Um caloroso sorriso dava inicio a mais uma sessão, era a terceira, da Sara com o Ricardo, desde que ela escolhera que ele fosse o seu guru, aquele que a ajudaria a despertar para a realidade dela própria, que a ajudaria a conhecer-se de verdade, sem filtros, sem enganos.
"Seja bem vinda Sara, então como correu a sua semana. Permitiu-se observar os seus pensamentos como a desafiei a fazer na semana passada?"
" Eu bem tentei, mas os pensamentos são incessantes, quando procurava observar, lá vinha mais um pensamento que me levava a atenção. Só por breves momentos conseguia observar o que estava a pensar. O conceito de que eu não sou os meus pensamentos, ainda que faça sentido para mim, não consigo na prática, realizar que assim seja. Porque os pensamentos estão sempre presentes para mim, mesmo quando tento meditar eles estão presentes, dai que eu não consiga meditar em condições. Será que alguma vez conseguirei ser assim, como o Ricardo?"
"Começando pela sua observação final, digo-lhe que não poderá ser como eu...porque já o é. Não se pode tornar em algo que já é, não pode obter algo que já existe em si. A sua essência é perfeita assim como é, neste momento, nada precisa de fazer para ser como é. Neste caso seria mais apropriado dizer que precisa de menos, muito menos, do que julga ser, para relembrar quem é de facto. Eu sei que neste momento, ainda que queira muito acreditar naquilo que lhe digo, lhe pareça difícil perceber que assim seja, que já é perfeita sendo como é. E no entanto por muito paradoxal que pareça, isso é perfeito que assim seja. Simplificando o que lhe quero dizer é... que nada acontece por acaso, tudo o que ocorre está de acordo com o nosso nível de consciência e na medida em que formos elevando o nosso nível de consciência o entendimento daquilo que é, torna-se mais evidente para nós. Tudo começa a fazer mais sentido. Esta ideia limitada que temos sobre nós, ou seja, o ego, esta condição humana não consegue compreender a totalidade do Ser, a plenitude da essência. Só suplantando o ego o poderemos fazer."
"E como é que suplantamos o ego? Como é que isso se faz?"
"Precisamente através da observação, através do auto-inquérito. Quando começa a observar a atividade da mente, o bailado constante dos pensamentos se pavoneando em frente da sua atenção. Esse bailado reduz a intensidade e a atenção repara que é o salão de baile e não o bailado em si. Ou seja, que não é os pensamentos, mas sim quem está ciente deles e que estes só tem o poder que a sua atenção lhes permite ter."
"Isso parece-me muito difícil. Julgo que ainda não estou preparada para ter esse nível de consciência."
"É essa ideia que não está preparada que a impede de ver que toda a preparação já ai está, que está pronta para isso, e a maior prova, é que está a ouvir isto agora, é que está aqui comigo agora a falar sobre isso. De um ponto de vista mais amplo, eu sou apenas uma projeção da sua mente, logo este diálogo, é verdadeiramente um diálogo consigo mesma. A realidade é um espelho do nosso interior, as pessoas e situações que surgem na realidade estão a comunicar connosco, são mensageiros da essência que nos sinalizam o caminho de regresso a casa, de regresso à essência, que na verdade nunca deixamos."
" Então o que me está a dizer é que eu é que fiz com que os meus relacionamentos não funcionassem, que este desconforto, esta sensação de não pertença, tudo isso é uma mera projeção minha?"
" Tudo o que aconteceu e acontece na sua vida, na minha, na de qualquer ser humano, é isso mesmo, uma projeção do seu interior, e por muito que se faça, se não se lidar como tudo isso que ocorre, dentro de cada um, aquilo que é exterior continuará igual, ainda que por vezes acreditemos que as mudanças que fazemos produzam efeitos, estaremos a entrar em situações similares, mudando apenas alguns cenários e atores dessa projeção. Até que o façamos dentro de nós, pois é apenas dentro que as mudanças que desejamos ocorrem." Um momento de silêncio pairou entre eles para permitir que as ideias tomassem o seu lugar, e o sentido que traziam se fizesse sentir.
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