A insatisfação era uma constante nela, nada era o suficiente, onde quer que fosse, com quer que estivesse, algo lhe faltava. Só lhe apetecia estar onde não estava, tendo o que não tinha e tudo o resto estava sendo quase insuportável.
Algo teria de mudar em breve pois não sabia quanto mais poderia aguentar. As suas relações de amizade, familiares e profissionais estavam a ressentir-se de tal situação.
Ela mesma não se tinha como boa companhia quanto mais as outras pessoas que se estavam a afastar cada vez mais dela. Não sabia o que fazer, não sabia como se comportar na sua própria pele, esta como que a queimava de tão colada estar a tal insatisfação.
Não aguentava mais, decidiu desistir e no entanto pôr fim à vida não era uma opção, nunca foi, pois esta era demasiado valiosa para deixar de a viver. Isso ela tinha como certeza que a vida era para ser vivida, fosse como fosse.
Prostrou-se perante a vida, entregou por completo a esse algo superior, que acreditava existir, ainda que não estivesse confortável a nomear esse algo superior, ela acreditava que existia. Deixou de resistir ao que sentia, deixou que o desconforto viesse à superfície em pleno, que tivesse o palco todo para se manifestar.
Fazendo isso, qual não foi a sua surpresa quando tomou consciência que aquilo que antes parecia tão insuportável, afinal era suportável, ela estava a suportá-lo e o que se seguiu foi que em vez de aumentar de intensidade, essa insatisfação foi perdendo presença nela, não que ela tivesse feito nada para isso, apenas lhe cedeu espaço para bailar na sua atenção.
Quando partiu a insatisfação aquilo que restou foi uma serenidade, uma sensação de leveza, de verdade nada havia mudado na sua realidade, as pessoas, os lugares continuavam a ser os mesmos e no entanto a forma como isso a impactava era agora muito diferente.
Continuou entregue ao fluxo da vida, ao sabor do que esta lhe dava e como isso era o bastante, e como isso a deixava em paz com a sua pele, com o seu sentir.
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