Por mais sinuoso que seja o caminho se o estás a percorrer é o certo para ti, incluindo todas as dificuldades, todas as provações, seja o que for que faça parte do caminho é perfeito que assim seja. É o caminho que dá significado à tua vida e não meramente a meta do mesmo. Enquanto caminhas valoriza cada passo do teu caminhar, sente a planta dos teus pés calcorreando o chão que pisas, desde o mais macio ao mais agreste, tudo isso é parte do teu caminho.
Foram estas as palavras daquele Ser simples que a vida lhe havia presenteado que mudaram a vida dela, nada foi igual após estas palavras porque mais do que as palavras em si, foi as sensações que elas produziram nela, uma energia, que palavra alguma poderia descrever, banhou o seu ser e uma claridade assomou na sua mente.
Pela primeira vez deixou de se ver como uma vítima da sociedade, achando-se menos afortunada que os demais que faziam parte da sua vida, todos eles, segundo o seu julgamento, tinham uma vida mais estruturada, mais organizada enquanto a dela era um verdadeiro caos, sem rumo aparente, sem ninguém para a partilhar. Ela tinha-se como quase excluída da sociedade porque ainda não tinha família constituída, não tinha um emprego estável ou qualquer outra fonte de rendimento, enquanto que os demais pareciam ter tudo bem encaminhado com as suas moradias espaçosas, carros familiares e rendimentos a condizer.
Ainda que também achasse que essa deveria de ser também a sua condição atual, quer pela idade que tinha, quer pela educação que tivera até então, no fundo do seu ser sempre acreditou que algo mais importante, algo mais relevante seria o propósito da vida. Não tinha como fundamentar essa sensação interna, nem sequer tivera a coragem de a partilhar com ninguém receando o julgamento dos outros e que a tivessem como uma pária que não queria trabalhar, uma mera preguiçosa procurando desculpas para nada fazer.
Tudo isso era irrelevante agora, aquilo que era certo para ela é que nada aconteceu por acaso, o caminho que trilhou até aqui foi aquele que tinha de trilhar, sem tirar nem pôr, porque de facto foi esse que percorreu e das duas uma ou podia lamuriar-se, como até então, ou, como lhe parecia mais natural agora, reconhecer a perfeição do caminho percorrido que a havia preparado para a consciência que agora possuía de si e da realidade envolvente.
Significaria isso que todos os problemas haviam findado e tudo agora seria perfeito? Não, ela sabia que não era disso que se tratava. O caminho poderia continuar a ser sinuoso se isso fosse o melhor para ela, os escolhos da vida seriam chamadas de atenção para o essencial, para que olhasse para si em vez de procurar culpados que pudessem acarretar o peso da ignorância, era mais fácil culpar os outros do que olhar para dentro e enfrentar esse lado negro que todos temos. Mas agora seria diferente para ela, estava disposta a abraçar a vida por inteiro, fosse o que fosse que a vida lhe trouxesse, ela sabia que era para o seu bem, para a sua evolução.