A Sara fazia um esforço por observar os seus pensamentos, tal como o Ricardo lhe havia pedido, sempre que se lembrava, ela tentava apenas tomar atenção do que surgia na sua mente, mas rapidamente era sugada pelos pensamentos. As duvidas estugavam a sua atenção para o exterior, desvinculando-a da observação que procurava realizar. Os pensamentos eram demasiado pesados, absorvendo toda a sua energia, consumindo toda a sua vontade de se libertar deles e puder escolher por si, sem ser condicionada. E esses pensamentos eram por vezes agressivos com ela, diziam-lhe para parar de se iludir, de acreditar em conto de fadas, nessa busca por conhecer uma verdade. Diziam-lhe que ela era uma falhada, que não merecia mais do que tinha, porque julgava que merecia mais, ela julgava-se especial, melhor do que os outros, em vez de ser normal como todos os outros e procurar um emprego a sério, procurar construir um família. E como esses pensamentos a deprimiam, esses pensamentos, faziam com que duvidasse de tudo, que colocasse em causa o seu direito a existir. Ela nesses momentos via-se mais como um fardo para a sociedade, do que alguém que pudesse contribuir com algo de positivo, ser uma mais-valia. Quando estava submergida em tais pensamentos o tempo como que se prolongava, parecia infindável o caudal de pensamentos, servindo estes de alimento para a dor que aflorava na sua pele, um desconforto latente que a acompanhava. Mas como ela era persistente, como estava comprometida a não vacilar desta vez, ela sentia que era a sua derradeira oportunidade, se não falhasse agora, seria o fim da sua estória. Não teria como continuar, as forças esgotariam nesta sua última tentativa, ela via este processo como a única via para a sua salvação. Assim ela continuaria a tentar, procurava se distanciar dos pensamentos mergulhando nos afazeres diários, conseguindo desse modo desviar a sua atenção do turbilhão de pensamentos negativos que a assolavam.
E de facto quando estava compenetrada nos seus trabalhos artesanais como que um silêncio a inundava, a sua atenção estava dedicada a cada pormenor da tarefa de criação de mais uma peça e nada mais parecia existir para ela. Foi então que num desses momentos se deu um click, ela tomou consciência que de facto os pensamentos não eram quem ela era, os pensamentos ocorriam nela, de acordo com a atenção que lhes dedicava. A chave era a sua atenção, é esta que delimita a importância daquilo que ocorre. Se a atenção fosse para os pensamentos negativos, estes ganhavam mais vida e cresciam de forma imensurável e absorviam tudo ao seu redor. Por outro lado quando a sua atenção pousava numa tarefa agradável, como fazer as suas peças artesanais, ou mesmo em tarefas rotineiras como a lida da casa, uma leveza de espírito fazia-se notar e tudo parecia mais simples. O ar que respirava insinuava-se com mais fluidez.
Esta tomada de consciência constituiu um ponto de viragem para a Sara, ela sabia que não era mais refém dos seus pensamentos, que ela possuía a possibilidade de gerir os seus efeitos através da sua atenção. É a atenção que delimita o poder que ela estaria disposta a permitir que os pensamentos tivessem sobre ela. Os pensamentos continuam a surgir, isso ela não pode controlar, mas a relevância que eles tem, isso sim, ela sabia, agora, que podia controlar através da atenção que lhes dedicava.
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