segunda-feira, 17 de março de 2014

#62 Reflexo

Após mais uma sessão com o Ricardo onde a Sara expressou todas as mudanças que havia experienciado em si. Onde ela descreveu como se sentia uma nova pessoa, como achava que os olhos que viam a realidade em que estava inserida não eram os mesmos que viam a realidade anterior ao início deste seu processo de descoberta pessoal. Desta aventura pelos vales interiores da personalidade que julgava ser a sua. Desbravando caminhos inconscientes e que lhe permitiram aceder  a dimensões diferentes sobre quem ela é e sobre o seu papel, naquilo a que chamamos de vida humana.
Ela partilhou que tinha momentos onde as dúvidas cessavam, onde a plenitude daquilo que ela é, em essência, se tornavam conscientes em si. Sendo no entanto, ainda de breve duração. No entanto uma serenidade começava a estar cada vez mais presente em si e de algum modo ela sentia que também já se fazia reflectir na sua realidade externa, quer nas pessoas com quem lidava diariamente, quer nos ambientes em que ela se movimentava. Mesmo as peças artesanais que fazia parecia que tinham mais procura, uma maior aceitação pelas pessoas que as viam.
Após esta descrição o Ricardo disse-lhe "na verdade aquilo que mudou foi o modo como a Sara passou a lidar e a percecionar com todas essas situações que descreveu. Mudando a forma como vê as coisas ao seu redor, essas coisas mudam para si. E no entanto elas continuam sendo como sempre foram. Mesmo aquelas pessoas que aparentam ter comportamentos diferentes connosco, elas continuam a ser como sempre foram. O que ocorre é que a nossa mudança pode despertar um contacto dessas pessoas com aspectos seus que estavam dormentes, inconscientes nelas e que ao estarem em contacto com a nossa nova perceção, o nosso nível de consciência, faça tornar ciente nelas aquilo que já lá existia em potência. Relembro aquilo que já lhe havia dito, a essência é perfeita assim como é, ela é plena, logo nada tem a mudar. E nós somos isso. No entanto aquilo que nos habituamos a crer ser, é uma ideia limitada daquilo que somos em essência. E essa ideia limitada, o ego, esse sim pode mudar. Esse sim é passível de mudar, na verdade a mudança é a única constante de um ser humano. Desde que nasce até que termina a sua experiência humana, a mudança está sempre presente. O corpo que tanto prezamos passa por inúmeras mudanças ao longo dos anos de vida."
Após um momento de silêncio partilhado pelo olhar, Ricardo continuo dizendo " Aquilo que já atingiu com o seu nível de consciência mais amplo, com o elevar desse nível, não significa um fim de linha. Não representa um fim de processo, mas sim um começo de algo de novo para si enquanto ser humano. Ou seja, o que lhe quero dizer é que a sua realidade continua a acontecer de igual modo, as contas para pagar continuam a existir, as pessoas que lhe são próximas continuam a existir, os momentos de desafio, os momentos de tristeza, de alegria, continuam a existir. A vida em pleno continua a existir, aquilo que vai mudando é a sua relação com a sua realidade. Aquilo que antes era visto como sendo fulcral, como sendo definitivo para a pessoa que acreditava ser, é que perde esse estatuto. Quanto mais consciente da sua verdadeira natureza, mais recetiva está ao que quer que a vida lhe presenteie sabendo que nada do que ocorra belisca o que quer que seja a sua essência. Passa a desfrutar da realidade como ela é e cada vez mais ciente da sua conexão com o todo, com todas as pessoas que existem e que entram em contacto consigo, mesmo pessoas que não conhece de lado nenhum, beneficiam dessa sua nova consciência, precisamente devido a essa ligação ao todo, à unicidade."
" Sim, aquilo que acabou de descrever faz todo o sentido para mim. Sinto que já mudou muita coisa em mim, mas que ainda estou apenas a levantar uma ponta do véu. No entanto como lhe descrevi esta serenidade está cada vez mais presente em mim, como que num estado latente e por vezes mais presente, e uma confiança surge em mim de que aconteça o que acontecer, tudo está bem. Quando antes à mais pequena contrariedade um turbilhão de pensamentos inundava a minha mente e como que ficava paralisada, assoberbada por esses pensamentos e tudo ficava condicionado por esse estado de espírito. Agora sinto-me mais leve, mais livre, mais positiva perante a vida, mesmo nos momentos que antes imediatamente faziam disparar os meus alarmes, como por exemplo os comentários da minha mãe. Na semana passada quando estávamos a almoçar e ela veio com os seus comentários do costume sobre assentar e criar família, o que aconteceu foi que eu me permiti ouvir aquilo que ela me dizia, sem julgar, sem rejeitar aquilo que ela me estava a dizer e com pensamentos críticos sobre ela, mas apenas ouvindo com atenção, olhando-a nos olhos. E pensando para mim como eu a amava e como sentia que ela me amava também, que ela queria o meu bem e que fazia apenas aquilo que ela achava ser o seu melhor de acordo com o seu nível de consciência. O resultado foi um almoço muito sereno, sem amuos, sem comentários desagradáveis. Este é um exemplo de alguns episódios que tem acontecido no meu dia-a-dia."
"Muito bem, e verá que esse tipo de situações serão mais frequentes, à medida que se for entregando ao presente como ele é. Na medida em que se aceitar plenamente em todas as suas dimensões, em todas as manifestações de vida que acontecem em si. Pois a Sara, tal como eu, é vida, esta não é algo que nos acontece por acaso, mas sim aquilo que somos na totalidade. Nada sendo excluído, nada sendo rejeitado."

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