Sentado no
divã da vida, qual diva aguardando ser servida. Ninguém é mais servil, podemos
fazer a escolha de ser livres. Qual desejo encantado, entroncado nos
pensamentos que vagueiam nas trevas de um mundo alterado. Onde cada um por si é
alertado das opções de suplantar o outro. Não vertas mais a tua energia para
essa ideia de separação. Eu decido aquilo a que me dedico. Não traves a tua
vida procurando poções mágicas, tu és perfeita.
sábado, 30 de novembro de 2013
sexta-feira, 29 de novembro de 2013
#35 Reflexo
Sentando-se na cadeira, Daniela sentiu que esta era confortável, o que condizia com o espaço, que sendo pequeno transmitia uma sensação de conforto, uma sensação de paz e harmonia. Estava agora, frente a frente com o Ricardo, sendo esta a sua primeira sessão. Procurava ali encontrar sentido para aquilo que vinha acontecendo com ela nos últimos meses, desde o final do workshop que tivera com ele.
Feitas as devidas apresentações e cumprimentos, a Daniela começou por explicar quais eram os seus objetivos. O que ela queria era ganhar novamente o controle sobre a sua vida, que sentia que havia perdido em face dos últimos acontecimentos na sua vida. Para melhor enquadrar o porquê de estar ali, ela relatou o sonho que havia tido e em que entrava o Ricardo. Ela ficara com a sensação que ele teria um papel importante para que conseguisse alcançar os seus objetivos. Se havia algo que ela detestava, era perder o controle. O não saber o que fazer, o ser assimilada pelas suas dúvidas e perder-se nesse processo.
Após ouvir com atenção tudo aquilo que a Daniela disse, ele perguntou:
"Vejo que o controle é muito importante para si. O que é manter o controle para si?"
"O controle para mim é... ser eu mesma. É saber quem sou e escolher para onde quero ir. Não gosto que as coisas sejam decididas por mim. Andar ao sabor das vontades alheias."
" E quem é você, então?"
" Eu sou a Daniela. Vivo na Maia, trabalho num banco. Sou casada, ainda não tenho filhos. E tenho conseguido atingir os meus objetivos, porque sempre estive ao leme da minha vida. Nunca deixei os outros escolher por mim."
"O que acha que aconteceria se perdesse o controle?"
"Tenho receio de me perder, de deixar de ser quem sou. Para ser totalmente honesta e para que perceba de verdade aquilo que penso sobre isto. Tenho de lhe contar o porquê desta necessidade de controle. Para mim trata-se de uma questão de sobrevivência. Uma questão de manter a sanidade mental. Quando tinha catorze anos houve um acontecimento que me marcou bastante e à minha família..." Fez uma pausa, vendo-se que estava a ficar emocionada ao proferir estas palavras, continuou dizendo: "tenho uma irmã mais velha a quem foi diagnosticado esquizofrenia, mas até chegar a esse momento aconteceram episódios que foram marcantes. Tudo começou com choros descontrolados, acompanhados de relatos que não faziam sentido, do género de que tinham levado o seu filho, que andavam atrás dela. Coisas desse género, o que assustou bastante todos nós lá em casa, sem saber o que fazer. Os meus pais levaram-na a vários especialistas e foram obtendo alguns diagnósticos diferentes, desde esgotamentos, depressões, psicoses até que chegaram a esquizofrenia. Ao longo desse processo em que foi acompanhada por diferentes especialistas, foi tomando medicação, que de alguma forma pioravam as coisas, devido aos efeitos secundários, fazendo com que por vezes surgissem episódios de violência. Resumindo, como deve imaginar tudo isto foi muito desestruturante na família. Ninguém estava preparado para uma situação daquelas. Eu nunca tinha ouvido falar deste tipo de doenças. Logo tudo isto foi um choque para mim e prometi a mim mesma não me deixar perder o controle. Perder a noção de quem eu era. E procurei ler tudo o que podia sobre saúde mental, desde que ligado à ciência. Como é natural, os meus pais procuraram respostas em tudo o que era sitio, desde a medicina convencional à alternativa, passando pela religião até às mezinhas populares. Tudo tentaram. Hoje está estável tomando a medicação convencional para estes casos. Ainda que viva num mundo só dela. Como vê, é dai que vem a minha necessidade de controle."
" Isso que me contou é uma história. É algo que ocorreu no passado, mas que ainda está bastante vivo dentro de si. É notório pela forma como me contou e como isso a afecta. É perfeitamente natural que esse tipo de doença, do foro mental, que ainda é uma área, onde apesar dos progressos da medicina tradicional, muito há ainda a conhecer. Seja uma área que mais receio incuta nas pessoas, precisamente pelo desconhecido e pelos efeitos que se manifestam nas pessoas que padecem dessas doenças. Mesmo nas medicinas alternativas existem poucas explicações para esse tipo de doenças. Aquilo que é a minha visão disto, pode ser visto sob dois níveis, se quiser. E que são, num nível de entendimento humano este tipo de doenças são um confronto connosco próprios, servem como um despertar para irmos ao encontro sobre quem somos. Que nos voltemos para dentro e permitamos a essência brotar na nossa consciência. A vida vai nos dando sinais para que despertemos, por vezes o que acontece é que ignoramos esse chamado. Dai que a vida nos envie sinais mais fortes que nos façam mesmo reparar naquilo que temos de reparar para que lidemos de frente com essas situações, por vezes de limite, como as doenças e acidentes; e então sim possamos ao lidar com essas situações elevar o nosso nível de consciência e conhecer quem somos de verdade. O outro nível que referi, tem a ver com a nossa essência, ela é perfeita como é. É um espaço de consciência que se manifesta em múltiplas formas e que através destas experiências humanas se experiencia a si mesma. Através destas limitações lidando umas com as outras, a consciência torna-se ciente de si mesma. E estas doenças servem para que os humanos tenham uma espécie de "lembrete" que lhes faz despertar deste condicionamento e relembrem que não somos um corpo e a mente que o controla. por muito que o corpo "sofra" a nossa essência é imutável e perfeita assim como é. No entanto esse despertar para a verdade não acontece com todos os humanos, podendo no entanto qualquer um despertar se assim o escolher. Acontece com alguns que servem de exemplo e guias para os restantes por forma a lhes recordar que aconteça o que acontecer nesta vida humana, nada pode beliscar a essência una. E que pegando no seu caso, não tem mal nenhum perder o controle, porque na verdade não tem esse controle. É essa necessidade de controle que impede de relembrar quem é de verdade e no entanto como tudo é perfeito e equilibrado como é, acontecem este tipo de situações que nos fazem perder o controle para vermos que nunca o tivemos e que nem precisávamos de o ter."
quinta-feira, 28 de novembro de 2013
Simplesmente viver
Quebrar a ilusão de dualidade
ser amor sentindo medo
ter medo sendo amor
a incompletude que procura ser inteiro
uma ideia que vagueia
nesse imenso espaço de pura essência
pura presença
anterior a todas as manifestações.
A vida tomando nota de si
jogando nos contrastes
nas diferenças que não o são
existindo apenas para relembrar
vezes sem conta
o quão bom
é viver.
Simplesmente viver
a vida como ela é.
ser amor sentindo medo
ter medo sendo amor
a incompletude que procura ser inteiro
uma ideia que vagueia
nesse imenso espaço de pura essência
pura presença
anterior a todas as manifestações.
