Sara refletindo.Olho à minha volta e aquilo que vejo, aquilo que nos acostumamos a chamar de vida, acontece; as pessoas andam de um lado para o outro, perdidas nos seus pensamentos, representando o seu papel de marionetas numa sociedade desigual, numa sociedade separada de si mesma. Aqui é cada um por si, apenas os mais fortes sobrevivem, se evidenciam e subjugam os outros à sua vontade, cremos na escassez, a partilha só faz sentido se implicar um ganho superior de volta.Fomos ensinados a acreditar que ninguém dá nada a ninguém, que não há almoços grátis.Mas terá de ser assim? Resume-se a isto a nossa vida como seres humanos?Procurei sempre agradar aos outros e no entanto o resultado tem sido ficar sozinha.A culpa só pode estar em mim, que fiz de errado para que isso aconteça, quando olho à minha volta só encontro provas do meu fracasso.Não tenho uma família minha, aos 32 anos, começo a achar que vai ficando tarde para que isso venha a ocorrer. A nível profissional estou desenquadrada da normalidade, não tenho um emprego, nem sequer aquilo que chamam de trabalho; a maior parte das pessoas da minha idade ganham o seu dinheiro nos seus empregos e trabalhos, ainda que precários alguns deles, aquilo que recebem vai para pagarem casa, carro e alimentação,tentando juntar algum para a semana de férias;mas eu estou fora desse circuito, não sei qual o meu papel nesta sociedade. Estarei ficando louca?Sinto-me perdida, nada faz sentido, tudo me parece pequeno, tudo me parece limitado.Como se tivesse asas, mas estas tivessem presas, sem espaço para as abrir e voar.Será isto viver? A angustia que me envolve, que mergulha nas minhas entranhas, em cada pedaço de mim.Será isto vida?Tem de haver algo mais, recuso-me a aceitar que seja apenas isto, que todo este processo, desde o nascer ao morrer, se limite apenas a isto. Que sentido faz viver numa espécie de piloto automático, em que é esperado que tenhamos todos o mesmo tipo de percurso.A cada duvida assomavam mais duvidas, mais perguntas e as respostas não surgiam. Sara queria viver, queria saber mais.
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