Sara estava focada nos pensamentos que surgiam na sua mente, mais ainda nos espaços que surgiam entre esses pensamentos, tal como o Ricardo lhe havia dito para fazer. No início esse espaço era imperceptível, a torrente de pensamentos era tal que não conseguia ter consciência de espaço algum entre pensamentos. Mas ela perseverou pacientemente pois aquilo que lhe dizia que não havia espaço entre pensamentos era por si só mais um pensamento. Eram pensamentos sobre pensamentos. Sendo paciente, sem forçar, apenas atenta ao que surgia, ela ficou ciente da chegada e partida dos pensamentos. Pouco a pouco surgia na sua atenção uma pequena pausa de silêncio entre esses pensamentos e na medida em que se entregava a essa observação esses momentos de silêncio aumentavam de duração, sem que ela fizesse nada nesse sentido, apenas estava presente.
Ricardo sentado frente à Sara, observava a serenidade derramada pelo rosto dela. Os seus olhos fechados para o mundo exterior, permitiam um mergulho na imensidão do oceano interno. Ele apenas estava presente com ela, sincronizando a sua respiração com a dela, estabelecendo consciência dessa unicidade que é o estado natural da essência.
Ela abre os olhos e mirando nos olhos dele permaneceu por uns instantes em silêncio, num diálogo profundo de conexão onde não cabiam palavras. Estas seriam apenas ruído numa comunicação elevada em pura sintonia.
Com um sorriso é quebrado por fim o silêncio baixando ao mundo das palavras para expressar a experiência que estava a ser vivida naquele instante.
" Tem razão naquilo que me disse Ricardo, de facto consegui colocar a minha atenção nesse espaço entre pensamentos. De início não havia espaço algum, mas depois lentamente e sem qualquer esforço ou resistência da minha parte, comecei a reparar nesse silêncio que envolve cada pensamento e como esse silêncio crescia. Tomando o palco da minha atenção."
"É precisamente ai que reside, que se encontra a sua -e de cada um de nós- verdadeira natureza. Esse espaço ilimitado de possibilidades infinitas, onde todas as manifestações ocorrem. Quanto mais cientes desse imenso silêncio criador mais conectado à essência estamos. Na verdade não estamos mais conectados mas sim mais conscientes dessa conexão, pois nunca deixamos de estar conectados daquilo que somos. Nada pode existir fora da essência, fora do absoluto."
"Eu tive essa sensação de completude quando a minha atenção pousou nesse espaço de silêncio entre os pensamentos. Nunca tivera eu, nestes anos de vida que levo, a mínima noção da existência de tal espaço em mim. Vejo agora que todo esse turbilhão de pensamentos no qual estava imersa plenamente a minha atenção, me impediu de reconhecer esse silêncio perfeito que habita em mim."
" Mais do que habitar em si, ele é quem é. Não há um eu onde esse silêncio possa habitar, é precisamente o contrário, ou seja, é essa ideia de eu que se manifesta nesse imenso espaço de silêncio. Esse espaço aberto, onde tudo existe, tudo se expressa. Nada é rejeitado. Todos os julgamentos, todos os conceitos criam a ideia de separação, a ideia de escala de valores, onde uns se arrogam merecedores e outros possam ser rejeitados. No entanto tudo o que acontece é perfeito que aconteça, porque é o que acontece. Nesse espaço ilimitado surge essa história de cada experiência humana interagindo entre si. Um mundo de ideias que se iludem de ser algo que na verdade não são. E no entanto isso é parte do jogo, é aquilo que permite à perfeição da essência se tornar ciente de si, se experienciar a si mesma, através dessas ideias de limitação. E é perfeito que assim seja. Assim pergunto-lhe de novo. Onde está a Sara?"
" A Sara enquanto algo que possa mostrar não existe. Agora sim, percebo isso. Aquilo que existe é uma ideia construída, uma história formada por um conjunto de conceitos que se foram arreigando ao longo dos anos e que criaram aquilo que hoje se denomina como Sara. Poderei dizer que a Sara é um conjunto formado por este corpo e pelos hábitos que estão enraizados na mente que o controla."
"Esse corpo, como referiu, já não é o mesmo que era aquele onde pela primeira vez se deu início a essa história da Sara. O corpo que habitava em bebé, depois adolescente e agora já adulta, não é o mesmo. A regeneração celular é permanente aquilo que se manteve foi esse espaço aberto, esse imenso silêncio que lhe atribuía uma noção de conjunto. O corpo é real, pode tocar nele, ele existe por si só, mesmo sem a história da Sara agregada a ele."
Interrompendo-o Sara diz "Como é que isso é possível, sem mim este corpo continuaria a existir!!! A Sara é este conjunto, corpo incluído."
"A Sara é apenas a história construindo em torno desses conceitos todos e que crê habitar esse corpo. Sendo apenas mais um pensamento. Sem esse pensamento, sem essa história de Sara o corpo continua a existir. A respiração acontece por si só e todas as funções do corpo acontecem por si só, não havendo quem esteja a controlá-las. O ver acontece, o mastigar acontece, o caminhar acontece. E no entanto surge um pensamento que diz que há uma Sara a fazer todas essas coisas, mas sem esse pensamento todas essas coisas poderiam continuar a ser feitas."
"Mas seriamos apenas mais um animal, aquilo que nos diferencia dos animais é a consciência, a racionalidade."
