"A Sara pare um momento e observe esses pensamentos que surgem. Perguntou será isto a loucura, essa pergunta é mais um pensamento que surge nesse espaço ilimitado de consciência que é. Todas essas dúvidas que surgem são pensamentos e mais pensamentos. E estes são intermináveis pois continuam sendo alimentados pela sua atenção. Parando de os alimentar eles continuarão a surgir, mas aquilo que muda é a sua relação com eles. E progressivamente terá mais atenção para aquilo que é a verdade, para a essência que é. Só conhecendo quem é de verdade poderá cessar essa busca continua por saber, por saber mais. Enquanto não conhecer quem é de facto a busca não cessa, pois a cada resposta novas dúvidas se levantam."
" Pois entendo aquilo que me diz, faz todo o sentido para mim. Mas quando é que eu verei as coisas desse modo? O que mais preciso de fazer para lá chegar?"
" Na realidade não precisa de fazer nada. O momento em que o pode fazer, respondendo à sua questão, esse momento é agora. Neste momento, se estiver disposta a abandonar todas as barreiras, a quebrar todos os porquês. Eu poderei apontar-lhe o caminho, mas é a Sara que o tem de percorrer, mais ninguém o fará por si."
" Okay, estou disponível para o fazer."
"Quem é que está disponível para o fazer?"
" Eu, eu estou disponível para o fazer agora."
" Eu quem?" Onde está esse eu? Pode-me mostrar?"
"Pois voltamos ao mesmo." Fazendo uma pausa silenciosa acompanhada de um suspiro ela continuou dizendo, " sim, já me disse que este eu é uma mera ideia, um pensamento. Que não o encontro em lugar algum. E de facto assim é, não o consigo mostrar. E então o que vem depois disso?"
" Nada, não vem nada. Já está aqui tudo o que tem de estar. O que julga faltar e que espere que possa chegar?"
"Falta a certeza, o sentir que sou iluminada. Ter essas experiências que muitos já relataram de êxtase, de amor incondicional. É isso que me falta e que tanto desejo."
"Olhe com atenção, mergulhe dentro de si. Isso são mais pensamentos a debitar na sua atenção. Criou uma estória sobre o que será ser iluminada e criou expectativas que espera que sejam cumpridas. E como não chega essa experiência imaginada, vai duvidando mais e mais. E como acrescento nessa estória "criou" as provas de que são reais através da suposta experiência de outras pessoas."
Interrompendo-o Sara diz, " Então como faço para discernir os pensamentos que surgem daquilo que sou eu de verdade?"
"Quem é que tem de fazer o quê?"
"Eu, pois... já sei o que vai dizer..."
"Pergunto-lhe quem é que está a ouvir neste momento os pensamentos?"
"Quem é que está a ouvir os pensamentos!!! Nunca tinha pensado nisso desse modo." E depois irrompe numa gargalhada sonora. "Lá está, nunca tinha pensado nisso. O pensamento sempre presente."
" Para haver pensamentos tem de haver quem o ouça, quem o rececione. É ai que se encontra, não nas roupagens que se habitou a crer ser as suas, mas sim quem é em essência. Os pensamentos surgem nesse espaço ilimitado. Fazendo auto-inquérito liberta espaço em redor dos pensamentos e repara que não é esses pensamentos, mas sim quem está atento a eles, quem os ouve. Mas investigue por si."
" Sim enquanto ouvia o que falava, um pensamento dizia isso é tudo tretas e de seguida outro dizia será possível que contenha verdade em tudo isto. E no entanto eu consegui observar esses pensamentos como se fossem algo que aparecia à minha frente, mas que não era eu. Esta é uma sensação estranha assim de repente."
" E no entanto tudo isso que referiu são mais pensamentos sobre pensamentos. Todas essas classificações, essas suposições são mais ideia, mais pensamentos. Observe apenas como surgem, procure os espaço entre pensamentos. De início pode parecer difícil reparar nos espaços mas se se focar começará a tomar atenção nos mesmos e eles parecem que aumentam a sua duração. E verá que tal como uma tela de cinema não se altera independentemente do filme que lá seja projetado. O espaço ilimitado que é não se altera independentemente dos pensamentos e experiências que aí ocorram."
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