Todos os momentos contam de igual modo quando estamos verdadeiramente presentes para a realidade tal como ela é. De verdade enquanto humanos não possuímos a capacidade de percecionar a realidade tal como ela é, porque as vestes limitadas em que nos movimentamos não o permitem. No entanto aquilo que nos é possível é muito mais relevante do que entender a realidade tal como ela é. Em vez de tentar entender podemos nos permitir vivê-la plenamente. Abertos a todas as sensações e emoções que surgem em nós e através de nós. Tudo isso é parte de quem somos. As limitações que nos revestem enquanto humanos são o elemento necessário a uma submersão total num esquecimento da essência por forma a viver o esplendor de despertar para a sua existência. Só esquecendo quem somos de facto poderemos ter o prazer sublime de relembrar quem somos em essência e até que isso ocorra, o mais relevante é o processo de ai chegar. É o caminho que fazemos para relembrar que é essencial e não o resultado final. A essência é perfeita assim como é, sem mais, e a única forma que tem para se experienciar, resulta da sua fragmentação em pequenos pedaços que possam interagir entre si, numa grande aventura de relembrar quem são de verdade.
Esta certeza de que tudo está bem assim como é, resulta da totalidade do Ser, da essência, que é imutável, intemporal. Cada fragmento da essência conhece-se a si mesmo, está incrustado no mais ínfimo pormenor da sua existência naquilo que é. Nenhum fragmento é dispensável, nenhum é melhor ou pior do que o outro. Todos sem exceção são parte do todo. Cada vida humana é um desses fragmentos. Tudo é experiência que conduz ao encontro do lugar de onde nunca se partiu.
Ricardo tinha a perfeita consciência da sua união com o todo, tinha a consciência que a realidade em que se percecionava era um espelho do seu interior. Um reflexo de tudo aquilo que vagueava em si e que sinalizava as experiências que lhe permitiriam maximizar as sensações do que é tomar a consciência de ser vida a ser vivida. De ser o observador do observado, sendo tudo isso e nada disso ao mesmo tempo. E a decisão que tinha tomado de despertar e elevar o seu nível de consciência contribuindo para que os outros possam fazer o mesmo. Ele tinha a consciência de que as pessoas que vinham ao seu encontro para que as ajudasse, estavam a contribuir para que ele se ajudasse a si próprio. Pois só podemos de facto cuidar da nossa relação com a vida que somos. A única pessoa que cada um de nós pode mudar somos nós mesmos, mas as mudanças que permitimos que ocorram em nós reverberam em múltiplos níveis e influenciam todos ao nosso redor e mesmo pessoas que nunca veremos ao longo desta experiência humana.
A vida humana é um processo de descoberta de quem somos de verdade, presente em cada reflexo que, momento a momento, está disponível para cada um de nós.
Ricardo já havia concluído que as suas batalhas contra a realidade resultaram sempre na vitória desta. Pois perdemos sempre que tentamos fazer com que aquilo que é como é, seja algo de diferente daquilo que é. É a nossa resistência àquilo que é que dá origem a tudo aquilo que classificamos como problemas, como obstáculos. E no final nada disso importa, pois ocorra o que ocorrer a nossa essência continua sendo perfeita, assim como é. Todas essas coisas, que tendemos a classificar como más, como problemáticas, servem como despertadores, agitadores daquilo que temos como garantido, por forma a que possamos agir ao encontro da verdade que habita em nós.
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