Ricardo havia terminado a sessão com a Sara recomendando-lhe que continuasse a observar os pensamentos que surgiam e as emoções que despertavam em si. E que o fizesse sem se esforçar, sem tentar condicionar aquilo que surgisse. Que procurasse estar focada no momento presente como ele se apresentasse.
Quando saía das sessões com o Ricardo, a Sara sentia uma leveza, sentia que a carga sobre si, como que se desvanecia. Uma clareza e uma sensação de que tudo era perfeito assim como era, tornava-se latente em si. Ainda que fosse de curta duração, pois rapidamente o tumulto dos pensamentos dentro de si, tomavam conta da situação e levavam consigo todas as certezas que por momentos se permitia experienciar.
Normalmente caiam esses pensamentos nos relacionamentos falhados que havia tido e no quanto sofrera ao entregar-se de corpo e alma, àqueles que julgava serem os complementos perfeitos do seu ser. Tinha dado tudo o que possuía em si, procurava sempre agradar e servir o contentamentos dos seus companheiros. E o que acabava sempre por receber era alguma indiferença, gestos mecânicos e rotinas estabelecidas sempre em função das vontades deles, ignorando as suas. Ainda que o visse assim agora, à distância do tempo corrido, pois no momento em que estava mergulhada nessas relações, ela não tinha a noção que se anulara ao cumprimentos dos caprichos alheios em prole da aceitação e da atenção dos companheiros.
A revolta que sentia, que ainda habitava em si, por muito que já estivesse mitigada pela ação do tempo e desta sua busca pelo autoconhecimento. Surgia por vezes com força e diminuía a vontade de seguir em frente, atirando-a para um canto de significância tolhida. Fazendo-a sentir-se como a mais infeliz entre os infelizes. Mas quando isso acontecia, ela tinha agora a capacidade de impedir que tais pensamentos a acorrentassem. E isso ela agradecia ao Ricardo e tudo o que ele despertara nela.
Ela sabia que a sua hora estava prestes a chegar, sentia que algo de muito bom estava para surgir e varrer a sua vida de todo o lixo sentimental acumulado. Não tinha como justificar de onde surgira tal certeza, apenas intuía que assim era.
Estava decidida a desfrutar da vida que merecia e tal como ela se apresentasse, recetiva a entregar-se completamente, mas desta vez à sua essência e não às vontades de outro humano.
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