A vida tomando nota de si
jogando nos contrastes
nas diferenças que não o são
existindo apenas para relembrar
vezes sem conta
o quão bom
é viver.
Simplesmente viver
a vida como ela é.
quarta-feira, 27 de novembro de 2013
#34 Reflexo
A Sara estava cada vez mais empenhada em seguir os conselhos do Ricardo, sobre permitir-se observar os pensamentos que ocorrem em si, sem se apegar, sem ir atrás deles. Permitindo-se apenas reconhecer as sensações, as emoções que a perpassam em face de tais pensamentos. Focar-se nos espaços entre pensamentos, ainda que lhe seja difícil percecionar tal espaço. Lentamente tem conseguido notar nesse breve intervalo entre pensamentos e cada vez que pratica, maiores parecem esses intervalos intercalando os pensamentos que assomam na sua mente. Uma prática que a tem ajudado bastante, é a atenção plena, como lhe explicou o Ricardo, essa prática passa por estar presente, plenamente presente em cada momento como ele é. Ela gosta de o fazer notando a respiração, no caso dela a sua respiração é predominantemente abdominal e como tal ela gosta de reparar no seu abdómen a estender quando inspira e a distender quando expira, sem forçar o movimento natural da respiração, apenas estando atenta a ela. Outro momento onde ela gosta de praticar a atenção plena é na realização das tarefas domésticas, enquanto antes nesses momentos ela perdia-se nos seus pensamentos, na realidade eram uma tortura permanente sempre se culpando pela vida que levava, pelos falhanços dos seus relacionamentos. Agora eram um momento de contacto consigo própria apenas observando-se a cumprir as suas tarefas. E como eram diferentes os resultados que conseguia e muito mais breves eram essas tarefas. Procurava usar a atenção plena a maior parte do seu tempo, nas mais variadas situações, ainda que por vezes o piloto automático surgia e levava a sua atenção para bem longe. Fosse vagueando pelo passado, na maioria das vezes, ou divagando num futuro imaginado, de um suposto ideal onde tudo seria perfeito e maravilhoso, sem dificuldades ou entraves.
Num desses momentos em que divagava num futuro imaginário, foi interrompida pelo toque do telefone. Era a Daniela a convidá-la para lancharem juntas e colocar a conversa em dia. Combinando encontrar-se numa esplanada junto ao mar, pois o dia solarengo convidava a um aconchego da brisa marítima. Chegadas ao local abraçaram-se e abandonaram os seus corpos ao conforto de uns pufes para melhor poderem saborear a conversa que encetaram.
" Então conta-me como tens passado Sara, quero saber as novidades dessas tuas sessões com o Ricardo."
" Tem corrido tudo muito bem. Os progressos são já visíveis para mim. Os momentos de tortura dos meus pensamentos, que me assolavam frequentemente, são cada vez mais raros. Já começo a ter a capacidade de observar os pensamentos que surgem sem me deixar absorver totalmente por eles. Claro que tenho momentos de desconforto, de dor até, mas a sensação que apesar disso, tudo está bem. Seja o que for que surja em mim, a certeza de que a minha essência continua sendo como é. Isso dá um grande alívio. E tu, como tens passado?"
"Tem-me acontecido algumas coisas, de certa forma estranhas, pelo menos da forma como as vejo. O tipo de coisas que julgava que eram fantasiosas, de pessoas que se deixam influenciar facilmente. O termo que normalmente se usa, é o de sincronicidades. Do género de estar a pensar numa pessoa que já não via a algum tempo e de seguida ela liga-me. O mais estranho no entanto foi um sonho que tive no outro dia. Nesse sonho entrava o Ricardo, vê lá tu!"
" A sério! Conta-me tudo, como foi isso?"
"Deveras estranho o sonho. Aquilo que me lembro é que estava caminhar no parque da cidade e de repente vejo um clarão, entre as árvores, o que me chamou a atenção. Mas em vez de me assustar. Sentia uma pulsão para me aproximar. Para ir de encontro ao clarão. E assim fiz, caminhei em direção ao clarão e atravessei-o. Do lado de lá, estava o Ricardo com um sorriso a rasgar o rosto e estendendo a mão para mim. Disse-me ele 'bem vinda a casa' e uma sensação de paz e serenidade inundou o meu corpo, até que me vejo a perder as formas. Como que estava a ficar invisível o meu corpo. Continuava a ver os seus contornos, só que parecia que já não havia corpo. Tudo era energia. O Ricardo também tinha essa aparência. De seguida revi a minha vida toda, mas de uma forma em que tudo encaixava perfeitamente, tudo o que aconteceu fez sentido e não podia ter ocorrido de outra forma. Pois na verdade tudo foi acertado por mim, como experiência que teria de passar, antes de nascer nesta vida. O mais engraçado é que só recordo do meu passado até agora. Nada do meu futuro surgiu no meu sonho. Ou se surgiu, eu não me recordo. A última coisa que me recordo, do sonho, foi uma frase do Ricardo para mim e que dizia 'Conhece-te de verdade, liberta-te do medo do desconhecido.' Depois acordei. O melhor foi que a sensação de paz continuava presente em mim. Uma sensação de leveza e calma e que lentamente se foi desvanecendo no decorrer dos dias seguintes."
" Muito bom, sra. cética. Boas noticias me contas. E o que pensas fazer agora?"
"A frase não me sai do pensamento, conhecer-me de verdade e libertar-me do medo do desconhecido. Quero aprofundar isso, pois como te disse, esse sonho foi um cumulativo às sincronicidades que tem acontecido. Por muito que quisesse, não tenho como ignorar tudo isto que tem acontecido. E estes eventos começaram pouco tempo após a minha participação no workshop do Ricardo. Onde te conheci. Respondendo ao que perguntaste, agora estou a pensar em marcar uma sessão com o Ricardo a ver se ele me pode ajudar. Pois se ele surgiu no meu sonho e daquela forma, poderá ser um auxílio ao encontro das respostas para todas essas situações."
terça-feira, 26 de novembro de 2013
Ficar
Contemplar a beleza emanada
as linhas ao encontro do interior
onde reside o maior tesouro
um desejo de ai mergulhar
perder o tempo e ficar
soltar um beijo
criando uma memória
que eternize o momento
saborear cada pedaço
tatear os contornos
suplantando as barreiras ilusórias
de uma separação imaginada
tudo isso é amor
tudo isso é vida vivendo.
as linhas ao encontro do interior
onde reside o maior tesouro
um desejo de ai mergulhar
perder o tempo e ficar
soltar um beijo
criando uma memória
que eternize o momento
saborear cada pedaço
tatear os contornos
suplantando as barreiras ilusórias
de uma separação imaginada
tudo isso é amor
tudo isso é vida vivendo.
segunda-feira, 25 de novembro de 2013
#33 Reflexo
Ricardo havia terminado a sessão com a Sara recomendando-lhe que continuasse a observar os pensamentos que surgiam e as emoções que despertavam em si. E que o fizesse sem se esforçar, sem tentar condicionar aquilo que surgisse. Que procurasse estar focada no momento presente como ele se apresentasse.
