Tudo aquilo que diz faz sentido, mas eu não estou preparada para mudar tudo, nem sei se quer, se desejo mudar tudo.Disse a Daniela, continuando de seguida, na verdade eu gosto de ser quem sou, apesar de todos os defeitos, gosto de ser quem sou, prefiro lidar com os defeitos que me reconheço do que me arriscar, procurando ser alguém melhor e nesse processo me perder, deixar de existir como me conheço. Não sei se aguentaria mergulhar assim dentro de mim, como diz, receio que o mais certo seria perder a senilidade, tornar-me numa indigente, insensível ao mundo ao meu redor. E isso eu não quero para mim.
Aquilo que sinto em relação ao que me diz, não só com as suas palavras, mas também com a sua linguagem corporal e energética, mostra-me um imenso medo.Observou Ricardo. E é esse medo que a condiciona a ser, ou a julgar ser, menos do que é de verdade, pois aquilo que poderia perder é apenas essa ideia de limitação que possui sobre si, é essa ideia de personalidade que aceitou e se habituou a crer como sendo quem é. E isso não ocorre apenas com a Daniela, isso ocorre, ainda que em diferente graus, com todos os humanos. A maior parte vive em piloto automático e nem se coloca essas questões que se está a colocar, eles sentem o medo, vivem condicionados por esse medo, mas não sabem nomear esse medo. Existem uma luta constante e desgastante para tentar ser algo que não são, para manter a aparência de separação, de individuação, como se aquilo que cada um é nada tocasse no que os outros são, como se aquilo que julgam ser, como se os seus pensamentos pudessem ser privados e mais ninguém os conhecesse. É essa ideia de limitação, o ego, que se faz perpetuar através medo, delimitando a vivência experienciada ao que é habitual, ao que podemos chamar de zona de conforto. É mais confortável acreditarmos que somos este corpo e a personalidade que habitualmente, desde que temos noção de nós, fomos educados a ser. Aceitamos ser esse personagem com um nome que nos foi dado e nunca questionamos, porque sempre foi assim, já os nossos pais passaram por isso e os pais deles e os pais destes. Os poucos que ousaram questionar foram ostracizados pelas sociedade, vistos como parias, como alienados, porque a imensa maioria não estava preparada, para ver de verdade, para conhecer a verdade que está para lá do ilusório aparente imediato; é mais confortável fazer o que sempre foi feito, sem questionar do que arriscar no desconhecido. Contudo este workshop visa a simplificação, esta explicação que dei levaria um rumo mais além do que é pretendido aqui e no entanto foi dito aquilo que tinha de ser dito neste momento, servindo como um despertar para ir mais além, é algo que cada um de vós aqui presente irás escolher fazer, ou não, quando estiver preparado para tal. Porque como vos disse a vida é simples e assim sendo perfeita, só nos presenteia com aquilo que podemos suportar em cada momento e para o qual temos todos os recursos para lidar, por muito difícil que nos pareça a situação. Não esperem levar daqui todas as respostas às vossas duvidas, elas surgirão quando for o momento ideal para cada um de vós, porque na verdade já possuem essas respostas, ou dito de uma outra forma, a duvida nunca existiu, apenas uma ilusão de duvida aparentou existir. Após uma meditação e mais alguns esclarecimentos Ricardo deu por terminado o workshop, sendo visível que aquelas pessoas que haviam iniciado o workshop não eram as mesmas que agora emergiam dele.
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