quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

#47 Reflexo

Daniela saíra da sua sessão com o Ricardo com uma sensação de diferença sobre tudo aquilo que julgava ser. Sentia que estava em causa tudo aquilo que tinha como certo para si. Todas as certezas sobre manter o controle relativo à sua pessoa e ao que permitia que lhe afeta-se, estavam agora em causa. Nada do que lhe parecia permanente continuava a beneficiar dessa certeza. A necessidade de controle deixava de ser uma necessidade e essa diferença que sentia induzia uma sensação de bem-estar. 
Pela primeira vez o não saber o que seria o momento seguinte e como o controlar para evitar surpresas, era algo que não causava desconforto.  Olhando para si aquilo que de verdade estava a mudar era a sua relação consigo mesma. Tudo ao seu redor continuava sendo como sempre foi, os olhos que olhavam para essas coisas, essas pessoas, é que haviam mudado. Era essa a única diferença.
Só que essa sensação de bem-estar perdura até ser testada de novo em contacto com a realidade em que cada um de nós se movimenta. Seja numa situação de trânsito em que um carro se atravessa à frente e nos faz perder as estribeiras. Seja um comentário de um colega ou familiar. As mudanças que percecionamos em nós são testadas por forma a reconhecermos se de facto ocorrem ou são apenas momentâneas.
Tudo o que acontece na nossa realidade espelha o mundo interior de cada um de nós e é precisamente as situações e pessoas que mais nos desagradam que melhor sinalizam até que ponto nos conhecemos de verdade. São a melhor ferramenta de autoconhecimento, pois a forma como lidamos com os outros, a forma como os tratamos nada tem a ver com o comportamento deles como somos levados a julgar à partida, mas sim, tem a ver connosco próprios.  Temos depois dois caminhos passíveis de ser seguidos, ou escolhemos ser vítimas e culpar tudo e todos dos nossos infortúnios. Ou escolhemos fazer as pazes com a realidade, pois esta tem sempre razão. E aceitamos e aprendemos com tudo o que ocorre. 
As escolhas que fazemos em cada momento serão sempre as adequadas ao nosso nível de consciência. E podemos sempre escolher de novo.
A Daniela continuou a ser importunada pelas mesmas coisas de sempre. Aquilo que despoletava a sua reação de agressividade e de defesa continuou a existir na sua realidade. No entanto ela tomou consciência de uma diferença que se revelou significativa e que era o tempo que ela se permitia estar submersa nesses conflitos, nas reações que permitia surgirem em si. Antes sempre que se via envolvida numa situação que desarranjava as suas emoções, que lhe revoltavam as entranhas; os seus pensamentos constantemente a faziam reviver essas situações, muito tempo após o término das mesmas. Agora no entanto quando ocorriam essas situações e após o término das mesmas ela conseguia se desligar da situação e ganhar uma perspetiva alargada da situação. O que lhe permitia aprender algo sobre si e a forma como reagiu, sendo um ganho que lhe permitia evitar ou pelo menos reduzir ao mínimo que se repetissem.

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