Quando saía das sessões com o Ricardo, a Sara sentia uma leveza, sentia que a carga sobre si, como que se desvanecia. Uma clareza e uma sensação de que tudo era perfeito assim como era, tornava-se latente em si. Ainda que fosse de curta duração, pois rapidamente o tumulto dos pensamentos dentro de si, tomavam conta da situação e levavam consigo todas as certezas que por momentos se permitia experienciar.
Normalmente caiam esses pensamentos nos relacionamentos falhados que havia tido e no quanto sofrera ao entregar-se de corpo e alma, àqueles que julgava serem os complementos perfeitos do seu ser. Tinha dado tudo o que possuía em si, procurava sempre agradar e servir o contentamentos dos seus companheiros. E o que acabava sempre por receber era alguma indiferença, gestos mecânicos e rotinas estabelecidas sempre em função das vontades deles, ignorando as suas. Ainda que o visse assim agora, à distância do tempo corrido, pois no momento em que estava mergulhada nessas relações, ela não tinha a noção que se anulara ao cumprimentos dos caprichos alheios em prole da aceitação e da atenção dos companheiros.
A revolta que sentia, que ainda habitava em si, por muito que já estivesse mitigada pela ação do tempo e desta sua busca pelo autoconhecimento. Surgia por vezes com força e diminuía a vontade de seguir em frente, atirando-a para um canto de significância tolhida. Fazendo-a sentir-se como a mais infeliz entre os infelizes. Mas quando isso acontecia, ela tinha agora a capacidade de impedir que tais pensamentos a acorrentassem. E isso ela agradecia ao Ricardo e tudo o que ele despertara nela.
Ela sabia que a sua hora estava prestes a chegar, sentia que algo de muito bom estava para surgir e varrer a sua vida de todo o lixo sentimental acumulado. Não tinha como justificar de onde surgira tal certeza, apenas intuía que assim era.
Estava decidida a desfrutar da vida que merecia e tal como ela se apresentasse, recetiva a entregar-se completamente, mas desta vez à sua essência e não às vontades de outro humano.
sábado, 23 de novembro de 2013
#32 Reflexo
A Sara assimilou as palavras do Ricardo e de seguida partilhou as dúvidas que a assaltavam.
"Eu percebo o que me diz e como lhe disse foi dado esse click em mim, de saber que é a minha atenção que valoriza os pensamentos que ocorrem em mim. Só que isso é algo temporário, pois a maior parte do tempo, estou de tal forma mergulhada nos pensamentos, que a minha atenção está toda focada nisso. Perco a noção de que controlo a atenção e na verdade, sinto que sou os pensamentos. A minha consciência é que sou o que penso. Como é que eu posso combater isso?"
"Na verdade essa ideia de combater só irá reforçar em si a crença de que é os pensamentos, irá reforçar a sua incapacidade de lidar com os pensamentos que a sobressaltam, como disse. Em vez de combater pode escolher estar presente no aqui e agora, onde verdadeiramente vive, onde existe de facto. Os pensamentos que surgem não são o presente, eles são sempre baseados no passado, nunca são o presente. Aqueles pensamentos que surgem automaticamente na sua consciência, mesmo relativos a situações do presente, estão referidos ao passado, eles usam o passado como filtro, como forma de avaliar o que ocorre neste momento. E nesse processo de interpretação o que acontece é que desvia a sua atenção do agora e é projetada para o passado.Procurando ai as referencias que estabelecem um julgamentos daquilo que percecionou no presente. Noutros momentos os pensamentos vagueiam para o futuro, criando uma ânsia sobre aquilo que desejamos que seja, mas sempre baseados naquilo que foi o passado. E nesta dança permanente dos pensamentos entre o passado e um futuro desejado, a vida que é, continua a acontecer, continua sendo como é, só a sua atenção é que não está presente para a viver."
" E o que tenho de fazer para estar presente, para fazer parar os pensamentos que surgem na minha mente?"
" Aquilo que tem de fazer é...nada. Não tem de fazer nada, pois esta ideia de ter de fazer algo é uma resposta do ego para continuar a controlar a sua atenção. A Sara e qualquer outro ser humano, já é perfeito assim como é. A nossa essência é perfeita e imutável." Interrompendo-o disse a Sara "mas se não fazemos nada. Então qual é o propósito de tudo isto? Estou condenada a ser sempre assim, a cruzar os braços e nada fazer!!!"
"Tudo acontece como tem de acontecer e o momento certo para acontecer. De uma forma muito simples como gosto de fazer, porque de facto, é assim tão simples de verdade.O propósito de tudo isto é viver, nada mais que viver. E para viver basta estar presente, experienciando tudo o que é, pelo que é. Aquilo que enquanto humanos consideramos problemas resulta da diferença entre aquilo que julgamos que é a nossa realidade e aquilo que desejávamos que fosse. É esse desejo que seja outra coisa qualquer que desvia a nossa atenção daquilo que é e desse modo reconhecer a perfeição daquilo que é. Tudo isso é parte do jogo do ego de 'busca e não encontres' que leva para fora deste momento a atenção, sempre em busca de algo mais e nunca satisfeito com o que vai obtendo. Será isso bom ou mau?...Será aquilo que fizermos disso, é o jogo em si e foi isso que viemos aqui fazer, participar do jogo. No entanto a nossa participação será tanto melhor quanto melhor a desfrutarmos e isso consegue-se vivendo tudo o que acontece de uma forma desapegada, ou seja, experienciando tudo sabendo que aconteça o que acontecer nada pode beliscar a nossa essência. E sim teremos momentos de dor... então sintamos a dor na sua plenitude. E sim teremos momentos de alegria... então sintamos a alegria na sua totalidade. O que quer que ocorra aqui, enquanto humanos, passa, tudo passa... tudo acaba. A única coisa permanente é a nossa essência"
Sara absorvia cada palavra proferida pelo Ricardo, cada som verberava na pele do seu corpo, em cada célula do seu ser. Tudo aquilo parecendo tão novo para ela, era no entanto tão familiar. Tudo fazia sentido, mas sem racionalizar, era uma certeza sem explicação.
sexta-feira, 22 de novembro de 2013
Tinido do amor
O tinido do amor chama por ti
pede-te que mergulhes ai dentro
que te conheças de verdade
e todas as dúvidas terminam
as certezas absorvem o momento
que é único, que é inteiro
só existe este
e é aqui e agora
vive porque estás vivo
deambulando pelos pensamentos
pelas emoções nutridas
quebra a divisão
quebra a ilusão
Amor é vida
a ser vivida.
pede-te que mergulhes ai dentro
que te conheças de verdade
e todas as dúvidas terminam
as certezas absorvem o momento
que é único, que é inteiro
só existe este
e é aqui e agora
vive porque estás vivo
deambulando pelos pensamentos
pelas emoções nutridas
quebra a divisão
quebra a ilusão
Amor é vida
a ser vivida.
quinta-feira, 21 de novembro de 2013
Simplesmente amor
O amor verdadeiro é inteiro
ele não se divide em partes
aquilo que parece separado
está ligado, é parte de um todo
essa ligação é invisível
aos sentidos humanos
que se aglutinam em pequenos pedaços
Só pode amar de verdade,
quem é livre.
Os que procuram receber amor
iludem-se sobre quem são.
Exigem aquilo que se negam a si mesmos.
Amar, simplesmente amar
aquilo que são,
como são.
