sexta-feira, 28 de agosto de 2015

#18 Só os fortes choram

“Choro para libertar as minhas emoções, não podem ser contidas dentro de mim. O choro lava os sentidos e torna-os livres para o mundo. Sei que dizem que um homem não chora. Se isso é verdade, então não sou um homem. Nem quero ser. Pois Ser algum pode ser impedido de sentir, de expressar as suas emoções. Percebes o que te digo.” “ Sim percebo-te e amo-te mais por isso. És muito homem e fazes de mim uma mulher feliz por estar ao teu lado. Por ver que não tens medo de te mostrares sem defesas. Só os fortes o fazem.”

#17 Fica comigo

“O tempo foi criado para que eu possa cuidar de ti como mereces. Para que eu possa amar cada pedaço teu, visível e invisível. Tu és o sentido da minha vida, foi para isto que nasci, para te conhecer e poder amar. Acordar ao teu lado só é igualado pelo adormecer ao teu lado. Sinto cada palavra que te digo e se achas que exagero, digo-te que são pequenas para descreverem de verdade o que sinto. A eternidade é insuficiente para te amar plenamente, tu és o universo no qual gravito. Quero-me perder nos confins do teu existir. Fica comigo”

#16 Olho para ti

“Quando olho para ti o tempo para. Mergulho nos teus olhos e deixo-me ir, leve e feliz. Sou grato à vida por me ter dado o privilégio de te conhecer e ser correspondido por ti. Posso morrer a qualquer momento, pois nada me pode tirar o que me deste. As memórias foram criadas para celebrar o amor que sinto por ti. Todos os momentos são pequenos para conter o que sinto por ti. Todos os poetas do mundo seriam insuficientes para descrever a tua beleza, que é muito mais que apenas física, ela é química, e todos os outros elementos. ”

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

#15 Umbigo

“Tu mudaste, não eras assim. Eras mais carinhoso, preocupavas-te comigo, agora nem sequer olhas para mim.” Ele respondeu-lhe “fui eu que mudei ou foste tu que mudaste? Se saíres do teu umbigo poderás ver de verdade as coisas como são. Deixa de viver no teu mundo de fantasia e desce à Terra. A vida não é como tu desejas que ela seja.” O silêncio tomou de assalto a sala. Mas os pensamentos fervilhavam na cabeça dela, ‘como ele é capaz de me culpar, eu que tudo fiz por ele. É um ingrato, eu fiz dele o homem que é hoje.’

#14 Sem perdão

Começar de novo é sempre difícil, mas é ainda mais difícil quando se vive agarrado ao passado. Quando os rancores são muitos e constituem uma bagagem pesada que se carrega onde quer que se vá. O peso desse passado esmaga o presente, pois a atenção está sempre centrada no que fizeram, no que poderia ter sido diferente, mas não foi. Ela vivia os dias culpando-o por lhe ter roubado o amor, por lhe ter roubado a vida. Ele era tudo para ela e no entanto escolheu outra, depois de lhe ter levado os seus melhores anos. Ela não lhe perdoava.

#13 Amor doloroso

Ele dizia “perdoa-me, não estava em mim. Sabes como te amo, prometo que isso não se vai repetir”. Ela acabava por perdoar, por querer acreditar que tal não voltaria a acontecer, até porque ele só fazia isso porque a amava, se ela lhe fosse indiferente ele não lhe batia. Foi criada a acreditar que o amor é doloroso, que por vezes trata-nos mal porque nos quer bem. E no entanto voltava a acontecer e ela ia ficando, não sabia o que fazer, não conhecia mais nada, ele era a sua vida, já fazia parte da sua identidade. Descansa em paz.

#12 Diz basta

Chega um momento em que é tarde de mais, sabes que tens de agir, que tens de fazer algo, pois não suportas mais, não podes tolerar mais ser espezinhada, ser destratada, como se de um farrapo se tratasse. Tão ou mais que a violência física, é a violência psicológica continuada, que mais te desgasta. Quanto mais o permites, mais longe de ti estás, deixas de ser uma pessoa, passas a ser um mero adereço que serve para ser jogado ao seu bel-prazer e tu começas a acreditar que mereces isso, que fizeste algo de errado. É hora de dizer basta.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

#11 Folha em branco

Se a vida fossem só palavras ele seria o maior dos poetas, mas quando tocava a lidar com as pessoas, aí as coisas tendiam a complicar-se para ele. Como que perdia o jeito, não sabia como se comportar, onde colocar os braços, que postura ter, o que dizer. Seria tão mais fácil se tudo fosse uma folha em branco onde pudesse bailar a caneta distribuindo a tinta por forma a comunicar os desejos, as emoções, os pensamentos secretos. Esse era o seu espaço natural para se expressar. Mas a vida tinha outros planos, ele é a sua folha em branco.

