ouvem-se passos apressados, depois o estrondo de uma porta a bater.
faz-se silêncio durante uns segundos e então eleva-se no ar um soluçar sôfrego e um choro compulsivo, intercalado por objectos a cair. isto dura alguns minutos, não sei dizer quantos ao certo, talvez 5. depois a quietude expande-se tomando conta de todo o espaço.
estava eu a descansar e novamente sou interrompido, desta vez é um cão a ladrar.
e como ladra este cão, mas não se limita a ladrar parece que está a saltar e a arranhar uma porta de forma furiosa, porque é bastante audível. de repente uma pancada é percéptivel seguida de um ganido e por fim volta o silêncio.
mas é por pouco tempo, desta vez são gemidos que penetram, e aqui a expressão até é feliz, o éter. estes gemidos tem algo de sinfónico, parece que seguem uma cadência tipo cavalo a trote. bom o cavalo terá soltado as rédeas e a cama estará a pagar as culpas, pois bate furiosamente contra a parede. por fim um grito intenso terá sido a meta desta cavalgadura desenfreada.
volta o sossêgo.
é sol de pouca dura, não sei o que se passa hoje para estes lados. será da lua cheia? ou também é da crise. o certo é que algum iluminado ligou a sua aparelhagem de música e está a debitar décibeis para toda a visinhança ouvir. e não discuto gostos musicais, mas o género popular a esta hora não é muito agradável.
o melhor é sair daqui, vou dar uma volta pelo bairro. este condominio hoje não está pelos ajustes.
fazer a minha meditação caminhada, embrenhar-me nos meus pensamentos e viajar pelos sentidos da minha alma.
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