sexta-feira, 21 de março de 2014

#63 Reflexo

"Essas situações que ocorrem na sua realidade, Sara, e que lhe mostram uma diferença relativamente ao que acontecia antes de ter iniciado este processo de autoconhecimento. Elas mostram apenas um novo olhar que se permite ter sobre quem é e que se reflete na sua realidade. Na medida em que for se conhecendo mais e mais, as provas dessa conexão à essência serão mais presentes até que chegue o momento em que deixe de ser necessário mais provas, em que deixe de ser necessário relembrar quem é de verdade. Quando ocorrer esse momento e será quando estiver preparada que ele aconteça, todas as dúvidas terminam, todas as questão se desvanecem. Pois os limites que acredita ter são libertados da ilusão, são visto como são realmente. A totalidade do sentido do que lhe estou a dizer neste momento não é entendido por si, nem pode ser. O que lhe estou a falar não é para ser entendido, compreendido intelectualmente, mas sim para ser experienciado. Só pela sua vivência do que é, o que é ilusório deixa de o ser."
"É isso que eu desejo que aconteça. É isso que eu confio e estou recetiva a ser guiada pela essência para que terminem todas as dúvidas, para que termine esta busca pelo saber, pelo conhecimento." Disse a Sara." Desejo que a dor não volte mais, que o sofrimento não me visite mais."
Interrompendo-a o Ricardo replicou, "Quando isso acontecer, o que não volta mais é esse desejo que não volte mais. Porque o sofrimento e a dor continuam a existir, o que não existe é a ilusão de alguém que sofre, alguém que tenha dor. Elas existem por si só neste espaço de consciência que é, onde cada uma destas ideias de limitação se manifesta. A experiência humana é feita de contrastes são estes que permitem a tomada de consciência da consciência de si mesma. A personalidade existe na essência e sem esta ela não existe, no entanto sem a personalidade a essência continua a existir. É a função destas ideias de limitação, destas personalidades através do inter-relacionamento tornar ciente a consciência de si mesma. Pois sendo ela perfeita apenas na sua fragmentação pode experienciar o prazer da descoberta da plenitude, da sua perfeição."
O silêncio quebrava o diálogo e libertava espaço para que o seu efeito dissipasse a desatenção. Mergulhando no silêncio era permitido observar o ruído interno, os rumores dos pensamentos fazendo-se insurgir, vagueando pela mente. 
Os olhares daqueles dois seres perscrutavam um ao outro, num aconchego já familiar, porque na verdade qualquer diálogo entre dois humanos, não é senão um monólogo da essência.
A energia emanada por eles já não oferecia resistência no seu encontro, de facto a maior conversação entre eles era o que acontecia fora das palavras. As palavras por si só são uma distração, são uma barreira para manter o outro à distância e levá-lo a centrar-se na sua realidade externa.
Quando o poder do silêncio impera os ruídos da separação cessam, o amor essencial mostrasse presente e tudo flui livremente.
Banhados nesse silêncio, nessa energia de puro amor e sem trocarem mais palavras, termina a sessão. Despedem-se com uma abraço e de seguida Sara retira-se para o exterior da casa envolta nessa conexão ao todo, apreciando tudo ao seu redor como se pela primeira vez. 
As cores ganham um novo brilho, uma tonalidade mais intensa, mais vibrante. Ela toma consciência da vida que gravita em seu entorno, que gravita em si, ela é tudo isso. As barreiras que pareciam existir entre ela e a sua realidade, não existem mais. Era quebrada a ilusão de pequenez, a ilusão de uma relação dela com o mundo. Sabia agora que sempre se relacionou consigo mesma. Que tudo é simplesmente perfeito assim como é. Deixando cair os conceitos as ilusões terminam, eram os conceitos que colavam os pedaços da personalidade, eram a cola da separação.

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