Todos os momentos são iguais excepto quando não o são, aquilo que os diferencia é a perceção que tenho deles, os momentos continuam a ser iguais, eu é que os vejo de forma diferente, é que os sinto de forma diferente. A vida que julgo ser a minha é uma mera coleção de julgamentos, julgamentos sobre o que acontece ao meu redor e que eu achava nada ter a ver comigo e digo achava porque já não penso assim, sei agora que tudo é uma mera projeção do meu interior, um espelho do turbilhão de pensamentos que pululam na minha mente; ao despertar comecei a relembrar quem sou de verdade e essa verdade diz--me que este sou é em si mesmo uma ilusão; é mais um pensamento, é parte de uma família de pensamentos que se tornaram hábitos, que se foram repetindo e que criaram esta ilusão de personalidade, que se limita, que se aconchega num corpo sob o comando de uma mente. A lembrança começou através da observação, uma observação em silêncio, um silêncio interior, pois o ruído mais pernicioso para o ser humano é aquele que se ouve apenas dentro da sua mente, é esse ruído que o ilude, que o afasta de quem é de verdade, que o mantém distraído; um ruído que o aprisiona a limites de pequenez que o fazem crer como incompleto e quando essa crença de incompletude se estabelece, o faz entrar num ciclo de procura incessante pela parte que lhe falta. Essas faltas nunca são verdadeiramente preenchidas, pois há sempre algo de novo que surge na sua atenção para o desviar da sua essência e num ciclo incessante tudo começa de novo, uma busca por mais e mais, até que o fim chega, até que o corpo, já desgastado, desiste de procurar mais, desiste de viver, mas não o diz a ninguém, apenas se apaga, apenas diz basta, quero descansar. E aquilo que nunca começou termina, num enrugado de ilusões vibrando ao sabor da vida.
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