Sem perguntas, sem exigências,
simplesmente amor.
ele não se divide em partes
aquilo que parece separado
está ligado, é parte de um todo
essa ligação é invisível
aos sentidos humanos
que se aglutinam em pequenos pedaços
Só pode amar de verdade,
quem é livre.
Os que procuram receber amor
iludem-se sobre quem são.
Exigem aquilo que se negam a si mesmos.
Amar, simplesmente amar
aquilo que são,
como são.
Sem perguntas, sem exigências,
simplesmente amor.
quarta-feira, 20 de novembro de 2013
#31 Reflexo
Era chegado o momento de mais uma sessão com o Ricardo, aquilo a que a Sara já considerava o momento alto da sua semana. Ricardo começou por perguntar:
"Então Sara diga-me como foi sua relação com os seus pensamentos esta semana?"
"Pois, essa relação tão tem sido fácil, a fazer jus com todos os relacionamentos que tive até aqui. Tenho feito um esforço por observar os pensamentos, como me sugeriu fazer, mas a verdade é que tem sido complicado consegui-lo. Sempre que tento observar os pensamentos, eles surgem com tremenda força, que me envolvem por completo. Como se os pensamentos e eu fossemos uma e a mesma coisa."
O Ricardo ouvia com atenção tudo aquilo que a Sara dizia, não só através das palavras que lhe saiam da boca, mas também da linguagem do seu corpo. Reparava como ela se movia ligeiramente quando expressava a sua incapacidade de resistir aos pensamentos, reparava na expressão perdida dos seus olhos, perante aquilo que ela considerava ser a sua impotência de se observar. E continuou a ouvir o que ela lhe dizia.
"Os pensamentos são na maioria das vezes de reprimenda, fazendo-me lembrar que tenho falhado, que não consegui nada de relevante até agora. Com a idade que tenho e olhando ao meu redor, não tenho nem estabilidade financeira, nem uma família que possa cuidar, ou sequer uma carreira que pudesse de algum modo justificar e compensar os insucessos nas restantes áreas da minha vida. Relembram-me esses pensamentos aquilo que a minha mãe me vem cobrando vezes sem conta, ainda que o faça porque me ama, para que eu assente e crie uma família. Outras vezes os pensamentos resvalam para os meus relacionamentos amorosos falhados, da dor que ainda me causam as memórias dessas relações que tanto levaram de mim e que tão pouco me deram. Estarei a ser injusta? Será que me resta ser apenas uma vítima das circunstâncias?"
O silêncio ecoou as palavras da Sara, mantendo o Ricardo o contacto visual com ela, mirando-a nos olhos, nesse azul claro como o mais radioso céu de uma tarde serena de verão. Com uma respiração calma, inspirando vida em cada célula do seu ser e exalando qualquer distração do agora.
"Quer que eu lhe diga qual é o seu verdadeiro problema?" Disse o Ricardo, "aquilo que considera um problema, porque eu prefiro encarar essas situações como desafios. Aquilo que de verdade a perturba mais, não são todas essas situações que referiu que os seus pensamentos lhe fazem recordar constantemente. A questão está em que se identifica totalmente com esses pensamentos, está apegada a eles e deixa-se consumir por eles, deixa-se afogar nos mesmos e esquece-se de respirar a verdade que está sempre presente em si, como em todas as coisas. Os pensamentos por si só são neutros, como todas as coisas naquilo a que chamamos de realidade... é a nossa relação com eles, a interpretação que lhe damos que os tornam como bons ou maus para nós. E eles ganham mais força através da atenção que lhes dispensamos." A Sara aproveitou o momento para concordar com o Ricardo e partilhar o click que se havia dado com ela nessa semana, relativamente à atenção, ela tomara a consciência que não era os seus pensamentos e que era a atenção que lhes dedicava que os tornava mais relevantes ou não. E Continuou dizendo: " Só que uma coisa é chegar a essa conclusão, o que por si só, para mim, já foi um grande progresso. Outra coisas diferente é depois na pratica, na realidade do dia-a-dia dar uso a essa consciência, usar a atenção para gerir os efeitos dos pensamentos. Isso é que eu ainda não sei como fazer inteiramente." Concluiu a Sara. O Ricardo anuiu com ela e disse :
"Depende apenas de si fazer dessa assunção uma realidade a ser vivida em cada momento. Pois o facto de achar isso difícil é em si mesmo mais um pensamento e como acredita nele e o alimenta através da sua atenção, isso terá um reflexo na sua realidade que lhe mostra como os pensamentos vem e tomam conta de si. O facto de já ter ciente que não é os seus pensamentos e sim o espaço onde eles ocorrem, é o principio da sua libertação - fazendo o gesto no ar das aspas enquanto dizia libertação - do relembrar de quem é de verdade. E no entanto não é preciso acelerar as coisas, tudo acontece como tem de acontecer e quando estamos preparados para que aconteça. Quanto mais focada no momento presente estiver, quanto mais se permitir observar o que acontece, pelo que acontece, mais em fluxo está com a vida. Pois de facto a vida não é algo que nos acontece, mas sim aquilo que nós somos."
terça-feira, 19 de novembro de 2013
#30 Reflexo
Os pensamentos colam-se uns nos outros compondo a imagem que temos sobre quem somos. Eles tornam-se companheiros habituais e pela sua persistência e companhia levam-nos a acreditar que somos só assim, tal como eles nos dizem que somos. E no entanto pode surgir o momento em que descobrimos que eles se podem descolar. Nesse momento, ainda que breve, tudo se quebra. Essa ideia de que falta algo, que precisamos de algo mais para sermos inteiros. Como momento que é, ele termina e os companheiros habituais retomam o seu lugar, assumem o palco e lideram o espetáculo de novo. Só que agora uma pequena brecha se abriu, e por essa pequena brecha a luz vai escapulindo, levemente, sem se fazer notar. Ela não necessita de subir ao palco, pois ela existe em cada ponto do palco, antes do palco e para lá do palco. Para quê ser protagonista num pequeno palco, quando se é a plenitude da existência. Deixemos brilhar os pequenos palcos que surgem, desfrutando do espetáculo que nos trazem.
O que verdadeiramente procuramos não é fazer com que esses palcos deixem de existir, mas sim que deixemos de nos limitar pelos mesmos, achando que somos apenas isso e sofrendo todas as agruras do irrepetível, como se a nossa existência dependesse do bom desempenho desse palco, de acordo com aquilo que achamos ser um bom desempenho. Uma necessidade de controlar o desenrolar das cenas procurando assim não cair do palco abaixo, fazendo para isso tudo o que estiver ao alcance para evitar o desconforto da cercania das extremidades do palco, resignando a vivência ao conforto conhecido do centro do palco onde todos se movimentam, ainda que por vezes ocupando o espaço de outros.
Quando o momento das brechas se apresenta, a luz interior vai fazendo o seu caminho em pezinhos de lã, sem pressas, pois ela sabe da sua eternidade. Apenas no palco o tempo se faz sentir, apenas no palco o tempo encontra utilidade, como um conceito que permite pautar os movimentos e dar alguma coerência sequencial ao desenrolar das estórias que ai vão passando.
