sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

#59 Reflexo

Daniela estava decidida a viver de verdade a sua vida e não apenas uma versão limitada da mesma. Um versão condicionada pelo medo de perder o controle, de deixar de ser quem é, porque de verdade quem achava ser não é senão uma versão limitada daquilo que é em essência. Imbuída de uma nova perceção sobre si, tendo ao final de todas estas sessões com o Ricardo e todo o trabalho reflexivo que encetou em si resultado num elevar do seu nível de consciência. Ela tinha agora uma perspetiva diferente da sua realidade, onde antes via limites, via condicionantes, hoje ela sabe que nada a limita, nada a condiciona a não ser a sua relação com a realidade, a forma como ela interpreta essa realidade. Realidade essa que não existe fora dela, não existe separada daquilo que ela é.
Ela estava decidia a agregar cada pedaço de si, a não excluir nada. Tudo aquilo que ela via como o seu lado sombra, como algo que preferia não lidar, que preferia esquecer, era agora algo que iria olhar de frente por forma a integrar em si, na sua vida, por forma a deixar de ser prisioneira daquilo que procurava ignorar.
Havia decidido passar mais tempo com a sua irmã, aceitando-a como ela é, vivendo num mundo que era o dela e que a Daniela sabia que não tinha o direito de a mudar, de condicionar o seu mundo, mas sim aceitar essa realidade, aprender com ela através da forma como ainda mexia com ela e trabalhar em si, todas essas sensações, todas essas emoções. Pois aquilo que dependia apenas de si era a forma como escolhia lidar com essa situação. Em vez de a renegar como sempre tinha feito, com medo de perder a sua identidade, podia agora escolher de novo, e com uma nova consciência olhar para a situação tal como ela é e desse modo descobrir quem a irmã era de verdade e não como tinha desejado que fosse.
Assim como finalmente as amarras do medo se haviam levantado e podia agora imaginar na sua vida espaço para a existência de crianças, sem medo de que possam nascer com qualquer tipo de doenças, confiando que o que quer que seja será para o seu bem, será sempre pelo melhor. 
As dúvidas que a haviam atormentado e que a tinha feito adotar uma atitude que poderia ser vista pelo outros como de alguma sobranceria, era a forma que tinha encontrado para lidar com esse medo de perda de controle, de perda de indentidade. Para se resguardar ela havia recusado correr riscos, havia-se confinado à sua zona de conforto que pudesse controlar ainda que isso significasse recusar viver muitas experiências que vida lhe propunha. Mas essa fase tinha terminado agora ela sabia que podia abandonar a prisão do conhecido, deixar a sua zona de conforto e arriscar no desconhecido. Agora tinha confiança na vida que existe em si e todas as coisas que a rodeiam.
Um ano depois desta última consulta com o Ricardo ela vivia feliz os desafios que a vida lhe colocava e que por vezes a faziam sentir triste e momentos de incerteza, mas a única certeza que tinha era que estava preparada para lidar com o que quer que viesse. E foi isso mesmo que a fazia nesse momento amar e cuidar do seu filho recém nascido, porque ela sabia que não podia controlar tudo o que acontecia, mas podia desfrutar em pleno cada momento da vida,tal como ela é. Não sentira mais necessidade de saber mais sobre si, de se conhecer melhor, não tinha pretensões de evoluir a sua consciência. Estava decidida a abraçar a vida tal como ela se apresentasse, sem necessidade de saber os porquês, sem ter de perceber tudo. Apenas vivia o presente tal como ele era.

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