#10 Escolho acreditar

“Prometo honrar o nosso amor” disse-lhe ele, “cuidando de ti e da nossa relação. Não me deixes cair no esquecimento e abandonado à tentação alheia.” “Quero muito acreditar nas tuas palavras, elas são música para os meus ouvidos, mas já sofri tanto por amor. Não sei se aguentaria mais uma desilusão.” Respondeu-lhe ela. “ Ao teu lado sinto-me completo, sei que sou melhor pessoa. Aconteça o que acontecer, nada poderá mudar isso. Quero cavar as rugas da memória de uma vida cheia ao teu lado.” Retribuiu ele. “Sei que és sincero quando dizes isso, sinto que sim. Escolho acreditar” disse ela.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

#9 Caminhos

O céu está azul, uma imensidão de azul e nada mais. Um vento suave faz-se audível e sentir na pele. Pessoas caminhando, cada uma na sua direção, evitando chocar umas com as outras, num bailado consentido e não ensaiado. Um movimento incessante, uma pressa de chegar a qualquer lado, menos este aqui. E no entanto é aqui que tudo se encontra, mas como estamos a pensar noutro lugar qualquer, deixamos de reparar no aqui. Neste lugar o observador tudo vê, tudo sabe. O silêncio aqui tudo permite, tudo abraça. Não importa por onde vás, todos os caminhos levam até ele.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

#8 Amo isso

“Quero que a vida congele neste momento, estando ao teu lado, tudo é perfeito, nada mais necessito”. Assim pensava ele naquele momento e no entanto acabou, a relação que tinham terminou. O amor é eterno enquanto dura. O segredo está em desfrutar ao máximo de cada momento com desapego. Sabendo que o verdadeiro amor não acaba nunca, ela reside em nós. Cada ser humano é puro amor, ainda que a maior parte não saiba isso, e como tal procura fora de si uma ideia de amor que virá sob a forma de outro ser humano. Que assim seja, amo isso.

#7 Serena

Percorrendo o seu rosto com o olhar, as linhas da vida marcando o seu lugar, completando uma serena beleza de quem está bem consigo mesma. Ela gosta de si como é. Aprendeu a amar aquilo que antes considerava como defeito, aquilo que antes lhe a impedia de viver plenamente, sempre pensando no que os outros diriam dela, do modo como a veriam. Até que descobriu que nunca teve a ver com os outros, mas apenas consigo mesma. Eram os seus julgamentos que a atormentavam, era a sua insatisfação consigo que via projetado nas outras pessoas. No silêncio do Ser reencontrou-se.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

#6 Sozinha

Cansada de procurar, cansada de viver como alguém insignificante, alguém invisível que ninguém parecia reparar. Não fazia falta nenhuma. Que razão tinha para viver. A sua falta não seria notada. Só queria um laivo de atenção, um gesto de amor. Desistiu de tentar. Os dias sucediam-se uns aos outros, sempre iguais. Esqueceu do que procurava. Entregou-se ao silêncio, deixou que este a preenche-se. E o vazio acabou, afinal nunca este vazio. O silêncio sempre esteve lá, segurando a sua mão, apenas o ruído interior a impedia de o sentir. Aquilo que procurava, afinal era ela própria. Nunca mais esteve sozinha.

#5 Busca

Ela só queria alguém que a ama-se, alguém que olha-se para ela com atenção e no entanto esse alguém parecia não existir. Olhava para as outras mulheres ao seu redor e via todas com os seus respetivos companheiros e uma tristeza inundava-a. Dúvidas e mais dúvidas emergiam na sua mente. O que teria de errado? Seria assim tão feia que ninguém a quisesse? Seria assim tão má pessoa que não merecia ter alguém a seu lado? Apenas amor, era o que ela queria, nada mais. Seria pedir muito? Onde quer que fosse estava sempre atenta a ver se o encontrava.

#4 O silêncio sabe

O silêncio revela a verdade e todas as máscaras se desvanecem perante ele. O silêncio é puro e está para lá de qualquer limitação, de qualquer ilusão. O silêncio é anterior àquilo que chamas de vida e continua a existir para lá do fim dessa mesma vida. Nele todas as estórias tem cabimento, nada é excluído, mesmo isso que chamas de vida. Essa ideia de algo que tem início e que vai em crescendo de rotina em rotina, até que termina. Onde cabes tu nessa estória. Será só isso a razão do teu existir? Quem és tu? O silêncio sabe.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

#3 Algo mais



Sentar, fechar os olhos e meditar. Era o que ela queria fazer, era o que lhe diziam ser o melhor para si, uma forma de resolver os seus problemas e andar mais calma. Mas ela não queria andar mais calma, ela queria resolver a sua situação. Queria dar um rumo à sua vida. Queria que esta tivesse significado. Estava farta de ser apenas mais uma peça da engrenagem, fazendo o que era suposto fazer, o que os outros diziam que era suposto fazer. No entanto onde cabia ela, onde estava a razão do seu existir. Teria de haver algo mais.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

#2 Vozes

“Não vales nada, não mereces o ar que respiras. Sem ti o mundo seria melhor.” Impropérios ecoando na sua mente, sem fim, um incessante massacre. Ela queria parar as vozes, elas não lhe pertenciam. Mas tudo era difícil, não sabia como lidar com tais vozes. Seriam elas reais ou apenas fruto da sua imaginação? Estaria ela a ficar louca? Queria refugiar-se, queria encontrar um pouco de paz, mas não tinha como escapar de si própria. Por onde fosse teria de carregar o peso dessas vozes. Sem saber o que fazer desistiu. Deixou de lhes resistir, observava apenas e depois o silêncio.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

#1 Cem estórias,cem palavras

#1
Sem palavras, sem estórias, apenas a vida é real e não aquilo que pensas que é a tua vida. Livrando-te das estórias que crês sobre ti e que alimentas através da tua atenção, descobres o quão perfeita é a vida que acontece momento a momento. Tu és essa vida, em plenitude, tudo existe em ti, nesse imenso espaço, berço das manifestações da essência. Calcorreando as palavras que brotam na tua atenção, observando como surgem e de igual modo, partem. Indo mais além, nada mais existe, senão o silêncio. Silêncio perene envolvido em paz. Residência da essência que és, sem mais.

* primeira de cem estórias com cem palavras