A seu tempo a luz vai ocupando o espaço que nunca deixou de ser o seu, apenas temporariamente se fez esquecer na ideia daqueles que pisam o palco, até que estes estejam preparados para relembrar quem são e já, não mais possam ser ofuscados pela luz que irradiam e da qual são também fonte.
Tal como aconteceu com a Sara pode-se dar um click, que não é mais do que uma pequena brecha pela qual a luz desliza e que vai preparando para a realização da verdade, para o encontro com a essência.
No entanto a base para a consolidação desse relembrar passa pela aceitação do momento tal como ele é e nesta fase inicial, como o que esta a ocorrer à Sara, os pensamentos continuam a reinar, pois eles absorvem a sua atenção. Ainda que ela tente, seguindo as indicações do Ricardo, observar os pensamentos - o que vai conseguindo por breves momentos - estes continuam a absorver a sua atenção. Mas através da persistência ela conseguirá direcionar, cada vez mais, a sua atenção.
Desejo
Cola-se a mim o desejo de te ter
iludido nos pensamentos de liberdade
ao encontro do eu real
que desfruta da visão ilimitada
que tudo sabe, sem necessidade de o saber
tudo é como é
as explicações deixam de ser necessárias
a quem desapega dos limites
perdido caminho no fio do desejo
troco tudo isso por um beijo teu.
iludido nos pensamentos de liberdade
ao encontro do eu real
que desfruta da visão ilimitada
que tudo sabe, sem necessidade de o saber
tudo é como é
as explicações deixam de ser necessárias
a quem desapega dos limites
perdido caminho no fio do desejo
troco tudo isso por um beijo teu.
sábado, 16 de novembro de 2013
#29 Reflexo
A Sara fazia um esforço por observar os seus pensamentos, tal como o Ricardo lhe havia pedido, sempre que se lembrava, ela tentava apenas tomar atenção do que surgia na sua mente, mas rapidamente era sugada pelos pensamentos. As duvidas estugavam a sua atenção para o exterior, desvinculando-a da observação que procurava realizar. Os pensamentos eram demasiado pesados, absorvendo toda a sua energia, consumindo toda a sua vontade de se libertar deles e puder escolher por si, sem ser condicionada. E esses pensamentos eram por vezes agressivos com ela, diziam-lhe para parar de se iludir, de acreditar em conto de fadas, nessa busca por conhecer uma verdade. Diziam-lhe que ela era uma falhada, que não merecia mais do que tinha, porque julgava que merecia mais, ela julgava-se especial, melhor do que os outros, em vez de ser normal como todos os outros e procurar um emprego a sério, procurar construir um família. E como esses pensamentos a deprimiam, esses pensamentos, faziam com que duvidasse de tudo, que colocasse em causa o seu direito a existir. Ela nesses momentos via-se mais como um fardo para a sociedade, do que alguém que pudesse contribuir com algo de positivo, ser uma mais-valia. Quando estava submergida em tais pensamentos o tempo como que se prolongava, parecia infindável o caudal de pensamentos, servindo estes de alimento para a dor que aflorava na sua pele, um desconforto latente que a acompanhava. Mas como ela era persistente, como estava comprometida a não vacilar desta vez, ela sentia que era a sua derradeira oportunidade, se não falhasse agora, seria o fim da sua estória. Não teria como continuar, as forças esgotariam nesta sua última tentativa, ela via este processo como a única via para a sua salvação. Assim ela continuaria a tentar, procurava se distanciar dos pensamentos mergulhando nos afazeres diários, conseguindo desse modo desviar a sua atenção do turbilhão de pensamentos negativos que a assolavam.
E de facto quando estava compenetrada nos seus trabalhos artesanais como que um silêncio a inundava, a sua atenção estava dedicada a cada pormenor da tarefa de criação de mais uma peça e nada mais parecia existir para ela. Foi então que num desses momentos se deu um click, ela tomou consciência que de facto os pensamentos não eram quem ela era, os pensamentos ocorriam nela, de acordo com a atenção que lhes dedicava. A chave era a sua atenção, é esta que delimita a importância daquilo que ocorre. Se a atenção fosse para os pensamentos negativos, estes ganhavam mais vida e cresciam de forma imensurável e absorviam tudo ao seu redor. Por outro lado quando a sua atenção pousava numa tarefa agradável, como fazer as suas peças artesanais, ou mesmo em tarefas rotineiras como a lida da casa, uma leveza de espírito fazia-se notar e tudo parecia mais simples. O ar que respirava insinuava-se com mais fluidez.
Esta tomada de consciência constituiu um ponto de viragem para a Sara, ela sabia que não era mais refém dos seus pensamentos, que ela possuía a possibilidade de gerir os seus efeitos através da sua atenção. É a atenção que delimita o poder que ela estaria disposta a permitir que os pensamentos tivessem sobre ela. Os pensamentos continuam a surgir, isso ela não pode controlar, mas a relevância que eles tem, isso sim, ela sabia, agora, que podia controlar através da atenção que lhes dedicava.
sexta-feira, 15 de novembro de 2013
Bela
Beleza interna
Frágil aparência
Assim és tu mulher
A tua força
Sustenta o mundo
Berço de pleno amor
Delicadeza
Curva silenciosa
Sorriso de luz
Frágil aparência
Assim és tu mulher
A tua força
Sustenta o mundo
Berço de pleno amor
Delicadeza
Curva silenciosa
Sorriso de luz
quinta-feira, 14 de novembro de 2013
#28 Reflexo
"Então Sara conta-me tudo sobre as tuas sessões com o Ricardo, estás contente ou desiludida?"
"Tem sido muito importantes para mim, tem surtido um efeito em mim que nem sei quantificar direito. Se me perguntares o que mudou desde que o conheci, eu direi que tudo continua igual e no entanto tudo mudou. Parece paradoxal o que te digo, ou mesmo que estou um pouco louca, que digo não digo coisa com coisa, mas o que é facto, é que é real para mim."
" Então o que te leva a pensar assim, que mudanças são essas que sentes que ocorreram e que, pelo que me dizes, não são visíveis, mas estão ai."
"Sabes aquela sensação que tens quando algo acontece porque estava destinado a acontecer e que não podia ser de outro modo... aquela sensação que tudo está bem, que sempre esteve bem... ainda que não saibas dizer porque. É essa a sensação que tenho e que se tem vindo a reforçar, desde que o conheci pessoalmente. Como te tinha dito, já lia as coisas que ele escrevia, mas conhecê-lo pessoalmente exponenciou os efeitos daquilo que ele diz e escreve. Como que tivesse despertado algo em mim que estava dormente, mas que sempre esteve aqui, dentro de mim, sempre fez parte daquilo que sou. A verdadeira diferença está em saber de verdade quem sou e que estou a descobrir, ou se quiseres, a relembrar que aquilo que sou é deveras diverso daquilo que julgava ser."
" A sinceridade com que ditas as tuas palavras e sobretudo a emoção que perpassa delas, deixam-me siderada. Nunca pensei que ele pudesse ter tal impacto em ti. No entanto confesso-te que isso me traz algum alívio, pois eu própria tenho sentido que o workshop dele, onde nos conhecemos, teve um impacto inesperado em mim. Como te disse na altura eu sou bastante cética, mas as evidências que se assomam vão quebrando esse ceticismo. Tenho refletido bastante naquilo que ouvi no workshop e de facto deixou de fazer sentido uma existência que se limita ao deixar andar, ao fazer porque é suposto ser assim. Se viemos até este mundo foi por algo mais do que apenas subsistir, tem que haver uma razão maior para tudo isto. De outro modo não faz sentido. E eu decidi que quero descobrir qual o sentido da minha vida, qual o meu propósito."
