sexta-feira, 27 de setembro de 2013

#7 Reflexo

A Sara encetaria a sua jornada em busca das respostas às suas duvidas, procurava uma apaziguamento com a sua identidade, com a sua realidade, ela não se conformava mais com aquilo que a vida lhe havia dado até então, julgava-se merecedora de saber mais, pelo menos de conhecer os porquês de todas as dificuldades, porque tudo lhe parecia demasiado difícil de alcançar, porque teria o sofrimento de a acompanhar no seu quotidiano. Nada na sua vida parecia resultar,a nível profissional não encontrará ainda o seu rumo, não se revia na normalidade aceite como factual, de ter de trabalhar apenas para pagar as contas; interrogava-se qual o sentido de desperdiçar uma vida humana fazendo uma tarefa por obrigação com vista a prover as despesas que haviam sido incutidas pelo desenrolar autómato de uma sociedade desprovida de sentido.As pessoas sacrificam a sua saúde em prole de um suposto futuro melhor, em prole de uma velhice a salvo de qualquer sobressalto, esperando que ai chegados pudessem gozar um pouco a vida, e no entanto desgastavam-se irremediavelmente e quando chegam a essa idade dourada, as condições para usufruírem desse bem estar retemperador, raramente ocorrem.. Ela lembra-se dos diálogos tidos vezes sem conta com a sua mãe, chamando-a à atenção de que teria de fazer algo na vida, teria de ter um emprego, como todos os demais.Dizia-lhe a mãe, filha o que será de ti, assim sozinha e sem emprego, sabes bem que eu e o teu pai já não vamos para novos, não te poderemos ajudar para sempre, não temos heranças para te deixar, como será a tua vida; Se ao menos te casasses, sempre terias quem te pudesse ajudar, poder-se-iam confortar um ao outro e cuidarem da vossa vida; Assim fico preocupada por ti filha, vê bem que todas as tuas amigas já são casadas e tem filhos, umas tem os seus empregos ou então os seus maridos tem cargos importantes que as permitem dedicarem-se às suas crianças; É o que desejo para ti,filha, que resolvas a tua vida. A Sara já conhecia todos esses argumentos, eram-lhe relembrados vezes sem conta e no entanto ela pensava para si, não foi por falta de tentativas, pois os três relacionamentos sérios que teve até à data terminaram todos de modo semelhante, com ela sendo vítima da subjugação do outro, ela considerava que não estava a viver por si, mas apenas em função do outro, achava que perdia a sua personalidade no meio da relação; no início tudo corria às mil maravilhas, tudo era cor-de-rosa, o companheiro era a sua cara metade, a pessoa que a fazia sentir-se completa, sentir-se plena e no entanto passado algum tempo como que um véu caía e a realidade se modificava, onde antes tudo era perfeito agora surgiam os defeitos, desde pequenas coisas como simples gestos, ou expressões ganhavam um peso que impediam de ver o outro como a sua cara metade e tornavam o relacionamentos cada vez mais penoso, entrava-se na fase do "tu mudaste, no início não eras assim" e as desavenças vão-se avolumando, as brechas aumentando até se tornarem intransponíveis. E ai os relacionamentos terminavam, os dois primeiros por iniciativa deles,neste último por sua iniciativa.Isso acontecia como que a dar razão ao que a mãe lhe dizia desde nova, que os homens não são de confiar, que eles são uns egoístas, que o que eles querem é uma mulher para ser empregada deles, que só fazem o que querem. 

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