ser, cessara naquele momento. O que antes seria um terror para ela enfrentar, pois a sua personalidade era o que ela mais valorizava e só a ideia de perder tal identidade era inconcebível para ela, agora pereceu e o que resultou daí não foi o fim, mas sim um novo começo, uma nova relação com aquilo que julgava ser a sua vida. Ela é vida.

#92 Ela é vida

Aquilo que ela acreditava ser revelava-se agora como a ilusão que sempre fora. Ilusão essa criada por si, alimentada pela sua atenção e projetada na sua realidade externa que se limitava a comprovar aquilo que ela criara e como fora ela que criara não tinha como não acreditar nas provas que criara. Esse ciclo incessante ilusório era agora evidente para ela, uma vez que conseguira sair do ciclo e observá-lo desde o espaço de consciência que é. Nada existe fora da consciência que é, ela sabe que o mundo não existe fora de si, ela é o mundo, é vida.

#91 Reparar na verdade

Os pensamentos eram incessantes, surgiam em catadupa na sua mente e ela sentia que se estava a perder, que estava a ficar louca. Só que algo nela incutia-lhe uma calma serena que lhe garantia que tudo estava bem, que nada havia a temer. E com essa sensação ela entregou-se à experiência que estava a viver. O que surgiu de seguida foi um distanciamento entre os pensamentos que havia estado imersa até então e como que se via a planar sobre esses pensamentos, e tal como surgiam, partiam. Os pensamentos aconteciam nela, ela era o espaço que os permitiam acontecer livremente.