"Vejo que não foi só o meu mundo que mudou, o teu também foi bastante abalado. Sim senhora, para uma cética, não está mal. Por um lado até será mais fácil causar esse impacto em alguém que seja cético, como tu, do que em alguém, como eu, que já vinha numa busca pelo conhecimento, pelo descobrir da verdade. A conclusão a que chego é que quanto mais pensamos que sabemos na verdade menos sabemos, e só criamos confusão na nossa mente. A quantidade de teorias e práticas que vamos encontrando e que se contradizem umas às outras, criam mais ruído que esclarecimento. Mas a minha intuição diz-me que agora estou no caminho certo, para desfazer todas as dúvidas e permitir que finalmente se faça luz na minha vida."
"Estamos as duas de parabéns por finalmente estarmos no caminho certo, ou pelo menos, julgámos que sim. Veremos onde tudo isto nos vai levar. Já ganhamos no mínimo uma bela amizade."
Terminaram o seu lanche envoltas numa serenidade condizente com o por do sol que vislumbravam. Despedindo-se de seguida, não sem antes combinarem se encontrarem de novo na semana seguinte para trocarem impressões sobre as vivências ocorridas entretanto.
terça-feira, 12 de novembro de 2013
#27 Reflexo
A realidade começava a ganhar contornos diferentes para a Sara, ela não sabia como descrever aquilo que lhe estava a acontecer, o tempo como que tinha alterado o ritmo em que se movia, tinha a sensação que havia vivido muito em pouco tempo, porque de facto só se passaram cerca de dois meses desde que tinha conhecido pela primeira vez o Ricardo no seu workshop e que tinha dado inicio ao seu processo de sessões individuais com ele. E no entanto parecia que já tinha passado muito mais tempo, tinha a sensação que o conhecia há muitos anos, uma familiaridade estranha adejava à superfície do seu ser. Não tinha como justificar tal sensação, apenas a certeza que ela existia, que estava presente nela. Por um lado era muito reconfortante sentir-se assim, mas por outro lado estranhava isso nela, tinha algum receio do que isso pudesse sinalizar, do que poderia estar a caminho da sua vida. Tinha no entanto decidido seguir em frente, escolhia confiar na vida e naquilo que ela tinha planeado para ela, visto que os planos que sempre fez para si mesma não tinham resultado como ela gostaria que tivessem resultado, logo mal nenhum adviria de por uma vez deixar de tentar controlar a sua vida e confiar que o que quer que viesse a ocorrer não poderia ser pior do que já lhe havia acontecido. Enquanto estava embrenhada nos seus pensamentos foi despertada pelo toque do seu telefone, ao atender recebeu um alegre cumprimento da Daniela, que a desafiou a um programa a duas, que consistia num mergulhar nas novidades das lojas de roupas e de seguida um lanche para adocicar a conversa entre elas. A Sara aceitou o convite da sua recente amiga, até porque um devaneio de materialidade poderia contrastar um pouco com essa indulgente busca interior em que tanto estava empenhada.
sábado, 9 de novembro de 2013
#26 Reflexo
"A Sara tem um desejo grande de mudar, vejo que é algo que quer muito, mas é precisamente esse desejo que mais obstáculo cria a que alcance o que tanto deseja. Porque, como já lhe disse, tudo aquilo que procura, já existe em si, já é tudo isso. Ainda que aquilo que julga ser o desejável para si, possa ser diferente daquilo que é, daquilo que é a sua essência. A solução para encontrar o que procura... dizendo de outro modo, para se encontrar, reside na simplificação. Nós enquanto humanos tendemos a complicar aquilo que é simples e perfeito, só que não temos a consciência disso mesmo, mas a boa notícia é que é suposto ser assim, dai que tudo isto seja uma piada cósmica, como alguns mestres do passado chamaram. Resumindo isto que quero dizer de uma forma simples, é o seguinte... sendo a nossa essência perfeita e una... só tornando em duas partes se pode experienciar a si mesma, é essa a função da dualidade... permitir que a essência se experiencie a si mesma. Só que para que isso seja efetivo as partes que resultam dessa divisão perdem a consciência da sua origem, perdem a consciência da sua natureza una, imutável e intemporal. O que se passa é que algumas partes limitadas vão tomando consciência da sua origem como forma de ir relembrando aos restantes aquilo que são e que tudo o que estão a passar, todas estas experiências são ilusórias face à sua essência, sendo no entanto bem reais enquanto vivência nestas vestes limitadas, de um ser humano."
Reparando na expressão de surpresa e pensativa da Sara ao ouvir as suas palavras, Ricardo disse-lhe de seguida, "esta informação precisa de ser processada por si, haverá alguma resistência do ego, em aceitar estas ideias, estes conceitos que para ele são de difícil compreensão, mas pouco a pouco, ao seu ritmo, irá criando espaço de entendimento e na medida que for expandido o seu nível de consciência, ele já não volta ao seu nível anterior."
"Realmente é difícil de aceitar assim, sem mais nem menos, tudo aquilo que me disse. Pois se somos assim tão perfeitos. Qual a utilidade disto tudo, porque passar por tanto sofrimento, para voltar tudo ao mesmo? Só mesmo sendo uma piada, e de mau gosto pela forma como a consigo entender neste momento, para que isto seja assim."
"Percebo que seja aparentemente difícil de assimilar a utilidade disto tudo, eu próprio já passei por todas essas dúvidas. Já me coloquei todas essas e muitas mais questões sobre a veracidade de tudo isto, sobre a utilidade para que tudo seja assim desse modo. E no entanto não é suposto ser entendido na sua totalidade para ser desfrutado, para ser vivenciado em pleno enquanto humanos vivendo esta experiência. Mas é essa busca por compreender, por ter as respostas todas que mais nos afasta da verdade suprema, da simplicidade de tudo isto. Porque é precisamente o contraste, essas ideias de separação, de que enquanto humanos nos falta algo, que nos faz agir, que nos faz procurar, que faz com que este processo entre em ação e permita que todas as possibilidades possam ser experienciadas pela essência. Por si só isto é perfeito que seja assim desse modo e o propósito do despertar, do elevar do nosso nível de consciência é de nos desapegarmos dos efeitos destas experiências. Ou seja, quando sofremos, ou quando estamos muito felizes, estar cientes que nada disso afeta a nossa essência. Que aconteça o que acontecer continuaremos a ser eternos e imutáveis. E essa consciência permite-nos ser livres para desfrutar em pleno da vida enquanto humanos, com todas as suas aventuras e desventuras, com todos os seus altos e baixos."
Assim terminou mais uma sessão tendo pedido à Sara para deixar toda essa informação ser assimilada por ela, que deixasse fazer o efeito que tivesse de fazer, sem forçar o seu entendimento, que quanto menos forçasse mais depressa entenderia. E que continuasse a tentar observar os pensamentos.
quinta-feira, 7 de novembro de 2013
#25 Reflexo
Um caloroso sorriso dava inicio a mais uma sessão, era a terceira, da Sara com o Ricardo, desde que ela escolhera que ele fosse o seu guru, aquele que a ajudaria a despertar para a realidade dela própria, que a ajudaria a conhecer-se de verdade, sem filtros, sem enganos.