" Assim é. Aquilo que lhe estou a referir não implica que seja errado ter consciência, ter racionalidade. E mais uma vez reafirmo, não o é, porque é o que acontece. Ou seja os humanos são assim, é parte da experiência humana essa racionalidade, é aquilo que permite vivenciar as diferenças. Através dos contrastes tomamos consciência daquilo que somos de verdade. O que é importante referir é que essa mesma racionalidade pode nos aprisionar e que evidentemente é a mesma que nos pode libertar dessa ilusão de existir. Apenas nós nos podemos limitar, nos podemos condicionar, iludir de ser algo menos do que somos de verdade. Sendo a nossa essência ilimitada apenas a nossa ação, a nossa escolha pode criar a ilusão de limitação dentro desse espaço ilimitado. E isso é perfeito que assim seja, é parte das regras deste jogo de ser humano. Sendo bom saber que alguns de nós despertam dessa ilusão para relembrar aos restantes que independentemente do que acontece nada pode beliscar a nossa essência. Que tudo está bem como está."
"É precisamente ai que reside, que se encontra a sua -e de cada um de nós- verdadeira natureza. Esse espaço ilimitado de possibilidades infinitas, onde todas as manifestações ocorrem. Quanto mais cientes desse imenso silêncio criador mais conectado à essência estamos. Na verdade não estamos mais conectados mas sim mais conscientes dessa conexão, pois nunca deixamos de estar conectados daquilo que somos. Nada pode existir fora da essência, fora do absoluto."
"Eu tive essa sensação de completude quando a minha atenção pousou nesse espaço de silêncio entre os pensamentos. Nunca tivera eu, nestes anos de vida que levo, a mínima noção da existência de tal espaço em mim. Vejo agora que todo esse turbilhão de pensamentos no qual estava imersa plenamente a minha atenção, me impediu de reconhecer esse silêncio perfeito que habita em mim."
" Mais do que habitar em si, ele é quem é. Não há um eu onde esse silêncio possa habitar, é precisamente o contrário, ou seja, é essa ideia de eu que se manifesta nesse imenso espaço de silêncio. Esse espaço aberto, onde tudo existe, tudo se expressa. Nada é rejeitado. Todos os julgamentos, todos os conceitos criam a ideia de separação, a ideia de escala de valores, onde uns se arrogam merecedores e outros possam ser rejeitados. No entanto tudo o que acontece é perfeito que aconteça, porque é o que acontece. Nesse espaço ilimitado surge essa história de cada experiência humana interagindo entre si. Um mundo de ideias que se iludem de ser algo que na verdade não são. E no entanto isso é parte do jogo, é aquilo que permite à perfeição da essência se tornar ciente de si, se experienciar a si mesma, através dessas ideias de limitação. E é perfeito que assim seja. Assim pergunto-lhe de novo. Onde está a Sara?"
" A Sara enquanto algo que possa mostrar não existe. Agora sim, percebo isso. Aquilo que existe é uma ideia construída, uma história formada por um conjunto de conceitos que se foram arreigando ao longo dos anos e que criaram aquilo que hoje se denomina como Sara. Poderei dizer que a Sara é um conjunto formado por este corpo e pelos hábitos que estão enraizados na mente que o controla."
"Esse corpo, como referiu, já não é o mesmo que era aquele onde pela primeira vez se deu início a essa história da Sara. O corpo que habitava em bebé, depois adolescente e agora já adulta, não é o mesmo. A regeneração celular é permanente aquilo que se manteve foi esse espaço aberto, esse imenso silêncio que lhe atribuía uma noção de conjunto. O corpo é real, pode tocar nele, ele existe por si só, mesmo sem a história da Sara agregada a ele."
Interrompendo-o Sara diz "Como é que isso é possível, sem mim este corpo continuaria a existir!!! A Sara é este conjunto, corpo incluído."
"A Sara é apenas a história construindo em torno desses conceitos todos e que crê habitar esse corpo. Sendo apenas mais um pensamento. Sem esse pensamento, sem essa história de Sara o corpo continua a existir. A respiração acontece por si só e todas as funções do corpo acontecem por si só, não havendo quem esteja a controlá-las. O ver acontece, o mastigar acontece, o caminhar acontece. E no entanto surge um pensamento que diz que há uma Sara a fazer todas essas coisas, mas sem esse pensamento todas essas coisas poderiam continuar a ser feitas."
"Mas seriamos apenas mais um animal, aquilo que nos diferencia dos animais é a consciência, a racionalidade."
" Assim é. Aquilo que lhe estou a referir não implica que seja errado ter consciência, ter racionalidade. E mais uma vez reafirmo, não o é, porque é o que acontece. Ou seja os humanos são assim, é parte da experiência humana essa racionalidade, é aquilo que permite vivenciar as diferenças. Através dos contrastes tomamos consciência daquilo que somos de verdade. O que é importante referir é que essa mesma racionalidade pode nos aprisionar e que evidentemente é a mesma que nos pode libertar dessa ilusão de existir. Apenas nós nos podemos limitar, nos podemos condicionar, iludir de ser algo menos do que somos de verdade. Sendo a nossa essência ilimitada apenas a nossa ação, a nossa escolha pode criar a ilusão de limitação dentro desse espaço ilimitado. E isso é perfeito que assim seja, é parte das regras deste jogo de ser humano. Sendo bom saber que alguns de nós despertam dessa ilusão para relembrar aos restantes que independentemente do que acontece nada pode beliscar a nossa essência. Que tudo está bem como está."
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