Joana tomou a palavra para dizer que sentia emoções diversas, se por um lado estava relutante em aceitar a situação, disse que o desconforto era evidente em si, que não tinha essa capacidade de ver uma imagem alargada da situação que tinha vivido, nem conseguia encontrar uma justificação para que a vida lhe tivesse dado um filho para o retirar dez anos depois, que desse modo em vez de despertar a vontade maior é de adormecer e nunca mais acordar, porque ser dilacerada como sentia que tinha sido, era forte de mais para que nela sobrasse espaço para outro assunto qualquer na sua realidade. E sim aceitava que pensar na perda do filho seria "vê-lo" morrer de cada vez que o pensava, mas era isso que lhe ia na alma, que definhava por cada momento de separação. Por outro lado as palavras do Ricardo e mais do que as palavras a energia que sentia, naquela sala, ela preferia apelida-la de amor, como que despertavam nela uma paz de espírito que não havia sentido até então, ainda que não percebesse muito bem porquê, sentia que efetivamente tudo é perfeito assim como é e que o seu filho estava bem e sentia dentro de si a sua existência, como que essa paz que lhe inundava o ser, lhe trouxesse de volta o seu filho, indo mais longe, a sensação que tinha era a de que ele nunca chegou a partir, apenas não reconhecia a sua presença dentro dela porque a dor falava mais alto e o seu ruído a impedia de o reconhecer. As palavras da Joana e a energia que emanava dela quando as proferia emocionaram todos os presentes. A Sara naquele momento teve a certeza que não poderia estar em nenhum outro lugar, senão aquele e que a emoção que a perpassava era o indicador mais fiel dessa certeza. Ela sentia uma conexão profunda com aquele ser que se abria perante aquele grupo de pessoas que não se conheciam, como se todos fossem um só organismo, que não houvesse separação entre eles, que os seus corpos fossem diferente partes de um mesmo todo.
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