quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

#37 Reflexo

O nome que nos é atribuído quando nascemos torna-se uma espécie de marca "guarda-chuva" que engloba a narrativa completa desta personalidade que se vai construindo com o passar do tempo linear, como o conhecemos enquanto humanos. Esse nome é a cola aglutinadora de todas as experiências que vão ocorrendo em sucessiva catadupa. Mas se olharmos para lá do nome e toda a sua bagagem, seja o corpo que embala o nome, seja a mente que se ilude de dirigir os seus destinos. Se olharmos para lá dessas evidências mais imediatas aquilo que iremos encontrar é o vazio. Um grande nada, um imenso espaço livre pronto a ser vivido em cada uma das suas insignificantes experiências. As experiências são reais, são plenas de significado em si mesmas, mas não condicionam o que quer que seja a essência onde elas ocorrem. Elas confluem num jogo de interação entre diferentes nomes pavoneando os seus corpos, representando um papel limitado, mas sempre pronto a ser extinguido. Esse jogo do ego, das personalidades, encontra-se representado em diferentes maneiras igualmente adormecidas, só que umas estão adormecidas profundamente e vivem se expressando em piloto automático. Enquanto que outras se expressam numa ilusão com lapsos de despertar, vulgo seres espirituais evoluídos, que no entanto se perdem numa busca incessante pela iluminação permitido aos mais especiais. E conseguem a iludida experiência de iluminação em breves encontros que depois os condiciona perpétuamente a procurar iterar as condições que o permitiram sem no entanto, ou raramente, o alcançar.
E no entanto tudo aquilo que seja passível de ser buscado já se encontra na base de quem o procura. Apenas se torna invisível aos iludidos pelo jogo da busca, seja isso, mais felicidade, seja mais dinheiro, sucesso, melhores relações. Ou ser especial, ser espiritual, ser iluminado. Qualquer se seja o objetivo da busca, torna-se ele mesmo o maior obstáculo à realização daquilo que já é perfeito assim como é. E por ser perfeito, mesmo essa busca é perfeita, precisamente porque não pode encontrar o que nunca esteve perdido ou escondido, nem condicionar a essência onde ocorre. Tendo como finalidade única todas essas experiências tornar ciente a essência de si mesma, pois de outra forma não se poderia tornar conhecida de si mesma. Tal como uma faca não se pode cortar a si mesma, a essência só pela sua fragmentação em pequenos estilhaços se pode experienciar, ainda que parcialmente. Cada fragmento é importante e imprescindível, não pode ser descartado, não pode ser excluído, pois o todo é imutável. Sendo cada ser humano um fragmento dessa essência, ele é plenamente essa essência, não é menorizado por ser pedaço do todo, pois o todo está contido na parte. Pela parte se pode experienciar o todo. Num bailado de conceitos mera ilusão temporal que permite brincar com as palavras, com as sensações ao encontro de quem nunca partiu, de quem sempre esteve na casa de partida, onde se chega sempre para encontrar consolo e carinho libertador.

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