Os pensamentos sucedem-se em catadupa, num carrossel desgovernado que gira sem parar. Em silêncio permite-se observar. Sem gerar atrito, deixando o silêncio sorver a atenção. Desse modo os pensamentos como que perdem a vontade, uma vontade própria que os fazia ser o centro das atenções. Que os tornava nos limites percecionados da realidade, nada mais havia para lá deles e da sua importância. E no entanto, pouco a pouco, esse silêncio sereno, tomava o seu lugar. Um lugar que nunca deixara de ser o seu, uma presença que é anterior a todos os pensamentos e posterior a todos eles. O silêncio esse verdadeiro lugar do existir, um encontro com o absoluto, com a essência. Nada mais há para lá do absoluto, mesmo colecionando as migalhas das ideias soltas, mimetizadas nas palavras que se unem em busca de um sentido. E que sentido é esse afinal? Será que há um sentido? A vida experienciando-se a si mesma em cada momento. É esse o sentido, tudo o resto para lá disso é um mero desviar da atenção, que tem no entanto como fim último, retornar o seu lugar no sentido da vida. Nada se perde, nada é insignificante, nada é descartável. Tudo é vida.
A Sara tinha momentos em que se entregava ao silêncio que a habitava e ai, como que deixava de existir, a personalidade chamada Sara, esfumava-se nesse espaço ilimitado onde todas as manifestações ocorrem.
Esses momentos no entanto eram ainda escassos e de curta duração. Deixando um lastro de vontade de os repetir, de fazer com que se tornassem permanentes. Que fossem a regra e não a exceção. Seria isso possível para ela, era a dúvida que a sobressaltava.
Ela estava no entanto determinada a agir para que isso fosse possível, a tudo tentar sem abdicar da chance de se conhecer de verdade. De ser honesta consigo própria. De não abdicar, antes de tudo fazer, como tantas vezes no passado havia acontecido. Desta vez, seria diferente - dizia a si mesma - esta oportunidade não iria desperdiçar.
Estava convicta que, com a ajuda e orientação do Ricardo, tudo seria diferente, que desta vez era chegada a sua hora. De cuidar de si e tornar-se uma mais-valia para o mundo. Quanto mais não fosse para o seu mundo, aquele onde se movimentava todos os dias. Devia a si mesma esse esforço, esse investimento em si, por forma a que não se repetissem os erros passados, de colocar as vontades dos outros em primeiro lugar e ser depois descartada. Ela compreendia agora, que na verdade, era ela própria quem se descartava e que essas pessoas estavam apenas a espelhar essa negligência que ela se presenteava. Ainda que o fizesse de forma inconsciente, ela era a sua maior "inimiga". Sendo isso, em si mesmo, uma boa notícia porque tinha em mãos a possibilidade de mudar tudo isso e passar a ser de facto a sua maior aliada, nesta sua experiência humana.
Como primeira etapa a observação dos seus pensamentos, o dedicar a sua atenção plena ao que vagueava na sua mente. Era o seu foco de momento. Sendo isso mesmo o que ela fazia regularmente ao longo do seu dia. Procurando estar atenta aos pensamentos que emergiam na sua mente, o que lhe diziam eles. Sem no entanto se agarrar aos mesmos, apenas observando como surgiam, os efeitos que produziam no seu corpo e depois como partiam.
Ela sabia que tinha de praticar, pois rapidamente os pensamentos tomavam conta dela e esse espaço de silêncio era ocupado pela cacofonia ruidosa do bailado pensante dentro da sua mente. Tal como uma atleta através do treino, da prática continuada, ela sabia que seria capaz de conseguir ultrapassar este desafio do autoconhecimento.
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