O ambiente na sala era de uma paz e harmonia que a todos envolvia. Daniela sentia dentro de si que algo mudara, ainda que fosse cética relativamente ao que poderia esperar deste workshop, aquilo que sentia nesse momento era inegável, não o sabia descrever, mas a sensação era de uma leveza, de uma certeza que não podia descrer da sua veracidade, pois se tudo aquilo era um embuste, então ela escolhia ser enganada, escolhia permitir-se viver aquelas sensações, aqueles sentimentos que a perpassavam. As barreiras que havia erguido em si como forma de proteção face à vida, proteções essas que pudessem impedir que o sofrimento ocupa-se o seu centro, essas proteções caíram naquele momento, sentia que estava ali despida, sentia que a sua disponibilidade para se entregar era total e essa sensação era por seu lado desconcertante para ela. Como é que num workshop isso poderia ocorrer, como é que no meio de um pequeno grupo de pessoas que se havia junto de uma forma, para ela, casual poderia permitir que tal efeito em si fosse possível. Contudo ela ainda se interrogava da sua veracidade, da sua permanência, as duvidas assolavam a sua mente, pensamentos contraditórios emergiam para lhe levar a atenção, até que foi desperta desses pensamentos pelo som da voz de Ricardo. Que começou por dizer, a vida é simples, tudo é de uma simplicidade perfeita, aquilo que acreditamos que somos enquanto humanos é que complica aquilo que é simples. De uma forma geral tudo se resume, nesta ilusão, a uma escolha entre o medo e o amor, e a verdadeira ilusão é mesmo esta, a de que existe uma possível escolha entre algo que é uma ilusão, o medo e algo que é real, o amor. Quero ressalvar que este amor que falo não é o amor romântico, que normalmente associamos aos relacionamentos, mas sim a um amor fundamental, que é a nossa essência, um amor que é a origem e o término em si mesmo daquilo que é. Este amor não pode ser definido, as palavras que conhecemos não conseguem expressar a plenitude daquilo que é. O medo representa o esquecimento daquela que é a nossa essência de amor, o medo resulta de uma ideia de limitação que nos faz crer como sendo separados de tudo o resto, somos nós e os outros e este mundo em que vivemos é uma selva onde cada um de nós tem de lutar pela sua sobrevivência, onde tudo é escasso e apenas os mais fortes sobrevivem e todos os outros se submetem ao seu jugo.Viver condicionados pelo medo cansa muito, é desgastante, lutar contra a ilusão num lugar onde ela não pode ser combatida e que é fora de ti. Todas as mudanças que procuram para as vossas vidas, a simplificação que aqui vieram procurar, só poderá ser alcançada dentro de vós. Ricardo fez uma pequena pausa, respirando fundo, sentindo a atenção daquelas pessoas e continuou de seguida dizendo, a verdade última que irão recordar, quando para isso estiverem preparados, é que nada há a mudar, que são perfeitos assim como são, quando se lembram de quem são de verdade. De seguinte é colocada uma questão, se tudo é perfeito, então o que vimos cá fazer, qual é a utilidade da vida humana? Ao que Ricardo respondeu, a vida humana é em si mesma uma manifestação da vida a ser vivida por si mesma, é vida a experienciar-se a si mesma, nada do que acontece é desperdício, tudo é aprendizagem, tudo é experiência. Daniela de seguida comenta, e todas aquelas situações más que acontecem, todas as catástrofes, a violência que grassa um pouco por todo o mundo, será isso perfeição também, questionou. A resposta mais simples, é sim também isso é perfeito, respondeu Ricardo, e porquê que é perfeito, porque é o que acontece, a realidade tem sempre razão, é a nossa relação com a realidade que a torna como boa ou má. Significa isto que quando vemos algo acontecer que julgamos como errado e que podendo fazer alguma coisa, não o façamos, que cruzemos os braços e sejamos indiferentes? Não, porque se acontece na nossa realidade e somos impelidos a agir, podendo fazê-lo, então devemos fazê-lo. Mas a linha está aqui mesmo, há assuntos que são da nossa responsabilidade lidar com eles e devemos fazê-lo, e existem outros assuntos que são responsabilidade de Deus se quiserem, ou então outro nome qualquer, que seja confortável para vocês usarem como vida, universo, energia, ou outro qualquer. Estando presente para aquilo que somos teremos o discernimento de distinguir as situações que somos responsáveis por lidar e as que não são da nossa responsabilidade e estas devemos aceitar que serão cuidadas por quem de direito e o que ocorrer será perfeito que ocorra.
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