O seu rosto anguloso permanecia quieto, enquanto os seus olhos deambulavam pelo rosto do Ricardo, sorvendo as suas palavras e deixando-se envolver nessa corrente de energia que tudo envolvia. Não sabia explicar as sensações que a perpassavam, o tempo como que se encontrava suspenso, sentia que vagueava entre os sons emitidos pela voz daquele ser sentado em frente a si. E a frase final trouxera-a ao presente.
"É algo que posso escolher agora?". Indagava a Sara. " Se dependesse apenas da minha escolha, então sem dúvidas é isso que quero... é o que mais quero. Mas julgo que não depende só de mim. Ou depende?"
"Depende só de si permitir-se relembrar quem é, pois de facto não pode deixar de o ser. Por muitos conceitos que inundem a sua atenção e se estabeleçam na sua mente. Nenhum deles atinge a essência. Essa ideia limitada de si, pode, se para isso estiver preparada e se fizer parte desta sua experiência humana, relembrar quem é de verdade. Aquilo que eu posso fazer é apenas apontar o caminho dentro de si. Sou um mero reflexo da sua essência indicando o caminho de regresso a casa. E fazendo esse caminho aquilo que descobrirá será que nunca deixou de estar em casa, apenas uma ilusão de separação fez crer que esteve longe, que esteve separada."
" O que preciso de fazer então para que possa relembrar quem sou de verdade? Relembrar esse caminho de regresso a casa?"
" E quem é que quer regressar a casa? Quem é essa pessoa?"
" Sou eu a Sara."
" Muito bem. Mostre-me onde está a Sara?"
Surpreendida com a questão que o Ricardo lhe colocou e fazendo uma expressão de que era óbvia a resposta apontou para ela mesma respondendo, "aqui, eu estou aqui!!"
" Isso é o corpo, quero que me mostre onde está a Sara."
Vendo a insistência na pergunta e num gesto automático apontou para a sua cabeça e disse, " está aqui na minha cabeça."
" Aí está a cabeça e dentro está o cérebro. Mas continuo sem ver a Sara. Consegue-me mostrar a Sara?"
" Para mim isto é a Sara, o meu corpo, o meu cérebro. É isto que é a Sara, de outra forma não sei como responder."
"Por um momento procure deixar de lado esses conceitos, essas ideias que tem sobre quem é. Sobre ser esse corpo e essa personalidade que se habituou ser a Sara. Imagine, por um momento e depois se quiser volte aos conceitos que tem arreigados sobre ser a Sara. Como é essa sensação de ser a Sara, sem esses conceitos. Será que há alguém a fazer de Sara, ou ela existe por si só sem esses conceitos. O que surge em si, deixe-se experienciar antes de responder."
Mergulhando no silêncio a Sara estava perscrutando essas sensações, esses conceitos dentro de si, procurando encontrar uma resposta ao desafio colocado. Poderia encontrar a Sara fora dos conceitos que sempre tivera como verdadeiros, como sendo quem era. Ela sabia que era mais do que apenas um corpo, tinha aprendido isso mesmo ao longo desta sua caminhada de autoconhecimento. Mas aquilo que lhe era pedido agora era diferente e isso deixava-a algo inconfortável.
"Julgo perceber a sua questão. Eu sei que somos mais que um corpo, somos espírito a viver uma experiência humana. Já li bastante sobre estes assuntos e para mim isso faz sentido que seja assim. Eu percebo intelectualmente tudo isso, mas de outra forma não consigo responder ao que me refere."Fazendo uma breve pausa, continuou dizendo, "E para ser sincera causa-me algum desconforto ao tentar deixar de lado os conceitos, como lhe chamou, relativamente a quem sou."
" Okay, observe esse desconforto. Procure apenas observar essas sensações que surgem, sem as julgar. Procure apenas observar. Existe alguém a sentir esse desconforto ou o desconforto aparece só por si? Veja o que surge, sem forçar uma resposta."
"Sinto desconforto, mas não sei explicar de que forma ele se manifesta em mim. Há algo que me diz que tudo isso faz sentido, eu percebo isso, parece-me lógico... óbvio até isso que me diz. Só que me permitir ir ao encontro disso, ver para lá daquilo que tenho como sendo quem sou. Isso não sei se sou capaz de o fazer."
"Muito bem e na verdade eu não estou a pedir que acredite naquilo que lhe estou a dizer. Não tenho intenção que some mais um conceito a todos aqueles que já possui. Aquilo que eu lhe estou a apontar é via experiência direta. Vou-lhe dar um exemplo. Imagine que não sabe o que é uma laranja. Se eu lhe falar de uma laranja, se lhe disser tudo o que há para saber de uma laranja, se a descrever, desde a sua textura, cor do sumo que possui, qual o seu sabor e todas as receitas possíveis de usar a laranja. A Sara poderá aprender tudo o que há para saber de uma laranja, intelectualmente saberá o que é uma laranja, crê que sabe e até poderá ensinar outras pessoas sobre o que é uma laranja. Estará no entanto apenas a papaguear aquilo que ouviu e leu. Só poderá conhecer o que é uma laranja após comer uma laranja, só através da experiência direta saberá o que é para si uma laranja. E é isso que lhe estou a propor, é a isso que lhe estou a apontar. Conhecer quem é de verdade através da experiência direta e não apenas intelectualmente, apenas baseado em teoria. Esta pode ser muito útil, como preparação, mas não substitui a vivência do real."
