"A Sara tem um desejo grande de mudar, vejo que é algo que quer muito, mas é precisamente esse desejo que mais obstáculo cria a que alcance o que tanto deseja. Porque, como já lhe disse, tudo aquilo que procura, já existe em si, já é tudo isso. Ainda que aquilo que julga ser o desejável para si, possa ser diferente daquilo que é, daquilo que é a sua essência. A solução para encontrar o que procura... dizendo de outro modo, para se encontrar, reside na simplificação. Nós enquanto humanos tendemos a complicar aquilo que é simples e perfeito, só que não temos a consciência disso mesmo, mas a boa notícia é que é suposto ser assim, dai que tudo isto seja uma piada cósmica, como alguns mestres do passado chamaram. Resumindo isto que quero dizer de uma forma simples, é o seguinte... sendo a nossa essência perfeita e una... só tornando em duas partes se pode experienciar a si mesma, é essa a função da dualidade... permitir que a essência se experiencie a si mesma. Só que para que isso seja efetivo as partes que resultam dessa divisão perdem a consciência da sua origem, perdem a consciência da sua natureza una, imutável e intemporal. O que se passa é que algumas partes limitadas vão tomando consciência da sua origem como forma de ir relembrando aos restantes aquilo que são e que tudo o que estão a passar, todas estas experiências são ilusórias face à sua essência, sendo no entanto bem reais enquanto vivência nestas vestes limitadas, de um ser humano."
Reparando na expressão de surpresa e pensativa da Sara ao ouvir as suas palavras, Ricardo disse-lhe de seguida, "esta informação precisa de ser processada por si, haverá alguma resistência do ego, em aceitar estas ideias, estes conceitos que para ele são de difícil compreensão, mas pouco a pouco, ao seu ritmo, irá criando espaço de entendimento e na medida que for expandido o seu nível de consciência, ele já não volta ao seu nível anterior."
"Realmente é difícil de aceitar assim, sem mais nem menos, tudo aquilo que me disse. Pois se somos assim tão perfeitos. Qual a utilidade disto tudo, porque passar por tanto sofrimento, para voltar tudo ao mesmo? Só mesmo sendo uma piada, e de mau gosto pela forma como a consigo entender neste momento, para que isto seja assim."
"Percebo que seja aparentemente difícil de assimilar a utilidade disto tudo, eu próprio já passei por todas essas dúvidas. Já me coloquei todas essas e muitas mais questões sobre a veracidade de tudo isto, sobre a utilidade para que tudo seja assim desse modo. E no entanto não é suposto ser entendido na sua totalidade para ser desfrutado, para ser vivenciado em pleno enquanto humanos vivendo esta experiência. Mas é essa busca por compreender, por ter as respostas todas que mais nos afasta da verdade suprema, da simplicidade de tudo isto. Porque é precisamente o contraste, essas ideias de separação, de que enquanto humanos nos falta algo, que nos faz agir, que nos faz procurar, que faz com que este processo entre em ação e permita que todas as possibilidades possam ser experienciadas pela essência. Por si só isto é perfeito que seja assim desse modo e o propósito do despertar, do elevar do nosso nível de consciência é de nos desapegarmos dos efeitos destas experiências. Ou seja, quando sofremos, ou quando estamos muito felizes, estar cientes que nada disso afeta a nossa essência. Que aconteça o que acontecer continuaremos a ser eternos e imutáveis. E essa consciência permite-nos ser livres para desfrutar em pleno da vida enquanto humanos, com todas as suas aventuras e desventuras, com todos os seus altos e baixos."
Assim terminou mais uma sessão tendo pedido à Sara para deixar toda essa informação ser assimilada por ela, que deixasse fazer o efeito que tivesse de fazer, sem forçar o seu entendimento, que quanto menos forçasse mais depressa entenderia. E que continuasse a tentar observar os pensamentos.
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