Era chegado o dia da primeira sessão da Sara com o Ricardo, este dia era embebido de ansiedade por parte dela, um desejo de que finalmente teria as respostas que procurava, um desejo de terminar essa longa luta contra aquilo que tinha sido a sua realidade até então. Ainda que olhando para trás já tenha vindo de muito longe, poderia dizer que era outra pessoa aquela que se encaminhava para o encontro com a verdade, como ela gostava de apelar a esta sessão com o Ricardo;e no entanto sendo, na sua ótica uma melhor pessoa, muito ainda havia a responder, muita insatisfação ainda grassava dentro de si e na sua realidade. Chegando ao local agendado encontrou uma pequena casa, muito bem conservada, com um pequeno jardim na sua frente esmerado na sua apresentação, aquele lugar por si só dava uma sensação de calma, ou seria apenas a ideia de reencontro com Ricardo que lhe trazia esse efeito, ela não sabia bem distinguir uma da outra. Tocando à campainha, foi de seguida recebida à porta pelo próprio Ricardo, que a convidou a entrar em sua casa, o local onde recebia as pessoas que o procuravam e seguiram para a sua sala de atendimento, a decoração da casa era muito simples, despojada de ornamentos e no entanto a sensação que ela recebia era de uma casa cheia, uma casa plena, era a atmosfera que se respirava que lhe dava essa sensação, uma harmonia que se fazia ouvir na pele, que cariciava a alma. Entrando na sua sala de atendimento foi convidada a sentar-se, ficando frente a frente com ele. Começando por fazer uma longa inspiração, seguido de igual expiração, olhando-a nos olhos, perguntou "em que a posso ajudar?" ao que ela respondeu " quero que me ajude a conhecer a verdade, a conhecer quem sou, tenho muitas duvidas que precisam de resposta por forma a encontrar a paz que tenho perseguido ao longo dos últimos anos, quero encontrar o amor que tem fugido de mim, que me tem desprezado, no fundo só quero o que todos querem, e que é ser feliz." Ricardo começou por perguntar o nome dela e de seguida respondeu, " sabe Sara, vou desapontá-la, pois de facto eu não tenho respostas para lhe dar, o que quer que eu possa responder fica muito aquém daquilo que já sabe, pois de facto já possui todas as respostas que procura e se lhe parece que não as tem isso resulta de as procurar nos lugares desadequados, tem procurado fora de si, e no entanto descuidou do único lugar onde as pode encontrar e esse lugar é dentro de si. Aquilo que eu posso fazer por si é apontar-lhe o caminho, posso até caminhar a seu lado, mas não posso de todo fazer o caminho por si. Isto é assim para a Sara e para qualquer outra pessoa, ninguém pode viver a sua vida por si, apenas a Sara a pode viver. Irá, como de certo já aconteceu na sua vida, encontrar pessoas que lhe dizem aquilo que é o melhor para si, que lhe dizem o que fazer e que tem muitas opiniões sobre o que fez e faz, mas no entanto ninguém vive por si. A vida que julgamos ser a nossa resulta num reflexo de tudo aquilo que borbulha dentro de nós, e essa confusão, essas duvidas resultam desse desacerto entre aquilo que é a realidade e aquilo que julga ser. Diga-me Sara o que não quer na sua vida neste momento?" Após um breve momento de silêncio ela respondeu, "não quero ser uma inútil, não quero viver sozinha sem o amor de outra pessoa ao meu lado, não quero viver na ignorância. Eu tenho lutado muito para ser alguém, só que não sou como as outras pessoas, já tentei ser como os outros, já tive relacionamentos que não deram em nada, por muito que me tornasse pequena para fazer sobressair o meu companheiro, vivendo em função das suas vontades, eles acabavam por partir, por me deixar, assim aconteceu com os meus dois primeiros, só no terceiro e meu último fui eu que me enchi, que decidi ser livre, que aquilo já não era mais para mim, que eu merecia mais e então parti em busca desse algo mais e no decurso dessa caminhada aqui estou, ainda procurando encontrar aquilo que julgo merecer. Será isso pedir muito?"
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