"Seja bem vinda Sara, então como correu a sua semana. Permitiu-se observar os seus pensamentos como a desafiei a fazer na semana passada?"
" Eu bem tentei, mas os pensamentos são incessantes, quando procurava observar, lá vinha mais um pensamento que me levava a atenção. Só por breves momentos conseguia observar o que estava a pensar. O conceito de que eu não sou os meus pensamentos, ainda que faça sentido para mim, não consigo na prática, realizar que assim seja. Porque os pensamentos estão sempre presentes para mim, mesmo quando tento meditar eles estão presentes, dai que eu não consiga meditar em condições. Será que alguma vez conseguirei ser assim, como o Ricardo?"
"Começando pela sua observação final, digo-lhe que não poderá ser como eu...porque já o é. Não se pode tornar em algo que já é, não pode obter algo que já existe em si. A sua essência é perfeita assim como é, neste momento, nada precisa de fazer para ser como é. Neste caso seria mais apropriado dizer que precisa de menos, muito menos, do que julga ser, para relembrar quem é de facto. Eu sei que neste momento, ainda que queira muito acreditar naquilo que lhe digo, lhe pareça difícil perceber que assim seja, que já é perfeita sendo como é. E no entanto por muito paradoxal que pareça, isso é perfeito que assim seja. Simplificando o que lhe quero dizer é... que nada acontece por acaso, tudo o que ocorre está de acordo com o nosso nível de consciência e na medida em que formos elevando o nosso nível de consciência o entendimento daquilo que é, torna-se mais evidente para nós. Tudo começa a fazer mais sentido. Esta ideia limitada que temos sobre nós, ou seja, o ego, esta condição humana não consegue compreender a totalidade do Ser, a plenitude da essência. Só suplantando o ego o poderemos fazer."
"E como é que suplantamos o ego? Como é que isso se faz?"
"Precisamente através da observação, através do auto-inquérito. Quando começa a observar a atividade da mente, o bailado constante dos pensamentos se pavoneando em frente da sua atenção. Esse bailado reduz a intensidade e a atenção repara que é o salão de baile e não o bailado em si. Ou seja, que não é os pensamentos, mas sim quem está ciente deles e que estes só tem o poder que a sua atenção lhes permite ter."
"Isso parece-me muito difícil. Julgo que ainda não estou preparada para ter esse nível de consciência."
"É essa ideia que não está preparada que a impede de ver que toda a preparação já ai está, que está pronta para isso, e a maior prova, é que está a ouvir isto agora, é que está aqui comigo agora a falar sobre isso. De um ponto de vista mais amplo, eu sou apenas uma projeção da sua mente, logo este diálogo, é verdadeiramente um diálogo consigo mesma. A realidade é um espelho do nosso interior, as pessoas e situações que surgem na realidade estão a comunicar connosco, são mensageiros da essência que nos sinalizam o caminho de regresso a casa, de regresso à essência, que na verdade nunca deixamos."
" Então o que me está a dizer é que eu é que fiz com que os meus relacionamentos não funcionassem, que este desconforto, esta sensação de não pertença, tudo isso é uma mera projeção minha?"
" Tudo o que aconteceu e acontece na sua vida, na minha, na de qualquer ser humano, é isso mesmo, uma projeção do seu interior, e por muito que se faça, se não se lidar como tudo isso que ocorre, dentro de cada um, aquilo que é exterior continuará igual, ainda que por vezes acreditemos que as mudanças que fazemos produzam efeitos, estaremos a entrar em situações similares, mudando apenas alguns cenários e atores dessa projeção. Até que o façamos dentro de nós, pois é apenas dentro que as mudanças que desejamos ocorrem." Um momento de silêncio pairou entre eles para permitir que as ideias tomassem o seu lugar, e o sentido que traziam se fizesse sentir.
quarta-feira, 6 de novembro de 2013
Jogo da existência
As palavras são
embaladas pelo silêncio, que se estabelece na confidência conhecida de todos os
que se encontram na mesma encruzilhada da vida, esse mar pleno de espaço vazio
onde a liberdade prega um susto aos mais adormecidos, despertando a alegria contida
no seu interior, sede da essência das ideias nómadas. As regras foram feitas
para se quebrar neste jogo da existência humana, perene essa sensação de
limites que restringem a consciência do Ser, sem conter verdade.
terça-feira, 5 de novembro de 2013
#24 Reflexo
Mergulhada nas suas rotinas e tentando cumprir aquilo que o Ricardo lhe havia pedido, Sara esforçava-se por observar os seus pensamentos. No entanto os pensamentos eram uma catadupa constante e tentar parar para os observar, era uma tarefa que lhe parecia impossível, por mais que tentasse ela era engolida pelos pensamentos que eram maiores do que ela. O tamanho dos pensamentos absorviam todo o espaço da sua atenção, ela era os seus pensamentos, sempre fora assim, como poderia ser diferente agora, como poderia deixar de ser como era e observar quem julgava ser. Ela mantinha a sua rotina, pelo menos esta rotina permitia algum conforto emocional na sua vida, eram elas que davam algum sentido ao seu dia-a-dia, alguma segurança que auxiliava a integridade da sua sanidade mental. Nos momento de maior desespero que havia passado eram as rotinas que serviam de bóia de salvação para continuar, ainda que dormente, mas ainda assim podia continuar, até que algo a pudesse resgatar de novo para a vida. Ela levava muito a sério as suas rotinas, começando o dia sempre à mesma hora, levantando-se às sete e trinta da manhã, cuidando da sua higiene pessoal, ocupando-se de si durante trinta minutos todas as manhãs, para mimar a sua aparência física. De seguida preparava o seu pequeno almoço, composto por uma chá e uma torrada banhada em manteiga, e acompanhado pela leitura de mais umas páginas do livro que tivesse a ler no momento, pois ela devorava livros sem cessar, eram parte natural dela, tal como o respirar. Procurava nos livros por vezes alargar horizontes e noutros casos escapar à sua vida, podendo viver por interpostas personagens, outras vidas, outras aventuras que julgava, lhes estarem vedadas à sua realidade. Os livros podem ser um convite ao autoconhecimento, um divagar pelo interior da mente ao encontro do Ser. E a Sara tinha encontrado nos livros um guia de descoberta interna que lhe tem permitido alargar os seus horizontes, encontrando respostas a muitas das suas duvidas, e também muitas novas duvidas que emergiam a cada instante. Após a leitura e terminada a sua primeira refeição e ao contrário da maioria das pessoas ditas "normais" que seguiam para os seus empregos, ela como não tinha um emprego, começava o seu dia de labor com uma meditação. Ou pelo menos forçava-se a tentar meditar pois o ruído da sua mente era constante e raramente, senão pro breves segundos, conseguia silenciar a mente e relaxar por completo. Agora, e tentando seguir a recomendação do Ricardo, ela meditava com vista a observar esse ruído que os pensamentos incessantes deixavam com rasto na sua mente. Mas o esforço era inglório, os pensamentos eram mais fortes que a sua vontade, quando tentava observá-los, eles vinham e resgatavam-na do presente fazendo-a divagar para o passado, relembrando todas as mágoas, todos os ressentimentos e culpas não assumidas por aqueles que ela tinha como responsáveis pelo seu sofrimento. E então ela desistia e seguia para a tarefa seguinte, que passava por fazer uma caminhada no parque público local, onde ai sim conseguia observar as pessoas que passeavam, principalmente jovens mães lidando com os seus bebés, pessoas correndo; as corridas eram uma moda recente que cada vez mais adeptos agregava, seria uma forma de as pessoas fugirem de quem eram de verdade e das suas vidinhas, interrogava-se a Sara, como se a corrida servisse de escapatória à banalidade do normal, do torpor do dia-a-dia. Após a sua caminhada que lhe completava o restante da sua manhã até à hora do almoço, que invariavelmente fazia em casa com a exceção das sextas, dia em que almoçava com a sua mãe; momento em que esta aproveitava para lhe encher a cabeça de ideias sobre como devia de casar, assentar a sua vida, ter alguém ao seu lado para lhe amparar e que lhe desse uma família e ela terminava sempre essa conversa dizendo que o que tiver de ser será, quando aparecer a pessoa certa as coisas aconteceriam normalmente. As tardes eram mais variadas,pelo menos duas tardes eram dedicadas a trabalhos manuais, fazia pequenas peças de artesanato como carteiras, bolsas, com todo o tipo de materiais que pudesse reciclar; e que depois vendia junto de amigas e conhecidas destas, angariando assim algum dinheiro que ajudava a fazer face ás suas despesas. Nas restantes procurava investir em si, fazendo workshops de variados temas, sempre que fossem gratuitos ou que pudesse trocar por valor do seu trabalho. Procurava encontrar o caminho certo para ela, e era nisso que estava apostada neste momento ao fazer as sessões com o Ricardo. O dia terminava com um jantar frugal em casa em frente à televisão devorando séries norte americanas, até à hora de se deitar, o que ocorria por volta das onze e trinta.
