A semana da Sara havia sido acometida de ansiedade esperando que chegasse depressa a sessão seguinte com o Ricardo, a chama da liberdade incendiava as suas entranhas, ela não queria esperar mais, queria ser livre. As amarras da servidão humana já não lhe serviam mais, o mero existir ficava muito aquém daquilo que era a sua vontade, daquilo que era o seu desejo. Agora que sabia que havia algo mais, que a vida que julgava existir era uma mera ilusão, aquilo que mais queria era largar as vestes de limitação e abrir as asas da liberdade do Ser e voar, voar para muito longe, sem parar, vagueando indefinidamente, saboreando a perfeição da vida, a simplicidade de uma vida plena e com significado. Ela continha em si a noção que tudo o que acontecera na sua vida tinha sido uma preparação para este momento, para este processo de se encontrar consigo mesma, de se conhecer de verdade, sem filtros, sem véus que iludissem a sua realidade. Sim, era isso que ela queria, dizer sim, sim, sim, sim, à vida que pulsava em si e que tocava ao seu coração, desde de dentro, para que se abrisse e permitisse a toda essa luz amorosa que a preenche, se expanda sem limites e ilumine o mundo, ilumine cada momento da sua vida e de todos aqueles que a rodeiam. Ela sentia que estava perto de se libertar, de deixar para trás de vez todas as amarguras, todos os sofrimentos, todas as desilusões. Tendo a certeza de que tudo teria valido a pena, se a permitisse se encontrar de verdade consigo mesma, se reencontrar com a sua essência. E por isso a espera era ansiosa, o tempo como que se arrastava tornando o desejo de liberdade maior, tendo já extravasado os limites do seu corpo e atingido um limite de não retorno, ela sabia que agora não havia volta a dar, que a direção era em frente, significasse isso o que significasse, ela estava preparada para abraçar as mudanças que fossem necessárias para conseguir ser livre de vez. Estava preparada para se livrar de todas as ideias, de todos os conceitos e se entregar ao que a vida tinha reservado para ela, ela não concebia a sua vida de outro modo, não podia retornar ao que era antes, não podia aceitar uma vida adormecida, resignada a ser mais uma que se limitava a fazer as coisas como sempre foram feitas, porque assim sempre tinha sido. Porque o preço que tinha pago era elevado e se tudo falhasse neste momento sabia que não poderia suportar tal dor, que se se enganasse de novo, se tudo aquilo que estava a passar fosse mais uma ilusão e não algo de genuíno, que ela não suportaria e teria de desaparecer, que tudo terminaria de uma forma ou de outra. Mas a sua intuição dizia-lhe que nada havia a recear, que estava no caminho certo, ainda que não soubesse que caminho era esse, qual o destino desse caminho, mas sentia que era por ai e que nenhuma duvida a iria desviar de o seguir. Essa certeza que por vezes vinha à superfície da sua atenção, era sustentada por uma sensação de paz, de harmonia, de algo que as palavras não conseguiam expressar na totalidade e por isso ela sabia que não podia estar enganada, que não podia ser uma mera ilusão.
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