A Sara assimilou as palavras do Ricardo e de seguida partilhou as dúvidas que a assaltavam.
"Eu percebo o que me diz e como lhe disse foi dado esse click em mim, de saber que é a minha atenção que valoriza os pensamentos que ocorrem em mim. Só que isso é algo temporário, pois a maior parte do tempo, estou de tal forma mergulhada nos pensamentos, que a minha atenção está toda focada nisso. Perco a noção de que controlo a atenção e na verdade, sinto que sou os pensamentos. A minha consciência é que sou o que penso. Como é que eu posso combater isso?"
"Na verdade essa ideia de combater só irá reforçar em si a crença de que é os pensamentos, irá reforçar a sua incapacidade de lidar com os pensamentos que a sobressaltam, como disse. Em vez de combater pode escolher estar presente no aqui e agora, onde verdadeiramente vive, onde existe de facto. Os pensamentos que surgem não são o presente, eles são sempre baseados no passado, nunca são o presente. Aqueles pensamentos que surgem automaticamente na sua consciência, mesmo relativos a situações do presente, estão referidos ao passado, eles usam o passado como filtro, como forma de avaliar o que ocorre neste momento. E nesse processo de interpretação o que acontece é que desvia a sua atenção do agora e é projetada para o passado.Procurando ai as referencias que estabelecem um julgamentos daquilo que percecionou no presente. Noutros momentos os pensamentos vagueiam para o futuro, criando uma ânsia sobre aquilo que desejamos que seja, mas sempre baseados naquilo que foi o passado. E nesta dança permanente dos pensamentos entre o passado e um futuro desejado, a vida que é, continua a acontecer, continua sendo como é, só a sua atenção é que não está presente para a viver."
" E o que tenho de fazer para estar presente, para fazer parar os pensamentos que surgem na minha mente?"
" Aquilo que tem de fazer é...nada. Não tem de fazer nada, pois esta ideia de ter de fazer algo é uma resposta do ego para continuar a controlar a sua atenção. A Sara e qualquer outro ser humano, já é perfeito assim como é. A nossa essência é perfeita e imutável." Interrompendo-o disse a Sara "mas se não fazemos nada. Então qual é o propósito de tudo isto? Estou condenada a ser sempre assim, a cruzar os braços e nada fazer!!!"
"Tudo acontece como tem de acontecer e o momento certo para acontecer. De uma forma muito simples como gosto de fazer, porque de facto, é assim tão simples de verdade.O propósito de tudo isto é viver, nada mais que viver. E para viver basta estar presente, experienciando tudo o que é, pelo que é. Aquilo que enquanto humanos consideramos problemas resulta da diferença entre aquilo que julgamos que é a nossa realidade e aquilo que desejávamos que fosse. É esse desejo que seja outra coisa qualquer que desvia a nossa atenção daquilo que é e desse modo reconhecer a perfeição daquilo que é. Tudo isso é parte do jogo do ego de 'busca e não encontres' que leva para fora deste momento a atenção, sempre em busca de algo mais e nunca satisfeito com o que vai obtendo. Será isso bom ou mau?...Será aquilo que fizermos disso, é o jogo em si e foi isso que viemos aqui fazer, participar do jogo. No entanto a nossa participação será tanto melhor quanto melhor a desfrutarmos e isso consegue-se vivendo tudo o que acontece de uma forma desapegada, ou seja, experienciando tudo sabendo que aconteça o que acontecer nada pode beliscar a nossa essência. E sim teremos momentos de dor... então sintamos a dor na sua plenitude. E sim teremos momentos de alegria... então sintamos a alegria na sua totalidade. O que quer que ocorra aqui, enquanto humanos, passa, tudo passa... tudo acaba. A única coisa permanente é a nossa essência"
Sara absorvia cada palavra proferida pelo Ricardo, cada som verberava na pele do seu corpo, em cada célula do seu ser. Tudo aquilo parecendo tão novo para ela, era no entanto tão familiar. Tudo fazia sentido, mas sem racionalizar, era uma certeza sem explicação.
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