sexta-feira, 1 de novembro de 2013
#23 Reflexo
O tempo custa mais a passar quando ansiamos que ele passe mais depressa, quando ansiamos que tudo ocorra como gostaríamos que ocorresse. Assim andava a Sara esperando que o tempo voasse até a sessão seguinte com o Ricardo, o seu desejo por liberdade, o desejo de mudar a vida que vivia era uma sede que de forma alguma podia ser saciada pela sua realidade mundana, tudo o que tinha feito até então não era o suficiente para aquilo que ela queria para si. O normal já não lhe bastava, ser mais uma no rebanho da humanidade, já não cabia na sua ideia de existir, ela queria encontrar um significado para a sua existência, perceber porque tinha vindo ao mundo, queria saber que contributo poderia aportar à realidade em que estava envolvida. Mergulhada nestes pensamentos, assim passou a semana e o dia da tão esperada sessão chegou finalmente. Tendo se dirigido para o local da sessão, chegando mais cedo um pouco para melhor se preparar, porque quando estava na presença do Ricardo algo nela, que não sabia explicar, despoletava uma sensação de desconforto,por um lado, e de harmonia por outro. Esta sensação contraditória alimentava a sua curiosidade por saber mais, por perceber a razão de tais sensações e o desejo de que ele a pudesse guiar ao encontro do melhor de si, de uma melhoria da sua vida. Foi recebida com um largo sorriso do Ricardo e conduzida à sua sala, dando assim inicio a mais uma sessão.
"Então como foi a sua semana?"
" Foi boa, dadas as circunstâncias. O tempo parece que se arrastava, sabe eu quero muito mudar, já chega de duvidas e incertezas na minha vida. Eu acho que mereço algo mais e melhor do que tenho tido até aqui e tenho a esperança que me possa ajudar nisso."
"Esse querer que refere é em si mesmo aquilo que a impede de obter aquilo que deseja, ainda que aquilo que deseja possa ser diferente daquilo que acha que deseja. Pois quanto mais forte é essa sensação de querer, aquilo que irá obter é um incremento dessa sensação de querer. Ou seja obtém mais do mesmo, pois onde colocamos a nossa atenção é aquilo que iremos obter, ainda que na maioria das vezes de forma distinta da que julgamos."
"Isso significa que não devemos querer nada?"
" Significa que devemos querer aquilo que já temos, dito de um forma melhor, devemos aceitar aquilo que somos e temos agora, neste momento. Pois essa sensação de querer afasta-a deste momento, impede-a de viver em pleno daquilo que é, pois aquilo que é só pode ser experienciado no agora, no momento presente, que é o único que existe. Tudo o resto é mera ilusão da mente. Quando se entrega ao momento presente e se experiencia como é, descobre que é perfeita assim como é, que tem tudo aquilo que poderia ter, que nada lhe falta. (Fazendo uma pausa) E como é que sei isso? Porque é o que é neste momento, se tivesse que ser outra coisa qualquer, então seria."
"Isso para mim é que é um problema, eu não consigo aceitar a minha situação atual, Não consigo, por muito que quisesse, não consigo. Aceitar que tenho de estar sozinha, que não me encaixo nos conceitos da sociedade sobre o que é esperado de mim, sobre o trabalho. Eu quero sentir que sou útil, que contribuo para um mundo melhor."
"Percebo a sua perspetiva, mas pode começar por aceitar que não consegue aceitar. Este é um primeiro passo de aceitação.Porque aceitar a sua situação atual não implica que se resigne ao que ela é neste momento, ou seja, não significa cruzar os braços e ficar sentada à espera que as coisas mudem ao seu redor para que a sua vida mude para melhor e possa ser uma mais valia para o mundo, como deseja. Pelo contrário aceitação é reconhecer que acontece aquilo que tem de acontecer em cada momento e que é perfeito que assim seja, pois aquilo que varia é apenas a nossa perceção do que ocorre em cada momento. Enquanto humanos, acreditando ser esta ideia de limitação de ser uma personalidade que vive embutida num corpo. não temos uma visão alargada, uma visão do todo, que nos permita entender porque acontece o que acontece, pois se tivéssemos essa visão perceberíamos como tudo é perfeito e simples, assim como é."
"Pois, e como é que eu consigo ter essa clareza de pensamento que tem? Como consigo ter essa certeza de que me fala? É isso que eu quero, que eu procuro."
" A minha resposta às suas questões é que não pode, nem consegue ter isto e a razão para isso é muito simples, porque já é tudo isso, já possui em si todas essas certezas, a sua essência é perfeita, ela não conhece a duvida, ela não concebe o conceito de duvida. E permitindo-se conhecer de verdade, entregando-se à sua essência, verá se dissiparem todas as ilusões. E isso acontecerá quando tiver de acontecer, quando estiver preparada para que isso aconteça. Tudo o que acontece na nossa realidade só acontece porque estamos preparados para lidar com isso e temos todos os recursos para lidar como essas situações, por muito difíceis que nos pareçam à partida. De outra forma não aconteceriam".
O Ricardo recomendou à Sara como tarefa, até à seguinte sessão, observar os pensamentos que surgem na sua mente, apenas observar, fazendo-o o mais que pudesse. Assim foi ela em direção à sua casa, inundada de pensamentos que repetiam aquilo que ouvira na sessão, esses pensamentos estavam a trabalhar nela, ela não os controlava, eles surgiam em catadupa.
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