"É algo que posso escolher agora?". Indagava a Sara. " Se dependesse apenas da minha escolha, então sem dúvidas é isso que quero... é o que mais quero. Mas julgo que não depende só de mim. Ou depende?"
"Depende só de si permitir-se relembrar quem é, pois de facto não pode deixar de o ser. Por muitos conceitos que inundem a sua atenção e se estabeleçam na sua mente. Nenhum deles atinge a essência. Essa ideia limitada de si, pode, se para isso estiver preparada e se fizer parte desta sua experiência humana, relembrar quem é de verdade. Aquilo que eu posso fazer é apenas apontar o caminho dentro de si. Sou um mero reflexo da sua essência indicando o caminho de regresso a casa. E fazendo esse caminho aquilo que descobrirá será que nunca deixou de estar em casa, apenas uma ilusão de separação fez crer que esteve longe, que esteve separada."
" O que preciso de fazer então para que possa relembrar quem sou de verdade? Relembrar esse caminho de regresso a casa?"
" E quem é que quer regressar a casa? Quem é essa pessoa?"
" Sou eu a Sara."
" Muito bem. Mostre-me onde está a Sara?"
Surpreendida com a questão que o Ricardo lhe colocou e fazendo uma expressão de que era óbvia a resposta apontou para ela mesma respondendo, "aqui, eu estou aqui!!"
" Isso é o corpo, quero que me mostre onde está a Sara."
Vendo a insistência na pergunta e num gesto automático apontou para a sua cabeça e disse, " está aqui na minha cabeça."
" Aí está a cabeça e dentro está o cérebro. Mas continuo sem ver a Sara. Consegue-me mostrar a Sara?"
" Para mim isto é a Sara, o meu corpo, o meu cérebro. É isto que é a Sara, de outra forma não sei como responder."
"Por um momento procure deixar de lado esses conceitos, essas ideias que tem sobre quem é. Sobre ser esse corpo e essa personalidade que se habituou ser a Sara. Imagine, por um momento e depois se quiser volte aos conceitos que tem arreigados sobre ser a Sara. Como é essa sensação de ser a Sara, sem esses conceitos. Será que há alguém a fazer de Sara, ou ela existe por si só sem esses conceitos. O que surge em si, deixe-se experienciar antes de responder."
Mergulhando no silêncio a Sara estava perscrutando essas sensações, esses conceitos dentro de si, procurando encontrar uma resposta ao desafio colocado. Poderia encontrar a Sara fora dos conceitos que sempre tivera como verdadeiros, como sendo quem era. Ela sabia que era mais do que apenas um corpo, tinha aprendido isso mesmo ao longo desta sua caminhada de autoconhecimento. Mas aquilo que lhe era pedido agora era diferente e isso deixava-a algo inconfortável.
"Julgo perceber a sua questão. Eu sei que somos mais que um corpo, somos espírito a viver uma experiência humana. Já li bastante sobre estes assuntos e para mim isso faz sentido que seja assim. Eu percebo intelectualmente tudo isso, mas de outra forma não consigo responder ao que me refere."Fazendo uma breve pausa, continuou dizendo, "E para ser sincera causa-me algum desconforto ao tentar deixar de lado os conceitos, como lhe chamou, relativamente a quem sou."
" Okay, observe esse desconforto. Procure apenas observar essas sensações que surgem, sem as julgar. Procure apenas observar. Existe alguém a sentir esse desconforto ou o desconforto aparece só por si? Veja o que surge, sem forçar uma resposta."
"Sinto desconforto, mas não sei explicar de que forma ele se manifesta em mim. Há algo que me diz que tudo isso faz sentido, eu percebo isso, parece-me lógico... óbvio até isso que me diz. Só que me permitir ir ao encontro disso, ver para lá daquilo que tenho como sendo quem sou. Isso não sei se sou capaz de o fazer."
"Muito bem e na verdade eu não estou a pedir que acredite naquilo que lhe estou a dizer. Não tenho intenção que some mais um conceito a todos aqueles que já possui. Aquilo que eu lhe estou a apontar é via experiência direta. Vou-lhe dar um exemplo. Imagine que não sabe o que é uma laranja. Se eu lhe falar de uma laranja, se lhe disser tudo o que há para saber de uma laranja, se a descrever, desde a sua textura, cor do sumo que possui, qual o seu sabor e todas as receitas possíveis de usar a laranja. A Sara poderá aprender tudo o que há para saber de uma laranja, intelectualmente saberá o que é uma laranja, crê que sabe e até poderá ensinar outras pessoas sobre o que é uma laranja. Estará no entanto apenas a papaguear aquilo que ouviu e leu. Só poderá conhecer o que é uma laranja após comer uma laranja, só através da experiência direta saberá o que é para si uma laranja. E é isso que lhe estou a propor, é a isso que lhe estou a apontar. Conhecer quem é de verdade através da experiência direta e não apenas intelectualmente, apenas baseado em teoria. Esta pode ser muito útil, como preparação, mas não substitui a vivência do real."
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